Barganha

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Aline deu um grito e caiu sentada no chão com o susto. Definitivamente não esperava aquela recepção, não esperava recepção alguma.

— Não faça barulho, menininha! Vai atrair os guardas!

Recompondo-se, Aline levou a mão direita ao peito e disse em voz alta:

— Deste jeito meu coração não vai aguentar! Tenho que parar de tomar estes sustos. Esta semana tem sido realmente bem atípica.

Em seguida, abaixou novamente o rosto rente à fresta e continuou:

— Você me assustou! Da próxima vez não apareça assim do nada!

— Desculpe! Eu escutei os seus passos de longe, mas receei que fosse passar reto por aqui. Qual o seu nome, menininha? — perguntou a ruiva e, antes mesmo que a jovem respondesse, completou: — O meu é Lana.

— Menininha? Quantos anos por acaso você acha que eu tenho?

— Onze — disse Lana.

— Quinze — retrucou Aline.

— Certo, certo, pode ser quatorze, mas você ainda não me disse o seu nome.

— Olá, meu nome é Aline! Muito prazer! — disse de forma dissimulada, como estivessem se encontrando somente agora.

Por alguns segundos fitaram uma à outra. Cada uma tinha algo de urgente a dizer, mas por um momento parecia pouco natural ir direto ao assunto. Nenhuma queria quebrar o protocolo.

— Chovendo muito aí dentro? — perguntou Aline.

— Um pouco. Sabe como são estas acomodações, pouco confortáveis, ainda mais em tempos de guerra — respondeu Lana.

— É verdade, não fazem mais estalagens como antigamente. Mas pode deixar que eu vou reclamar com o capitão!

Logo as duas riram.

— Escute, preciso lhe pedir um favor antes que alguém chegue — disse Lana agora em tom sério.

— O que posso fazer por você? — falou Aline, já calculando quantos fios de cabelos pediria em troca.

— Eu preciso de algo. Se puder me ajudar ficarei eternamente agradecida — sussurrou a ruiva de dentro da cela.

— Olhe, se você precisa de algo, está falando com a pessoa certa.

— Que bom!

— Mas tudo tem um preço! Não posso sair por aí fazendo favores para todo mundo. Eu ando bem ocupada ultimamente.

— Claro que irei recompensá-la, menininha, mas é que no momento eu não tenho muito a oferecer — concluiu Lana.

— Pode começar parando de me chamar de menininha.

— Certo, algo mais, Aline?

— Por ora eu não quero muito. Mas você pode começar me explicando por que veio acorrentada e está aqui no confinamento? Os homens, eles mandam para o trabalho forçado; as mulheres ficam nos alojamentos junto com as crianças. Por que só você está aqui?

— Fui presa por engano! Acharam que eu era uma mulher procurada e perigosa. Eu até tentei argumentar, mas não acreditaram em mim.

— Nossa, coitada!

— Olhe para mim, eu pareço perigosa?

— Eu mal posso ver os seus olhos daqui. O que dirá o resto. Ei! Qual a cor do seu cabelo?

— Sou ruiva. Por quê?

— Jura? Me deixa ver o seu cabelo?

Assim, Lana levou alguns fios de cabelo através da fresta. Seu cabelo estava sujo, mas ainda assim mantinha um tom avermelhado, embora opaco.

Vermelhos, eram fios vermelhos de uma genuína ruiva. Aline esboçou um sorriso que era um misto de satisfação e alívio. Mais que depressa ela deu um puxão. Lana gritou, recuando.

— O que está fazendo? — Nervosa, Lana voltou para a fresta.

— Nossa, seu cabelo é avermelhado mesmo — disse Aline, analisando os fios contra a luz do dia.

— Gostou do meu cabelo? Posse te dar uma mecha se quiser.

— Jura?

— Sim, mas para isso eu vou precisar de uma faca.

— Uma faca? Não sei não — hesitou Aline.

— Escute! Eu sei que você consegue... É só me trazer que eu corto uma mecha bem grande para você!

Aline estava pensativa. Com aqueles fios, acabava de escapar de uma grande enrascada. Por que se arriscar novamente? Enquanto celebrava por dentro, ela via os olhos suplicantes de Lana pela fresta.

— Olhe, eu preciso ir! Acho que estou ouvindo passos! — Rapidamente Aline levantou-se e foi em direção à saída.

— Espere, por favor! Você precisa me ajudar! — gritou a ruiva enquanto a menina se afastava.

Lana escorou-se à porta e, frustrada, sentou-se. Sabia que a garota era a sua melhor chance para escapar daquele lugar. Contemplando a água que gotejava pelo teto, ela percebeu que não havia muito mais a fazer. Esperar era a única opção, mas ainda assim poderia ser em vão. Uma enorme onda de ansiedade percorreu o seu corpo, e ela respondeu com um forte soco na porta de madeira. Seus olhos marejaram.

— Não vou chorar! Ainda não! — disse para si mesma em meio à escuridão da cela.

Sem que a chuva dessetrégua, fez frio e Lana passou toda a tarde sentada num canto, desolada.

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Lana - Uma Aventura de Fantasia MedievalOnde as histórias ganham vida. Descobre agora