C - Isa

17.5K 2K 275
                                    

A cantina fecha às sete da noite todos os dias. Nem mesmo alunos do dormitório podem entrar lá.

Hoje eu estava tão distraída organizando coisas e desarrumando o restante da minha mala e meus livros que me perdi nas horas. Eu me esqueci completamente do jantar.

Meu estômago já se revirou uma trocentas vezes de fome e eu preciso colocar alguma coisa pra acalmar ele, caso contrário minha cabeça começa a doer muito e nem vou conseguir dormir direito.

- Ok, Google me ajuda pelo amor! - pego o telefone do minúsculo criado mudo ao lado da cama e procuro pelo supermercado ou padaria mais próximo.

O telefone carrega lentamente a base do Wi-Fi do dormitório, até que abre uma imagem com uma mapa da região.

Se o mapa estiver certo, há um mercado à direita da entrada do campus. E minha única opção.

Visto minha calça jeans de sempre e meu moletom de dormir. Não quero impressionar ninguém então amarro meu cabelo em um emaranhado no topo da cabeça, 'taco' meu óculos de grau na cara e saio pra comprar comida.

Saio do campus e respiro o ar da cidade, não deveria ter feito isso pois sinto cheiro forte de fumaça e começo a tossir até emborcar meu corpo para frente.

Desde que cheguei aqui, a coisa que mais percebi foi o ar. Pode parecer estranho, mas o ar da cidade grande e pesado e mais difícil de ser respirado do que da minha antiga cidade.

Controlo minha tosse e checo o mapa no telefone até chegar na porta do lugar indicado. Mas ao invés de um mercado, há um bar de estudantes.

Como diabos eu vim parar em um bar de estudantes?

-Eu pedi um mercado! Maldição Google! - Falo com raiva pato o telefone. Amplio a imagem do print que tirei do mapa e não encontro mais nenhum estabelecimento próximo, só rodovias e árvores.

'Não quero entrar aí.' Penso. Meu estômago escuta meus pensamentos e da um salto é um tremendo barulho como se dissesse ' vai entrar sim!'

Antes de vir para faculdade eu procurei bastante sobre na internet. Encontrei um vídeo com o nome de ' guia de sobrevivência na faculdade ' ou algo assim, não me lembro bem, porem o primeiro item era: se quer ser bom aluno, fique longe de bares de faculdade.

Eu sou uma boa aluna!

'Acalme-se, Isa. Você só vai comprar comida.' Respira fundo e vai!

Piso no meu acelerador imaginário e entro no bar. Olho em volta procurando algo comestível mas só vejo gente bebendo e se agarrando.

Me estico na ponta do pé e encontro o bar, me enfio no meio das pessoas e me senti como se eu fosse uma bola de pebolim batendo e esquivando das pessoas até chegar ao meu destino final.

- Pra gatinha? - O cara do bar me pergunta enquanto atende outra pessoa ao mesmo tempo.

- Tem algo comestível aqui?

Eu olho para o cara mas a única coisa que ele faz e sorrir de lado como se estivesse pensando coisas idiotas e certamente está.

- Estou com pressa. - Grito pra ele por cima da música eletrônica alta.

- Atrás da pista de dança. - Ele aponta e eu sigo seu dedo com o olhar. - Tem um armário com salgadinhos. Pega um lá e paga aqui.

Eu encaro o armário no fundo oposto ao que estou. O bendito armário e atrás da pista de dança e não tem outro 'bendito' lugar pra que eu possa passar para chegar até lá sem ser pisoteada.

- Estômago, você tem que dar valor ao que irei fazer por você. - Digo por baixo da música e me ponho a andar. O caminho parece triplicar e a música está enfiando como agulha no meu ouvido. Odeio música alta, misturado com conversa e gritaria, então! Alguém me tira daqui!

Me enfio na pista de dança e me escorrego até chegar até o final dela, me encolho entre os braços e alguns toques indesejados estava quase completando minha missão por completo, quando uma mão me agarra e me puxa contra o seu corpo e antes que eu pudesse pensar em socar a cara do homem ou dar um pisão no seu pé, ele segura meu rosto me 'lasca' um beijo a força.

Eu abro a boca para gritar com ele mas isso faz com que ele enfie a língua na minha boca, eu não seguro minha vontade, mordo a língua do cara com toda força que consigo.

Ele solta um grito de raiva e me empurra me fazendo cair no chão fora da pista de dança.

Algumas pessoas que não estavam bêbadas param para me olhar e alguns a rir, mas somente uma menina me ajuda a levantar, porém logo percebo que ela também está rindo de mim.

Eu vou até o armário, pego um pacote qualquer de salgadinhos e saio empurrando as pessoas na minha frente, algumas dão passagem e outras fingem que nem os empurrei.

Chego até o bar jogo uma nota de dez reais para o cara que a pega e sai para buscar meu troco. Eu queria me sentar mas o banco ao meu lado está cheio. Um homem ao lado de uma mulher linda o ocupam eu olho de lado para os dois e logo reconheço ele.
Pego o troco da mão do barman e ando até próximo do homem do banco e com toda força e disposição que tenho, dou um tapa no rosto do homem que se a música não estivesses tivesse tão alta, teria estalado para todos ouvirem.

- Babaca! - Grito para o idiota que me beijou a força antes de virar as costas.
- Você enlouqueceu, garota? - Ele grita de volta.

- Ela é sua namorada? - A menina ao lado dele pergunta. - Eu sou irmão dele! Não precisa ficar com ciúmes! - Ela grita. Eu me viro e solto minha última frase antes de sair do bar.

- Então tem que educar melhor seu irmão.

Sair pisando duro já abrindo meu pacote de salgadinhos e enfiando um punhado na boca.

- Eca! - Digo mastigando com a boca cheia. - É cebolitos! - Não gosto de cebolitos, mas não cuspo nem jogo o pacote fora. Estou com muita fome e preciso tirar o gosto horrível de bebida daquele cara na minha boca.

Todas as LetrasWhere stories live. Discover now