DIA 4
Maldivas, 06 de março de 2024
Na manhã seguinte, uma brisa suave tocou o rosto de Penélope, enquanto o som de folhas de papel esvoaçando a despertava. Ela abriu os olhos lentamente e viu o sol despontando no leste, brilhante e vibrante, anunciando mais um dia de verão naquela ilha pequena e paradisíaca. O cansaço ainda pesava em suas pálpebras, e, sem conseguir mantê-las abertas por muito tempo, as fechou novamente. Suas mãos, quase por instinto, se moveram devagar, tentando reunir as folhas em que passara a noite escrevendo, detalhando cada nuance de sua história.
O término com Colin ainda estava sendo digerido - com muita dificuldade, diga-se de passagem -, preenchendo cada canto de sua alma com um vazio sufocante. Penélope levou alguns minutos até reunir coragem para se levantar, despertando aos poucos para a realidade ao perceber que adormecera na espreguiçadeira da varanda do quarto das meninas. Não com Colin - pela primeira vez em muitos dias -, nem mesmo no mesmo espaço que ele, pensou, sentindo uma centelha de raiva pulsar no fundo de seu coração. Seria mentira dizer que aquilo não a machucava ou, pior ainda, que não estava arrependida.
Penélope percorreu o chão com os dedos, até encontrar seu celular na superfície fria de madeira. O visor iluminou-se, revelando 6:53, sem mensagens ou ligações. Menos de dez horas longe dele, e a sensação de falta era tão intensa que o ar parecia escasso nos seus pulmões.
Aproveitando o silêncio do quarto enquanto as meninas ainda estavam entregues ao sono profundo, ela foi até o banheiro para um banho rápido; fingiu ignorar a visão da sua mala encostada no canto do quarto, como se fosse um detalhe irrelevante Colin ter tirado as coisas dela tão rapidamente do espaço dele. Contudo, ela estava ansiosa demais para que o dia se desenrolasse, embora tivesse a certeza de que acabaria em lágrimas e mais dor.
Escolheu um biquíni confortável, sem muito pensar, e voltou sua atenção para o montante de folhas agrupadas, agora jogadas no sofá. Organizar aquelas palavras, reler cada linha, pareceu um processo quase ritualístico, como se precisasse garantir que nenhuma emoção, nenhuma parte de sua alma derramada ali, tivesse sido esquecida. E com sua história, um bilhete estava cuidadosamente encaixado entre as folhas; um pedido final para que se encontrassem - isso se ele não escolhesse ir embora logo cedo.
Meu querido Colin,
Esta já é a quarta ou décima versão que escrevo deste bilhete, e ainda não sei se encontrei as palavras certas para expressar o que estou sentindo neste momento. Sinto que dissemos muito ontem, mas também deixamos tanto por dizer. Por isso, passei boa parte da noite escrevendo minha história em uma carta, para que você possa entender minhas razões e, quem sabe, encontrar um caminho para me perdoar.
Sei que você tinha muitos planos, e sinto muito por nossa história não ter sido como sonhou para nós. Também não é o que um dia escrevi no meu caderninho de planos para o futuro - um futuro que eu jamais teria imaginado alcançar se não fosse por você. Obrigada por me ajudar a enxergar quem eu sou e a descobrir a força que tenho. Talvez eu ainda tenha muito a aprender, mas sei que a jornada será diferente a partir de agora.
Afinal, não tem como ser igual depois de você, tem?
Pensei muito sobre nossa última conversa e... será que podemos parar um pouco e aproveitar o tempo que nos resta? Não sei se deseja ir embora hoje ou continuar a viagem, mas eu não quero que nossa última lembrança de nós seja de mágoa, irritação, discussão e lágrimas, por favor!
As meninas organizaram um passeio de barco - ou algo assim - para hoje, às 10h. Pode ser uma boa ideia.... e se você, depois de ler toda a carta, ainda quiser conversar, estarei no píer te esperando.
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Eclipse | Polin
RomancePenélope Featherington é apenas uma garota de 23 anos que carrega um pesado fardo. Filha de um barão que morreu quando ela tinha apenas 7 anos, viu sua família perder tudo - dinheiro, casa, e dignidade - devido a um homem poderoso. Apresentando-se c...