Capítulo I: Sobre naufrágios e naúseas

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A primeira visão de Willahelm quando este abre os olhos é o nada, tão escuro quanto possível, coloca o braço, que bem preso estava ao escudo, para o lado do corpo, e consegue ver os diversos soldados jogados pela praia. Uma imensa dor cobria seu corpo, como um véu.

Ela tenta se lembrar das memórias todas, a luta no convés, inimigos e a escuridão, era tudo que sobrou na memória do homem, além da promessa de seguir em frente, isso sempre, sem olhar para trás, só em frente. Era um grande general, só precisava de alguns navios e iria invadir a terra dos inimigos, seguiria em frente, sempre.

Finalmente se levantando, pode ver o resto do barco desaparecendo no horizonte, afundava lentamente, até ver a ponta do mastro, por fim, submergindo com o resto de glória que ainda havia, e aquele que tantas terras capturou e tantos povos subjugou afundou no meio do nada.

A cabeça lateja. Ele pega um cantil largado ao lado de um infeliz, toma um gole e respira. Começa a buscar suas coisas, tudo tinha sumido junto sua memória, sobrará só o seu isqueiro e seu uniforme. Este tinha seus imensos rasgos, é verdade, mas era o seu uniforme e ficaria com ele. Limpou o escudo, que nunca se soltava da sua mão, sempre estava protegido.

Sua insígnia de general. A insígnia não estava com ele. De que outra forma ele poderia se identificar sem ser com ela?

"Que tal começar a procurar? Seu idiota!" sussurrou em seu ouvido o escudo.

E o homem começou a olhar no meio da areia, com desespero, pegava as vezes moedas, as confundindo com o objeto pretendido.

- É isso que você procura? - perguntou a menina, saindo do meio do bosque, tão nova, com uma estranha tiara de flores amarelas na cabeça e um pedaço de metal nas mãos

O homem novo naquele idioma e por muito tempo teve que procurar as palavras.

- Eu sou Willahelm, general de distantes terras, capitão dos mares – disse caminhando até a menina com o peito estufado – Esta é minha insígnia! – disse ele puxando das mãos da menina.

"General de coisa alguma e capitão sem tripulação" comentou com malícia o escudo.

- Você não pode fazer isso, eu achei! É minha por direito, isso é injusto, quem você pensa que é? Não! Eu encontrei – disse a menina, tentando pegar a insígnia de volta.

- O que por ela você quer? - questionou.

- Primeiro, me chamo Beare. Segundo, eu estou na minha última viagem, que tal ir comigo até a Vila? Eu conheço o trajeto, me contaram, mas não quero ir sem ter com quem conversar – afirmou a menina.

- Aonde fica isso? - questionou o poderoso soldado que muito prezava por sua posição no exército, representada por aquela insígnia.

- Aonde fica, agora pouco importa agora, você vai comigo ou não?

O homem estava prestes a abrir a boca para falar qualquer coisa, quando viu atrás da menina a alcateia vindo, um grupo de seis lobos cinzas, com olhos de vermelho vibrante e dentes que pareciam facas. Rapidamente o homem pegou a menina com uma das mãos e a pôs encima de uma árvore.

A lutava estava, como era de esperar, sendo difícil, Willahelm que estava muito machucado, apenas lutava como dava, com o escudo dançando de um lado para o outro e entre mordidas e rosnados – estes nem sempre vindo dos lobos.

O homem teve um estalo de memória e quebrou a parte debaixo do isqueiro sob uma árvore e ateou fogo a ela com a pederneira presa ao escudo, os lobos ficaram amedrontados com o fogo que crepitava pela árvore e começava a se espalhar para árvores em volta.

A menina ficou horrorizada com a cena da floresta queimando. Ao que o homem apenas a colocou nas costas e correu mais adentro do bosque.

"Como pode você não ser capaz de enfrentar o primeiro dos contratempos nessa última viagem rumo ao fim da história?" sussurrou o escudo na cabeça do homem "você é um fracasso mesmo".

O homem continuava correndo, sempre em frente. Cada vez mais abrigado pelos braços verdes das árvores, até acabar parando defronte a uma clareira, onde o fogo não poderia atingi-los, enfim, soltou a menina.

- Só acompanhar-te? - disse o soldado.

- É. Vamos então? Eu sabia que você iria querer! Eu mal posso esperar. Vai ser legal ter alguém para conversar, eu estou super nervosa, digo, todo mundo fica numa viagem assim né? Bom que bom que vamos, vamos mesmo né?- disse a menina com alegria.

- A gente vai amanhã, agora você precisadescansar um pouco – disse o poderoso soldado caindo no chão, com a cabeça naterra.

A Estrada IpsocêntricaWhere stories live. Discover now