Capítulo 23

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DIA 3


Já passava das dez da manhã quando Colin, inquieto, verificou o relógio na tela do celular mais uma vez. A ansiedade o consumia enquanto aguardava que Penélope despertasse. Sentado no sofá, seu olhar se voltava repetidamente para a bandeja repleta de comida, que repousava intocada na varanda. Se estivessem em bons termos, estariam naquele momento aconchegados um nos braços do outro, como sempre faziam em toda manhã preguiçosa; mas essa não era a realidade agora. Ele teve que se contentar em apenas observá-la dormindo, parecendo um anjo de semblante sereno, um contraste gritante com os últimos eventos.

No dia anterior, após desligar o telefone com Anthony, Colin ficou um tempo preso no quarto, tentando organizar a tempestade de pensamentos e sentimentos que o consumiam. As palavras de seu irmão ecoavam em sua mente, mas seus pensamentos sempre recorriam ao fato de tê-la magoado com aquela maldita história do detetive. Decidido a resolver ao menos este impasse, saiu pelo resort para procurá-la. Mas a sequência de desencontros frustrou qualquer tentativa de diálogo. Passou o dia inteiro vagando pela ilha — que, embora pequena, parecia um labirinto em sua busca desesperada por Penélope. Ela não estava com as garotas, tampouco no quarto deles ou delas, no spa ou em qualquer outro lugar do resort.

Quando o relógio marcou nove horas da noite, e ela ainda não havia retornado, atendido às suas chamadas ou dado qualquer sinal, a preocupação se transformou em uma angústia sufocante. Ao que, finalmente, a porta se abriu e Penélope entrou; sua aparência fez com que as emoções de Colin oscilassem entre o alívio e a raiva. O rosto levemente avermelhado pelo sol, o cabelo preso em uma trança solta, o chapéu de palha novo e o aroma de maresia, protetor solar e álcool exalando dela eram evidências do quão idiota ele tinha sido por se preocupar. Parte da raiva, mantida em uma frágil caixinha dentro dele, explodiu. O que deveria ter sido uma conversa civilizada rapidamente se tornou um monólogo furioso.

Penélope passou por ele como se ele fosse invisível, ignorando sua presença. Sem uma palavra, foi direto para o banheiro, e Colin ouviu a água do chuveiro correr enquanto ele lutava com sua frustração. Quando ela saiu, com um livro nas mãos, dirigiu-se diretamente à varanda, deixando claro que não tinha intenção de contribuir com qualquer conversa.

Ele a observou de longe, sentindo a dor de cabeça começando a latejar com a tensão, enquanto lutava mentalmente entre confrontá-la ou deixá-la em paz. Até que viu o livro escorregar de suas mãos e cair silenciosamente no chão. Penélope havia adormecido ali mesmo, na espreguiçadeira, como se o peso do dia finalmente a tivesse vencido.

Depois de alguns minutos de hesitação, Colin se aproximou devagar. Pegou o livro do chão, marcou a página ainda aberta e colocou sobre a outra espreguiçadeira. Com cuidado, ele a pegou nos braços, sentindo o calor do corpo dela contra o seu. "Por que tem que ser tão difícil?", sussurrou para si mesmo, mais como um desabafo do que uma pergunta real. Depositou-a na cama com tamanha delicadeza que Penélope nem ao menos percebeu, ajeitando os lençóis ao seu redor. Embora tudo em seu corpo clamasse para se deitar ao lado dela, depois de deixar um beijo entre seus cabelos, Colin, mais uma vez, optou por dormir no sofá.

Ao despertar, Penélope foi recebida por um perfume familiar. Fraco, quase imperceptível, mas o suficiente para trazer uma onda de saudade que a pegou desprevenida. O travesseiro que ela segurava entre os braços carregava o cheiro de Colin, e, por um instante, ela permaneceu ali, os olhos ainda semicerrados, absorvendo aquele pequeno conforto antes que a realidade voltasse a se instalar.

"Bom dia, Penélope", disse Colin ao pé do ouvido dela, causando um arrepio que reverberou por todo seu corpo.

Ela esperou que ele dissesse algo mais, talvez a tocasse ou ao menos provocasse, mas a lembrança do momento em que voltou para se desculpar e tentar uma reconciliação a atingiu em cheio. Colin estava ao telefone com Anthony, e ela não conseguiu fingir desinteresse; permaneceu atrás da porta, ouvindo cada palavra. Algumas aliviaram seu coração, enquanto outras a deixaram ainda mais confusa. Foi por isso que precisou de distância para pensar e decidir o que faria a seguir. Com um suspiro frustrado, ela se sentou na cama e, evitando seu olhar, levantou-se, passando por ele com um apressado 'bom dia'.

Eclipse | PolinOnde histórias criam vida. Descubra agora