OITO

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EU FICO ACORDADO A NOITE TODA, SENTADO NO MEU SALÃO, OLHANDO PARA a arcana que está em concha em minhas mãos, querendo que comece a zumbir.

Ela está bem? O que aconteceu? Estou enrascado? Deveria ter previsto isso? Eu estava tão ocupado ficando de mau humor com meu noivado que não percebi que algo estava errado? Lucien divulgará os detalhes do meu reencontro com Cyan? Annabelle me odeia?

As perguntas se repetem de novo e de novo, um círculo rotativo dos mesmos pensamentos e medos.

Como é que isso aconteceu comigo? Aqui estou, completamente preocupado com o bem-estar de uma substituta. Acho que não posso nem dizer como é a aparência de outra substituta que já vi. Loira, morena, ruiva... elas são como bonecas, brinquedos com rosto embaçado que não importam quem são afinal? Nada. Propriedade. Mas o rosto de Lucien. E Annabelle...

Eu nem mesmo sei seu nome. Elas têm nome? Acho que as dão números no Leilão. Talvez elas nasçam com números. Elas nascem de uma forma normal? Eu nunca os vi como verdadeiramente humanos até ouvir a garota gritar de dor essa noite.

Sou uma pessoa terrível?

A luz cinza escoa pelas cortinas, o sinal de que um novo dia começa. Eu me levanto e estou prestes a desistir e ir para cama, quando o diapasão de prata vibra e sobre da minha palma.

"Ela está bem?" Pergunto antes que ele tenha chance de falar.

Há a mais fraca pausa do outro lado e acho que o surpreendi de alguma forma.

"Sim." Diz e parece incrivelmente cansado. "Ela irá sobreviver."

Eu expiro e sinto como se estivesse prendendo a respiração a noite toda. Minha cabeça zumbe de alívio.

"Ela está bem." Digo.

"Está." De novo, há um som de surpresa em sua voz.

"O que?" Exijo, muito cansado para ser educado. "Você acha que não me importo? Acha que não sou humano?"

"Não." Ele responde. "Acho que você é da realeza."

Sinto um insulto velado, mas não o entendo.

"O que isso significa?"

"Significa que você não vê o mundo como a maioria das pessoas dessa cidade."

Eu franzo a testa. "Essa cidade ama a realeza."

Lucien ri, apesar do cansaço. "Ah, Garnet." Diz. "Você não sabe nada sobre essa cidade. Você conhece a Joia e o Banco. A Joia te tolera pelo seu alto status e o Banco te ama porque você faz seu papel."

Ninguém nunca, nunca. falou comigo dessa forma. Abro a boca para endireitá-lo e mostrar a ele quem é quem nesse relacionamento, entretanto todo o escoa para fora de mim e percebo que ele está certo.

Não sou nada. Sou uma perda de tempo muito chique e muito cara.

"Por que você pediu minha ajuda, então?" Falo.

Ele suspira. "Eu não te pedi. Eu te chantageei"

Certo. Enfio meus dedos em meus olhos.

"Lucien, o que tem de tão importante nessa garota? Por que você se preocupa tanto com ela?"

"O que o faz pensar isso?"

"Além do fato de que você me faz acompanhar cada movimento dela?"

"Você tem feito um trabalho medíocre, na melhor das hipóteses. E ter alguém seguido ou vigiado não significa que eu me importe com ele. Acompanho mais pessoas do que você jamais poderia imaginar. Por que acha que essa menina é diferente?"

"Seu rosto essa noite." Digo sem rodeios. "Quando ela estava sangrando e... e chorando. Foi óbvio."

Outra pausa. Essa estendesse por tanto tempo que fico impaciente.

"Elas têm nome? Quero dizer, as substitutas." Falo. "Da onde elas vêm?"

"Elas vêm do Pântano." Ele diz secamente. "Certamente você sabe disso. E sim, elas têm nomes."

"Todas elas?" Eu gostaria de não ter indagado assim que a pergunta sai da minha boca.

"Todas elas."

"Bom, qual é o dela, então?"

Lucien bufa. "Por que se importa, Garnet da Casa do Lago, herdeiro da Duquesa, membro das Casas Fundadoras?"

"Não jogue títulos em mim. Não é quem sou."

"Não é? Então, por favor, me esclareça. Conte-me quem você é. Diga-me porque é digno de saber o nome dela."

"Digno?" Levanto-me, meu pulso acelerado. "Está dizendo que não sou digno de saber o nome de uma substituta?"

"É exatamente o que estou lhe dizendo. Você divide as pessoas em dois grupos: quem é da realeza e quem não é. Você já parou para considerar o que os "não" sentem sobre você? Que eles são humanos com seus próprios direitos, com esperanças, sonhos e sentimentos? E que eles te superam em dez a um, pelo menos?"

Não sei o que dizer. Porque ele está certo.

"Você sabe o que acontece com as substitutas, Garnet?" Lucien continua, e sua voz muda para um sussurro de cobra.

"Elas... elas fazem os bebês reais." Gaguejo.

"E então?"

Eu hesito. "Eu não sei."

"Elas morrem. Cada. Uma. O parto é letal para elas."

Preciso repetir essa frase pelo menos três vezes em minha cabeça antes de entendê-la.

Então cada garota com uma coleira, ou em algum baile, ou sentada mudamente na mesa de jantar... todas estão mortas.

"Isso... isso não pode ser verdade. Por que faria... como isso pode acontecer?"

Com isso, Lucien ri completamente. "Você sequer pensou sobre uma substituta até que te pedisse para observar uma delas? Você pode descrever uma para mim, sem ser Violet?"

"Violet?" Digo.

Silêncio.

"O nome dela é Violet?" Pergunto de novo, em um tom mais de comando.

"Sim." Lucien responde de má vontade.

"Ah." Violet. Violet toca violoncelo. Annabelle se preocupa com Violet. Esses sentimentos parecem diferentes quando eu os uno assim. A substituta é Violet.

Se Violet tiver minha irmã mais nova, Violet irá morrer.

"Então... qual é o plano? Você está tentando descobrir alguma forma dela ter o bebê e sobreviver?"

"Não."

"Então o que é? Vamos lá, Lucien. Por favor. Confie em mim."

A espera pela resposta dele parece interminável.

"Eu posso?" Ele indaga, finalmente. "Que promessa você poderia fazer que eu teria certeza?"

Eu penso muito por um momento. Lucien não se importa com dinheiro ou joias ou qualquer coisa assim. Ele parece se importar com pessoas.

"Eu juro por Annabelle." Falo. "Se eu fizer qualquer coisa que deixe a substituta com problemas, ela seria punida dez vezes. E eu nunca faria nada que a machucasse."

"Hum." Lucien parece impressionado. Depois de um momento, ele diz. "Eu aceito sua promessa."

"Ótimo, então qual é o plano?"

"O plano." Ele diz dramaticamente. "É tirá-la da Joia."

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⏰ Last updated: Mar 27, 2020 ⏰

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A História de Garnet (Garnet's Story)Where stories live. Discover now