13) Último dos Lamentos (Apocalipse)

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A morte não é simples, é simplória

O renascimento, esse sim, é digno

A morte anda por ruas vazias, e,

Mesmo que poucas vezes gentil,

Cumprimenta as pessoas, cada um.

Véus pretos e foices só ganham sentido pelo que vem depois deles,

A morte é simplória,

Caminhando por praças desertas e narizes de concreto.

Tudo é vazio sem o povo.

Sem o sangue cotidiano do povo

E eu caminho por um miasma contemporâneo.

Existo na vaziez de um hiato na página,

Entre os versos, entre as estrofes em colapso

Escrevo por sobre um miasma entremeando as letras.


Queria dar voz às praças, mas elas estão roucas e indispostas

Queria dar voz aos sentimentos do mundo, mas só ouço a voz do miasma

Ouço o som das noites silenciosas vaiando a existência,

Ouço as cores indescritíveis do miasma,

Ouço os cânticos dos inimigos

Com praças desertas e narizes orgânicos,

Rastejando ao chicote do miasma.

Ouço cidades esquizofrênicas

E miasma


Construímos prédios de asfalto bubônico,

Construímos indivíduos em paisagens desoladas de miasma

Uma tempestade de areia se aproxima:

As praças estão desertas e os narizes estão epidérmicos

Chega o miasma.


Miasma.

O espírito do tempo parece cansado,

Sintético,

Vulnerável. Mas ele é forte. Foi feito para sê-lo.

O homem de pele é frágil, nós não somos.

Nós respiramos por praças desertas com narizes mecânicos

O apocalipse inodoro de um miasma

Raquítico,

Frenético,

Pouco semântico

O tentáculo pálido de um miasma.


Miasma.

O silêncio da figura encapuzada pelas ruas é o miasma, claro

Mas a figura encapuzada, críptica, hermética, desajustada,

É o próprio autor contemplando as também silenciosas sombras à sua volta.


Miasma


Vivemos de sobras, acho.

Mas a dança é catártica e a juventude se diverte.

Sobre o solo molhado por chuvas carbonizadas.

Sobre praças de plástico e narizes em pânico


Miasma


Nós nos observamos como animais políticos que somos

Nos arrastamos como animais de água que somos

Nos regozijamos como artistas bêbados que somos


Miasma.

O som do povo é abafado pelo som das esteiras de montagem,

Pelas caldeiras agressivas,

Pelas chaminés carvoeiras,

Miasma.


Por décadas, muitos homens quiseram dinamitar a ilha de Manhattan.

Quiseram reerguer-se dos escombros de Wall Street

Miasma.


A desesperança se veste de cores falsas e escancara sua alma monocromática como a morte.

Respiro um miasma contemporâneo

Miasma.


Já não sei mais se quero assistir, pasmo, ao colapso da torre miasmática,

De seus pórticos e profetas,

Ou se quero, eu mesmo, canhonear o miasma secular,

Ou se quero apenas dançar no túmulo das minhas ideias, entre bares desinteressados,

E ver a beleza do orvalho humano.


Miasma.

O mundo ainda tem danças e deveria tê-las.

Miasma.

Há praças desérticas pulsando para cantarem novamente

Miasma.

Para verem artistas de rua sem títulos na Bolsa

Miasma.

O mundo não é frígido pelas corriqueiras moléstias surpresa

Miasma.

O é por muito mais

Miasma.

Sonhos fragmentados

Miasma.

Anseio por um beijo que evite o fim do mundo

Miasma.

Fumaça.

Miasma.

As ruas estão vazias

Miasma.

Aa praças desertas

Miasma.

Os narizes ofegantes

Miasma.

A morte está simplória

Miasma.

Também estamos.

Miasma.

Miasma.

Miasma.

Tentativas DesregradasWhere stories live. Discover now