Capítulo 1 - O Vizinho

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Lavínia tinha apenas quase-doze anos quando seu vizinho se mudou para o prédio onde ela morava em Botafogo

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Lavínia tinha apenas quase-doze anos quando seu vizinho se mudou para o prédio onde ela morava em Botafogo. Ela não se lembra de verdade do dia em que isso aconteceu, mas gostava de dizer para as amigas que sim. Foi amor à primeira vista, ela sempre diz, reforçando a ideia de que foi o Destino quem enviou Eduardo para aquele apartamento: tudo arquitetado para que os dois pudessem ficar juntos.

Quem ouve até pensa que Lavínia era uma romântica incurável, mas suas amigas davam era risada. Aham, Nia. Está escrito nas estrelas. E quanto mais elas duvidavam, mais a garota sentia vontade de bater à porta de Eduardo com uma caneca vazia e dizer "Ei, você pode me emprestar um pouco de açúcar? Ou simplesmente sacar minhas verdadeiras intenções e, tipo, me beijar de uma vez?".

A coisa era que Eduardo era uma cara muito atraente. Ele morava no 1008 a quatro anos e a cada ano que se passava ia ficando mais bonito. Ou talvez fossem apenas os hormônios de Lavínia se desenvolvendo enquanto ela entrava na adolescência. Tanto faz. O importante era que, toda vez que a menina pegava o elevador, cruzava os dedos para que ele parasse no andar de baixo e Eduardo entrasse pela porta de metal também. Geralmente era isso mesmo o que acontecia às segundas, quartas e sextas, já que o horário dele na faculdade nesses dias coincidia com a hora em que ela precisava sair para a escola.

Novamente, o Destino.

Não era a toa que ela quase chegava a odiar o período de férias.

A garota estava encostada ao espelho do elevador de braços cruzados e fones no ouvido, emburrada por ter tido que acordar cedo. As primeiras semanas de volta às aulas eram sempre as piores, Lavínia simplesmente não entendia por que havia aula antes do carnaval se elas logo teriam que parar de novo.

Mas longe dela reclamar do carnaval. Uma semana inteirinha de vários nadas a serem feitos era nada menos do que uma benção.

Ela não estava esperando que o elevador parasse no décimo andar, mas, mesmo quando o fez, nunca se passou pela cabeça da menina que Eduardo fosse ser a pessoa a puxar a porta e dar de cara com ela.

Mas foi isso o que aconteceu. Exatamente assim. Ele abriu a porta em suas calças caqui e uma camisa xadrez de botões e mangas curtas. Usava os óculos de grau na frente dos olhos castanhos claros inchados de sono, e os cabelos castanhos escuros um pouco desgrenhados na cabeça. É claro que na mão direita havia o seu copo de acrílico de café daqueles que a Starbucks vendia e custavam os olhos da cara. Eduardo nunca era visto pela manhã sem o seu bendito copo tamanho grande - branco no corpo com a tampinha preta e o símbolo da loja.

Ele abriu um sorrisinho contido para Lavínia, daqueles que faziam seus olhos se enrugarem de um jeito extremamente adorável e deixavam o coração da garota dando pulos desesperados. Ela fechou a boca aberta, piscou para apagar a cara de tacho que deveria estar fazendo e se endireitou de pé no elevador enquanto ele entrava e parava ao seu lado.

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