A morte não é simples, é simplória
O renascimento, esse sim, é digno
A morte anda por ruas vazias, e,
Mesmo que poucas vezes gentil,
Cumprimenta as pessoas, cada um.
Véus pretos e foices só ganham sentido pelo que vem depois deles,
A morte é simplória,
Caminhando por praças desertas e narizes de concreto.
Tudo é vazio sem o povo.
Sem o sangue cotidiano do povo
E eu caminho por um miasma contemporâneo.
Existo na vaziez de um hiato na página,
Entre os versos, entre as estrofes em colapso
Escrevo por sobre um miasma entremeando as letras.
Queria dar voz às praças, mas elas estão roucas e indispostas
Queria dar voz aos sentimentos do mundo, mas só ouço a voz do miasma
Ouço o som das noites silenciosas vaiando a existência,
Ouço as cores indescritíveis do miasma,
Ouço os cânticos dos inimigos
Com praças desertas e narizes orgânicos,
Rastejando ao chicote do miasma.
Ouço cidades esquizofrênicas
E miasma
Construímos prédios de asfalto bubônico,
Construímos indivíduos em paisagens desoladas de miasma
Uma tempestade de areia se aproxima:
As praças estão desertas e os narizes estão epidérmicos
Chega o miasma.
Miasma.
O espírito do tempo parece cansado,
Sintético,
Vulnerável. Mas ele é forte. Foi feito para sê-lo.
O homem de pele é frágil, nós não somos.
Nós respiramos por praças desertas com narizes mecânicos
O apocalipse inodoro de um miasma
Raquítico,
Frenético,
Pouco semântico
O tentáculo pálido de um miasma.
Miasma.
O silêncio da figura encapuzada pelas ruas é o miasma, claro
Mas a figura encapuzada, críptica, hermética, desajustada,
É o próprio autor contemplando as também silenciosas sombras à sua volta.
Miasma
Vivemos de sobras, acho.
Mas a dança é catártica e a juventude se diverte.
Sobre o solo molhado por chuvas carbonizadas.
Sobre praças de plástico e narizes em pânico
Miasma
Nós nos observamos como animais políticos que somos
Nos arrastamos como animais de água que somos
Nos regozijamos como artistas bêbados que somos
Miasma.
O som do povo é abafado pelo som das esteiras de montagem,
Pelas caldeiras agressivas,
Pelas chaminés carvoeiras,
Miasma.
Por décadas, muitos homens quiseram dinamitar a ilha de Manhattan.
Quiseram reerguer-se dos escombros de Wall Street
Miasma.
A desesperança se veste de cores falsas e escancara sua alma monocromática como a morte.
Respiro um miasma contemporâneo
Miasma.
Já não sei mais se quero assistir, pasmo, ao colapso da torre miasmática,
De seus pórticos e profetas,
Ou se quero, eu mesmo, canhonear o miasma secular,
Ou se quero apenas dançar no túmulo das minhas ideias, entre bares desinteressados,
E ver a beleza do orvalho humano.
Miasma.
O mundo ainda tem danças e deveria tê-las.
Miasma.
Há praças desérticas pulsando para cantarem novamente
Miasma.
Para verem artistas de rua sem títulos na Bolsa
Miasma.
O mundo não é frígido pelas corriqueiras moléstias surpresa
Miasma.
O é por muito mais
Miasma.
Sonhos fragmentados
Miasma.
Anseio por um beijo que evite o fim do mundo
Miasma.
Fumaça.
Miasma.
As ruas estão vazias
Miasma.
Aa praças desertas
Miasma.
Os narizes ofegantes
Miasma.
A morte está simplória
Miasma.
Também estamos.
Miasma.
Miasma.
Miasma.
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Tentativas Desregradas
PoetryTento aqui fazer uma coletânea poética de coisas que escrevo. Embora eu tente dar sentido à confusão de versos livres, sonetos decassilábicos e suspiros num geral, provavelmente será uma sequência meio anárquica de poemas que me inspiram. Espero que...