Dois.

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Já era fim de tarde, o sol já se deslocava rápido para as montanhas ao horizonte para dar espaço para lua reinar a noite. As mulas andavam bem devagar, não dava pra calcular a distancia que eles andaram.

O céu ainda estava avermelhado quando pararam, até este momento Helena viajava em pensamentos, assim que eles pararam, ela olhou a sua volta e o que viu fez subir um arrepio do cóccix até a nuca, percorrendo toda a coluna, mesmo estando a uns duzentos metros dava pra ver entre as árvores. O acesso ao local era difícil, por uma trilha de pedras escorregadias, por causa do lodo que impregnavam nas pedras por muitos anos, pois as árvores eram grandes e suas copas impediam os raios solares atingissem a trilha. Foram andando com dificuldade, puxando suas mulas por meio da trilha de pedras e árvores.

Certo momento antes de sair da trilha, Helena olhou até o fim dela, faltavam uns dez a vinte metros para sair da trilha escorregadia, as mulas ficaram ariscas e empacaram, não queriam sair do lugar.

- Todas las veces, Ruan! Lo que sucede a estos animales! - Disse Pablo ao motorista que os acompanhavam.

Ruan Locos deu uma gargalhada.

- También, este lugar es de miedo. - Completou ele.

- Les atamos aquí - Ordenou Pablo.

Helena observou aquele diálogo, não gostou nada, nada, do rumo em que as coisas estavam tomando.

Como assim? Estamos em um lugar, em que até os animais tem medo de seguir em frente?

Olhou angustiada para Rubens, pelo jeito ele pensava a mesma coisa.

- Pablo, não podemos seguir em frente? Não estou muito segura de ficar aqui neste lugar! Provavelmente o Rubens também. - Terminou apontando para Rubens - Não é Rubens?

- S..sim, A..acho melhor seguirmos pra outro lugar! - Gaguejou.

- Los animales tienen un sexto sentido - Após falar, Pablo olhou para Ruan e os dois caíram na gargalhada.

Depois que terminaram de gargalhar, Pablo continuou a falar com Helena.

- Estoy jugando! Brincadeira!

- Usted no tiene peligro! Los animales tienen miedo de resbalar. No hay fantasmas! - Terminou Pablo.

"Estou brincando...". Uma ova! Seu babaca!

"Os animais tem medo de escorregar...".

Como passei a adiar estes dois trouxas...

Quando finalmente conseguiram puxar os animais até uma clareira, o que se viu era incrível, olhando pelo lado artístico era bonito, pois os índios realizaram um belo trabalho artístico ali, mas mesmo assim não deixava de ser assustador e macabro.

Helena olhou a sua volta, era um grande corredor que lembrava uma rua estreita, era calçada de pedras talhadas a mão em um quadrado de um metro aproximadamente quase perfeito a sua frente existia uma caverna onde sua entrada era uma grande caveira talhada à mão, onde a boca servia de entrada para caverna, no corredor externo dos dois lados da caverna, existiam algumas lanças com caveiras humanas espetadas e no chão, tinham milhares de caveiras empilhadas, fazendo uma divisória ou um pequeno muro separando a mata e o corredor.

Helena olhou para Rubens, tinha sumido todo medo que ele estava a alguns minutos atrás, os olhos dele brilhavam, e como um bom fotógrafo, sacou de sua bolsa de tiracolo sua maquina de fotografia Pentax K1000, disparou diversas vezes em direções diferentes. Andou feito um louco pra lá e pra cá procurando o melhor angulo para a melhor foto.

- Helena, isto é incrível! - Gritou ele para ela.

Ela olhou pra ele com um sorriso, fazendo sinal de joia pra ele que estava a uns cem metros de onde ela estava, ainda imóvel.

Enquanto os outros dois amarravam os animais em uma arvore, enquanto Rubens caminha ao encontro de Helena, ela notou que o ultimo raio de sol acabara de sumir entre as arvores e montanhas, deixando-os com a escuridão, por uma noite inteira.

Quando os quatros reuniram-se novamente, Pablo indicou para acompanha-lo para dentro da caverna.

Quando entraram, a caverna era mais fria e úmida que o ambiente externo, estava muito escuro, com pouca visibilidade no interior da caverna, caminharam pra dentro até não puderem mais ver a claridade de fora da caverna, Helena forçava as vistas para tentar ver algo, logo conseguiu ver a sua frente um vulto, viu que ele se agachou, e logo ela viu fogo, Pablo acendeu o fogo em um circulo de pedra no meio da caverna, provavelmente feito posteriormente para este intuito. Eles estenderam para Rubens e Helena dois sacos de dormir, estenderam em volta do fogo e sentaram em cima.

Apesar de pouca luminosidade gerada pelo fogo na caverna, a impressão que Helena teve foi de que estavam uma caverna enorme para todos os lados que olhava, tanto pra cima ou para os lados, não enxergava o fim ou a paredes de pedra. Enquanto os homens preparavam algo no fogo, ela parou para escutar o interior da caverna, ouviu-se barulhos de água correndo, provavelmente no interior da caverna corria uma pequena cachoeira, ouviu-se também barulho de asas. Morcegos! Odeio morcegos.

Certo tempo depois, Pablo estendeu uma cumbuca para cada um deles, Helena olhou para sua comida, bem estranha. Amassou um punhado desta comida com a mão e colocou na boca, apesar da fome, aquilo que ela comia não era nada interessante.

- O que é isto Pablo?

- Es ración militar - Respondeu ele.

- Nossa! Horrível!

- Esto es sólo para la supervivencia.

Alguns minutos depois que terminaram a refeição se prepararam para dormir, pois quando o sol raiasse iriam levantar acampamento. Apesar do cansaço, Helena não conseguia pregar os olhos, ainda estava apreensiva, Logo escutou roncos dos homens, os três já estavam dormindo, quase que instantaneamente.

Após um longo tempo depois e finalmente identificar todos os barulhos reais e imaginários, enxergar no teto todos os possíveis bichos que poderiam ter ali, Helena caiu no sono pesado.


Fronteira da CaveiraWhere stories live. Discover now