Família Rosa - uma coletânea

Reconstruir

Fit acordou no meio da noite, com o corpo ainda ferido da longa batalha da tarde - e o orgulho mais ferido ainda.

Daquela vez estava preparado, tinha poções de cura prontas para beber sempre que precisasse e totens da imortalidade para permanecer vivo, mas, mesmo assim, quase foi impossível permanecer vivo. Os dois brasileiros que estavam com ele tiveram uma tarde mais difícil ainda - foram mortos várias e várias vezes.

E, no fim, ainda perderam uma das vidas de Empanada.

O veterano bufou baixinho, passando a mão pelo rosto para afastar os pensamentos cíclicos. Sabia que ele, Bagi e Pac haviam feito tudo possível, e até o impossível naquela batalha, e agora precisavam focar os esforços em reconstruir o que fora destruído e descobrir uma maneira de manter todos os ovos vivos - independente de ter 1 ou 2 vidas.

Em hábito antigo, checou o comunicador para ver quem estava acordado. Não se surpreendeu ao ver Bad, provavelmente trabalhando no Ninho 2, mas um nome chamou sua atenção: Pac estava acordado àquela hora da madrugada.

Fit estranhou. O namorado costumava dormir cedo, assim como ele próprio, e quase nunca ficava até tão tarde. Considerando os eventos do dia, Fit decidiu que seria melhor mandar uma mensagem.

"Are you ok?" Digitou, já sentando na cama, completamente desperto.

"No :(" Pac respondeu na mesma hora, fazendo o guerreiro suspirar de raiva, sentindo-se imponente.

Abriu o mini mapa, logo localizando o brasileiro andando pelas areias de Copacabana, completamente arruinadas. Sem pensar duas vezes, sem nem piscar, Fit agarrou a waystone e se teleportou para o Shopping Center.

Desceu o morro com passos apressados, aproveitando para passar na praça ao lado do StarBobby para pegar novamente o tp que fora destruído, e então voltou a procurar pelo namorado.

Encontrou Pac parado à beira-mar, encarando uma enorme cratera feita pelos explosivos e bombas dos Vigilantes. O brasileiro estava sem o moletom, que fora arruinado durante a luta, o cabelo balançando fortemente com o vento.

Fit parou do lado dele, logo notando que o namorado estava com um rastro de lágrimas na bochecha, os braços apertados fortemente ao redor do corpo em uma tentativa de manter o calor corporal - com o mar congelado e o enorme boneco de neve, Copacabana estava bem fria naquela noite.

Fit não perguntou o que estava acontecendo, não perguntou como ele estava - sabia que Pac preferia processar as coisas em silêncio; então, apenas tirou a jaqueta de aviador que usava, colocando-a nos ombros no namorado.

— Here, take it.

— Thanks — Pac agradeceu, ainda olhando para a cratera, mas passando os braços para dentro da peça de roupa quente. Ele fechou o zíper, sentindo o cheiro do namorado encher suas narinas e o acalmar levemente. Finalmente, deu um sorriso e olhou para Fit. — Sorry, I was just... being dramatic, I think.

— Its not drama, Pac. — Fit segurou a mão dele com firmeza, também olhando para a destruição causada em apenas uma tarde. — You and Mike had a lot of work here, its normal to feel sad. I mean, I feel sad, can't imagine how you are feeling.

Pac apenas limitou-se a balançar a cabeça, abraçando o braço do namorado e apoiando a bochecha contra o bíceps dele.

— I was trying to sleep, but can't sleep right now knowing the Favela is such a mess. — Pac apontou para várias mochilas cheias de objetos apoiada mais para longe das crateras. — No matter how long it takes, Fit, Ill rebuild it. Maybe with help, maybe alone, I dont care. You know, they took away my nieces life, and I can't make anything about it, but Ill not let them took away my place too.

Fit assentiu solenemente para o namorado, guardando todas as palavras dele em seu coração. Sabia que Pac estava sofrendo e reconstruir aquele lugar era a maneira de tentar esquecer o que havia acontecido. O veterano inclinou-se para beijar o topo da cabeça do brasileiro.

— Ok, what you want me to do?

— What do you mean?

— Ill help you, Pac. Just tell me what to do: I can break ice, I can fix the craters, anything you want me to do. Just say where we start and Ill do it.

Pac abriu um sorriso, virando para abraçá-lo com força, tentando transmitir todo seu agradecimento em um simples gesto.

Fit não entendia nada de decoração, mas ele sabia muito bem arrumar buracos feitos por TNT e varrer blocos de neve. Pac ajeitou a água, destruiu o gelo e colocou decorações. Não conversaram mais nada durante o resto da noite. Fit estava ali por Pac, e o brasileiro não tinha como agradecer à ele, então apenas se olhavam e sorriam um para o outro de vez em quando. Não importa o quanto os Vigilantes quebrassem a ilha - se ainda tivessem um ao outro, poderiam reconstruir bloco por bloco.