Quando nos conhecemos

111 14 15
                                    


Tema 1: Talento oculto

*

Fit soube que havia encontrado o lugar certo logo ao bater os olhos na fachada da loja.

Bagi havia sido a responsável por dar a ele o endereço do local, e o fotógrafo realmente precisava se lembrar de comprar algo em agradecimento para a melhor amiga. O Richas Café era uma lojinha pitoresca no meio de dois prédios residenciais, com uma grande fachada em vidro por onde era possível ver o interior: as mesinhas redondas, as cadeiras estofadas em um azul celeste e o bar nos fundos, de frente para uma grande lousa preta onde o cardápio estava escrito a giz. Ele também conseguia ver uma portinhola decorada em um dos cantos, e sabia que era o acesso para o gatil.

Fit segurou a câmera com mais firmeza nas mãos, sentindo a ansiedade, tão comum, fazer cócegas em seu estômago.

Ele não conseguia ver nenhum funcionário, mas o café estava apinhado de pessoas, e uma fila estendia-se do lado direito da bancada, então certamente havia alguém ali para que ele pudesse fotografar, em mais um de seus trabalhos de fotografar funcionários locais de pequenos estabelecimentos na cidade.

Decidido, o fotógrafo adentrou no estabelecimento, fugindo do frio do inverno, e foi recebido pelo cheiro de pães e doces, pelo barulho baixo das conversas locais e, acima de tudo, por uma sinfonia de miados e sons de brinquedos com guizo sendo agitados. Um sorriso calmo e satisfeito preencheu o rosto do homem careca enquanto ele olhava ao redor; o local parecia saído de um livro de romance, com as mesinhas espaçadas, as paredes pintadas em um azul clarinho e decorações de gato por todo o lado – mas não era exagerado e nem cansava o olhar. Pelo contrário, Fit queria poder tirar fotos de tudo ao seu redor.

Ele olhou mais uma vez ao redor, agora procurando duas coisas em específico: um atendente que estivesse mais ou menos livre e os gatos do local. O primeiro, porque precisava de alguém para posar para as fotos e o segundo, pura e simplesmente porque Fit amava gatos, embora ele não tenha adotado mais nenhum desde quando seu gatinho Ramón morreu.

O café parecia estar apinhado de gente, mas, na realidade, era apenas porque havia um único funcionário trabalhando naquele dia: apenas uma pessoa para anotar os pedidos, preparar os cafés, servir as mesas e, sempre que alguém pagava, abrir o gatil para que a pessoa pudesse passar alguns minutos brincando com os gatos. Fit mordeu o lábio, apertando mais ainda a câmera nas mãos; não queria atrapalhar.

Decidiu sentar-se em uma das mesinhas vazias, esperando a oportunidade para poder pedir ao atendente uma foto ou outra no estabelecimento. Enquanto esperava o movimento baixar, o fotógrafo aproveitou para trabalhar um pouco nas fotos que havia feito alguns dias atrás, preparando o próximo post para o Instagram.

Ele trabalhava como fotógrafo autônomo, e dedicava metade da semana para fotografar estranhos na rua – começou como uma brincadeira, apenas seguindo uma trend famosa, mas acabou gerando mais resultados do que esperava; com o tempo, Fit encontrou seu próprio nicho e, em vez de fotografar qualquer estranho na rua, ele sempre procurava estabelecimentos pequenos e comandados por gente da cidade, a fim de divulgar mais ainda o comércio local. E, claro, sempre que podia, buscava pessoas diversas para fotografar, pois, por usar prótese, sabia a importância de se ver representado.

— Bom dia, lindo! — Uma voz melodiosa soou, carregada de sotaque, e a última palavra foi proferida em uma língua que Fit não tinha quase nenhum conhecimento - português. O fotógrafo sabia que haviam muitos brasileiros naquele lado da cidade, e, quando Bagi sugeriu um lugar, ele também imaginava que seria de alguém do grupinho que havia se mudado com ela, então não foi nenhuma surpresa ouvir o bartender falando uma ou outra palavra em outra língua. — Desculpa a demora, estamos com poucos funcionários hoje, mas minha colega acabou de chegar. No que posso te ajudar?

Em mais outros universos onde te encontreiWhere stories live. Discover now