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Passaram duas semanas desde que a prisioneira "especial" chegou. Confinada num cubículo de madeira, pouco se ouvia falar da jovem.

No seu interior, Lana passava a maior parte do tempo sentada. A luz do sol entrava por pequenas frestas, a única maneira pela qual diferenciava o dia da noite. Não que isso importasse. Comida e água, apenas uma vez ao dia.

Nesse período a vigilância sobre a garota foi reduzida, ninguém mais lembrava direito o ocorrido e ela não causava problemas. Esporadicamente um guarda passava pelo corredor e das frestas conferia se ela estava lá, apenas isso.

Na tenda principal do acampamento, o capitão se irritava com as ordens que recebia de seus superiores. "Enquanto a guerra durar, mantenham todos aprisionados, já estamos dominando a maior parte do país, mas ainda existe um foco de resistência na região sudoeste. É imperativo mantê-los isolados e desguarnecidos".

— Como se esse bando de inúteis e doentes prestassem para alguma coisa! — gritava o capitão com o mensageiro que se encolhia, assustado.

Alguns soldados presentes riam discretamente da cena.

— Seria melhor deslocar as tropas à luta, senhor — disse um oficial de confiança.

— Sim, eu também acho. Estamos perdendo tempo aqui. Por onde avançamos só vejo pobreza e doença. Aliás, como a praga tem se alastrado em nossas tropas?

— Registramos poucos casos recentemente, senhor. Nada alarmante. Todos os soldados doentes também estão sendo tratados — informou o oficial.

— Certo. Por falar nisso, eu já ia me esquecendo, e aquela menina que capturamos no bosque?

— Ainda no confinamento, senhor. Para falar a verdade, acho um exagero mantê-la onde está.

— Pode ser, mas é melhor assim. Tenho alguns soldados que não estão muito felizes por terem sido confrontados por ela — disse enquanto entregava uma carta selada de resposta. — Mensageiro, diga ao comando que recebi as ordens e que as seguirei a contento.

Em resposta, o homem bateu continência e saiu do local.

Enquanto os oficiais conversavam, uma pequena jovem agia longe dali. Despretensiosamente varria e limpava. Cada vez mais, como se nada desejasse, aproximava-se da solitária. Uma vassourada aqui, outra ali, e dissimuladamente ganhava terreno, passando despercebida pelos olhos das sentinelas, que não viam intenção alguma naquela atitude.

Ela estava bem próxima do seu objetivo. Era um pequeno corredor coberto, cujo final dava para um cubículo de madeira. Varria agora o corredor, olhar atento, sabia que se fosse pega, perderia suas regalias. Era um risco calculado, pois queria mesmo provar, não só para seus amiguinhos como para si mesma, que o desafio poderia ser cumprido.

Aline conversaria com a prisioneira perigosa.

Assim que adentrou o corredor, percebeu que fugia da vista dos guardas, isso por um curto espaço de tempo, até que aquele que estava em sua ronda desse a volta em torno da área. Imaginou que tivesse ao menos cinco minutos.

A jovem deu uma última conferida e respirou fundo para tomar coragem. Cantarolava alguma música, anunciando à cativa sua chegada, enquanto varria displicentemente, tentando completar a encenação.

Esperava ouvir algum som, um sinal de aproximação. Tensa, a menina com os olhos arregalados encarava a porta de madeira e apenas o silêncio respondia. Minutos que duravam horas.

Nada. "Será que não tem ninguém aí? ", pensou enquanto se abaixava próximo à fresta por onde passavam os alimentos para a prisioneira.

"Talvez não tenha me ouvido ou esteja dormindo. Sei lá!", raciocinava quando bateu com o ouvido contra o solo de terra e viu pela fresta uma silhueta sentada e abraçada às pernas, ao fundo do cubículo.

Lana - Uma Aventura de Fantasia MedievalOnde as histórias ganham vida. Descobre agora