Capítulo 2 - Vida Nova

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Eduardo odiava acordar cedo, por isso o café

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Eduardo odiava acordar cedo, por isso o café. De alguma forma, só o pensamento do líquido escuro e amargo já o fazia ficar mais ligado - coisa que não era lá muito fácil de ser conseguida às seis da manhã. Eduardo funcionava devagar, precisava do dobro de tempo pra fazer as coisas quando acordava cedo, mas acordava. Nunca perdia a hora pra nada. Depois de um longo banho quente - ou frio, quando o calor do Rio não permitia a ele nada quente além do café - e da sua bebida, o dia finalmente podia começar.

Por isso ele ficava sempre muito chocado quando encontrava a garota do 1108 com aqueles fones de ouvido ensurdecedores ligados logo tão cedo. Como é que ela conseguia raciocinar com aquilo tocando? Eduardo não suportaria aquela barulheira nem por um segundo, quiçá três minutos e meio - que geralmente era o tempo que uma música durava.

Mas ela, a garota, era mesmo chegada a barulhos de qualquer maneira, se é pra ser sincero. Vivia colocando o som nas alturas ou fazendo o que só podia ser um ensaio para show de rock, que fazia o teto tremer e tirava a concentração dele quando tentava estudar tarde da noite. Coisa de adolescente.

Ele achava engraçado o modo como ela estava sempre usando aqueles tênis vermelhos surrados. Quantos anos eles deviam ter? Fazia lembra-lo de um amigo de escola que tinha lá em Assunção e sua camiseta do Pink Floyd que nunca fora vista fora do seu corpo. Os tênis, entretanto, eram legais. Combinavam com os fones também vermelhos e a tonalidade das suas bochechas.

Ela sempre corava perto dele e isso não passava despercebido. Estava acostumado às meninas do prédio dando risadinhas quando ele aparecia no elevador ou gritando "Gostoso!" assim que ele passava. O que o deixava tímido pra caramba, mas ninguém precisava saber desse detalhe específico.

Pelo menos Lavínia conseguia fazer contato visual sem parecer que ia sair voando, o que já era um alívio para o rapaz.

Ele dirigia pela cidade naquela manhã quente de fevereiro até o aeroporto Santos Dumont, que, por sorte, ficava bem perto do seu apartamento em Botafogo. Ele estava empolgado para receber seu irmão e dividir a casa com ele de novo. Fazia tanto tempo que saíra de casa pra morar sozinho que não tinha como evitar a felicidade por poder ter outra pessoa morando junto.

Principalmente se essa pessoa fosse o Guto.

Para um cara que crescera com quatro irmãos mais novos, morar sozinho era quase uma penitência. No início ele achava que seria a sua grande libertação, mas a realidade era que Eduardo se sentia muito solitário quase que o tempo todo. Mas isso ninguém precisava saber também.

Quando ele chegou ao aeroporto, tanto Guto quanto a namorada já o estavam esperando. O sorriso no seu rosto era gigantesco por vê-los ali e Eduardo cumprimentou o irmão com um abraço e a namorada - Calíope - com dois beijinhos.

― Vocês já estão aqui há muito tempo? - ele perguntou, preocupado. Tinha certeza de que saíra de casa na hora.

― Que nada. O voo adiantou e aproveitamos pra Cali repassar comigo as coisas que eu não deveria dizer aqui.

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