1) O Artista e o Leitor

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Digita, escreve, dá voz aos versos à meia-luz,

O desenhista sem traço, o jovem vinteumcentista que cavou nas palavras

Suas curvas de musa.

Escreve querendo ser Vênus,

Ou apenas besouro desvirado no chão.


Digita, escreve,

Ergue uma escultura de corpo quebrado

Em versos e estrofes

Canta a vida e os ventos cardíacos, canta as gentes e, claro,

Como não podia deixar de ser da juventude,

Canta a si mesmo:

Transfigura-se em eu-lírico e mata o próprio autor,

Escreve.

Fala de si e escreve.


Lês as páginas febris de um autor vira-lata,

Contemplas, talvez surpreso, o esforço sutil de um homem

Que tenta transformar em cavalete os desenhos da pena,

E os apresenta com traços de humildade a ti,

Leitor transeunte,

Consumidor de espíritos.

Esperas mais ou menos de algo que se pretende apenas ser

Arte, rosa tocada, perspectiva,

Esperas. Lês.


Lê-me os versos afoitos, espectador curioso,

Dize-me que lerás, dize ao jovem

Que teima em escrever à vida

Como um cisne à morte.

Tentativas DesregradasWhere stories live. Discover now