Decisão

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Aline se divertia, mostrando para um pequeno público que sua parte do trato fora cumprida. Aqueles preciosos fios de cabelos num tom avermelhado opaco tinham agora o valor de fios de ouro. Atraíram a admiração das crianças, fizeram com que um jovem perdesse uma aposta e parecesse um tolo na frente das demais.

— Puxa, Aline! Você é mesmo incrível! A prisioneira realmente não se importou em lhe dar alguns fios de cabelo assim, sem mais nem menos? — perguntou Maria pela vigésima vez.

— Como eu disse antes, foi só pedir com jeitinho.

— Eu jamais teria coragem de chegar perto dela! Ela deve ser muito perigosa! — disse outra menina que estava no grupinho.

— Pois é — disse Aline já meio entediada e levantando-se.

As crianças estranharam, pois Aline adorava ser o centro das atenções, e então um menino perguntou:

— Aonde você vai?

— Vou me deitar um pouco. — Aline deu um sorriso amarelo, tentando esconder o desânimo repentino.

Deitada em sua cama, ela encarou fixamente o teto. Os olhos estalados de Lana suplicando por ajuda a perturbaram por toda a tarde. Não poderia ser tão perigosa como todos acreditavam.

O sono custava a vir. Fechar os olhos era pior, a cena se repetia ininterruptamente. Somente ela poderia ajudar a prisioneira, o que lhe dava um sentimento misto de pavor e . "É só uma faca, o que custa? Não serei pega por isso. Por outro lado, por que me arriscar, o que ela não poderia fazer com uma faca?"

Não havia ao seu redor por quem tivesse se afeiçoado durante todos os meses em que estava presa. Diferentemente, Lana lhe proporcionara um breve, porém agradável diálogo. Ela ainda não havia se decidido sobre a faca, mas queria conversar novamente com ela.

No dia seguinte, choveu menos pela manhã. Aline tratou de levantar cedo, comeu menos da metade de um pão e saiu do alojamento sem chamar atenção. Percorreu os campos com discrição, evitando os olhares dos guardas até chegar à área de confinamento.

Já mais confiante que das vezes anteriores, a jovem entrou firme pelo corredor, procurando sinais das sentinelas. Logo percebeu que não havia ameaça, então sentou ao lado da fresta, bateu na porta duas vezes e disse:

— Serviço de quarto.

Após um breve silêncio, uma voz ecoou um tanto fraca e sonolenta.

— Você voltou? — perguntava Lana incrédula.

— Sim! Tome, eu trouxe o seu café da manhã — disse Aline empurrando o pão junto de algumas frutas secas para dentro da cela.

— Isso é mais do que os guardas costumam me oferecer. Obrigada!

Aline nada .

Lana notou o silêncio do outro lado e continuou:

— — Finalmente o serviço de quarto está melhorando, e já não era sem tempo. Cruzes, eu odeio fazer regime!

— Não se preocupe, senhora, estamos trabalhando para melhorar as suas acomodações.

— Assim espero — respondeu Lana, e as duas riram.

Por duas semanas as amigas se encontravam e conversavam. Sempre pelas manhãs.

Aline sentia uma afinidade que nunca encontrara antes. Lana, por sua vez, apesar de apreciar a amizade da jovem, tinha esperanças de que de alguma forma teria algum tipo de ajuda para escapar daquele cativeiro. No entanto, ao longo dos dias a conversa não evoluía muito na direção que ela desejava, mas nem por isso diminuía o interesse em confabular com Aline. Sua companhia realmente lhe fazia bem.

Lana - Uma Aventura de Fantasia MedievalOnde as histórias ganham vida. Descobre agora