Capítulo III: Sobre barganhas e valor

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Por mais algumas horas eles caminharam pelo mangue, a paisagem começava a normalizar, as árvores voltavam a sua forma comum, com raízes debaixo da terra, a água começava a baixar e o sol começava a correr para o horizonte.

A menina desceu de volta ao chão para caminhar sozinha.

- Começo a me cansar – disse o homem – Sabe onde descansar podemos?

- Você admitindo cansaço? – a menina bocejava ao falar – Acho melhor passarmos o pedágio antes. Quando chegarmos lá, poderemos descansar.

- Pedágio?

- Sim. É só uma ponte, onde uma velha fica. Nós pagamos e pronto. Todo mundo que faz essa viagem paga o preço, estamos quase lá.

O homem abriu a boca para falar, mas em meios a padrarias, ele pode ver o rio que corria, ele era longo e muito agitado, mas não era só isso, naquele ponto, parecia especialmente destrutivo. Focando na ponte, lá estava, cruzando o rio, com a velha parada na sua passagem.

Os dois andaram até a guardiã do pedágio, a ponto de bem a observar. Era muito magra, com a pele enrugada por cima dos ossos com seus cabelos brancos e ralos.

Podiam ver a outra margem agora, a floresta era densa, com suas arvores subindo alto no céu e as copas tampando o sol. Essa cena fazia uma distinção entre o claro do céu com o escuro do chão, separados por uma linha verde infinita no horizonte.

- A gente está quase na floresta já – comentou a menina.

"Por que ainda estamos nessa? Dá para voltar, dá para voltar"

- Bom dia meus viajantes.

- Bom dia senhora – respondeu Willahelm – Estou precisando para o outro lado ir, tem como dar licença?

- Apenas passa aqueles que pagam o preço – respondeu a velha.

- Mas entenda, dinheiro não o tenho – disse o homem.

- Não preciso de dinheiro. O preço que cobro é bem mais prático, preciso daquilo que você carregue que tenha mais valor. Preciso de um fardo.

"Finalmente, todos saberão o tipo de homem que você é"

A menina olhava para o homem, seu rosto transparecia confusão.

- Meu escudo?– disse o soldado.

"Ah claro, como se pudesse me abandonar. Eu não sou o tipo de coisa que alguém abandone, não sem anos com um profissional qualificado"

- Mas seu escudo não é o que mais lhe vale – respondeu a velha.

- Meu uniforme já está muito rasgado, mas nu não irei – disse o homem.

- Mas seu uniforme não é o seu fardo, só um simbolismo – disse a velha.

- Toma – a menina disse entregando a coroa de flores para a velha.

E a velha deu passagem para a menina, que parou na ponte.

- Vamos! – gritou Beare por detrás da velha – Eu quero continuar a viagem com você!

- O que quer você? – perguntou Willahelm já se irritando com a cena toda.

- Você sabe o que eu quero – respondeu a guardiã da ponte.

- Não, não posso dar a insígnia – disse o homem.

"Sempre soubemos que você é assim, agora vamos voltar!"

- Então não poderá seguir sua viagem.

- Por favor, é só metal – gritou a menina que explodiu de raiva, sem perceber que duas décadas da vida do homem estavam naquele pedaço de metal – Você é tão irritante! O que custa? É só metal! Não significa nada. Eu não significo mais que isso?

- É a maior honraria que conceder o reino pode! – gritou o homem, que já perdeu completamente a cabeça – Apenas um lutador conseguir poderia!

- Então seja um lutador no lugar de ser homem! – gritou a menina como somente a juventude poderia proporcionar – Eu tenho que terminar minha viagem, quero descansar!

- Me deixe passar! – disse o homem para a velha – Me deixe!

Contudo, ela apenas ficou ali, parada, impassível.

- Por favor! – o homem superou a raiva e agora suplicava – É só o que eu tenho! Não posso lhe abandonar – Willahelm implorava.

A menina finalmente atravessará a ponte e adentrou a floresta. E ele a perdeu de vista.

"Ótimo, você chegou finalmente ao fundo, não tem mais ninguém agora, sem exército, família, ou mesmo esperança de chegar ao fim. Vamos voltar, você precisa de um barco, aqueles que mataram quem você ama merecem morrer. Não finja que dá para mudar quem você é"

- Por favor! Eu não posso perder ela – disse o homem.

- Deixe seu fardo – disse a velha.

E o homem começou a tremer de raiva, com a insígnia em mãos.

Com o coração angustiado com o peso da decisão.

Os traumas de uma vida o puxando ao chão.

Custava entender a situação.

"Você já deveria estar acostumado a perder as pessoas para defender as coisas, não sei porque reclama agora. Vamos embora, eu sei o caminho"

Por fim o homem olhou mais uma vez para afloresta sombria em que perdia a menina e para a insígnia que significava portudo que lutou, e tudo pesou no seu coração

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