Capítulo V (Ferroso)

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Os pioneiros não apreciavam o selvagem; era um obstáculo a ser vencido para se ganhar a vida e era uma ameaça constante na sobrevivência. Os pregadores do início do período colonial viram o selvagem como o lugar dos demônios e raramente como o meio ambiente protetor da Igreja.

Yi-Fu Tuan

O gramado extenso possui ipês floridos esparsos, é plano, e fica na região alta da cidade, ao fundo pode-se ver a silhueta urbana, com antenas e prédios

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O gramado extenso possui ipês floridos esparsos, é plano, e fica na região alta da cidade, ao fundo pode-se ver a silhueta urbana, com antenas e prédios. O sol vermelho está quase se pondo, o sol azulado, mais fraco e discreto ainda paira como se fosse meio dia. Os mesmos dois sois de sempre, do cotidiano de Arborenses. As lápides encravadas na grama são discretas. Pequenos drones fazem a manutenção do jardim, irrigando e podando arbustos. O caixão de Otávio Ferroso desce para o fundo do buraco. Grande parte da elite da cidade está ali, despedem-se do falecido. O padre com voz potente ora o pai nosso.

A esposa do senador é a única que se mostra desconsolada, se apoia no marido, querendo despencar no chão, gritar, pensa em jogar-se na cova, partir com o filho. O senador Ferroso olha fixo para o caixão, seu semblante parece congelado, quase um rosto de um androide. Robôs empurram o solo para a cova, o caixão vai sendo encoberto. Lentamente todos vão se retirando do local. Pessoas cabisbaixas pisando na grama com cuidado, observando e analisando os familiares do morto, julgando a tristeza alheia. Ferroso pede para um conhecido acompanhar sua mulher até o carro e acena para o padre.

"Padre Olívio, espere."

O padre segue para o encontro do senador.

"Diga, senador."

"Eu quero uma missa de sétimo dia deslumbrante. Prepare um sermão especial, que enalteça meu filho. Ele merece ser honrado."

"Claro, senador."

"As pessoas falam coisas errôneas sobre meu menino. Quero que esses falatórios sejam enterrados junto com ele. Quero que se fale bem do garoto. Os pecados dele não devem ser lembrados, nem sequer deve-se cogitar que existiram. Certo?"

"Que pecados?" Pergunta o padre sorrindo.

O senador abraça o padre também sorrindo, os dois seguem cruzando o cemitério em passos lentos. As mãos do senador apertam com firmeza o ombro do padre.

"Nós temos que ampliar os católicos de nossa cúpula na cidade. Os católicos do movimento sustentável estão crescendo como pragas, voltando a pregar mediocridades. Vamos fundar mais um belo templo. Uma grande torre, que faça lembrar Babel."

"

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O Outro no EspelhoWhere stories live. Discover now