Track 11

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Sobre o sono da razão, a flor selvagem e minha doce estrela

Tomaram o desjejum na pousada, por insistência de Yushi Huang.

Mesmo que Huan Shui alegasse educadamente que não era um hóspede, ela sorriu inquebrável e dizendo: “Somos todos conhecidos aqui.”

A cantina da pousada era rústica e charmosa, seguindo a tendência minimalista dos demais quartos e dependências.

Havia alguns outros hópedes e numa das mesas estavam Jun Wu e Huan Shui.

Geralmente não era Huan Shui quem puxava conversa, mas era Jun Wu considerava um progresso que ele estivesse ocupando a mesma mesa, sentado de fronte a ele enquanto comia uma salada de frutas.

Quieto, reservado, o cabelo preso numa trança, como de costume.

— Antes de tudo... Desculpe por não ir te encontrar no horário combinado. — Jun Wu retrucou, após mastigar seu juan Chun¹. — Não foi proposital, por mais que possa parecer o contrário.

— Eu percebi que não foi fingimento... Mas, porque estava dormindo na varanda ao relento?

O tom de Huan Shui era realmente intrigado, ainda assim discreto. Como se estivesse curioso, mas não quisesse se envolver demais.

— Tenho uma séria dificuldade para dormir... No entanto, essa é a primeira vez que durmo numa varanda, creio que foi por conta de um pesadelo que eu tive.

— Você tem muitos pesadelos?

Por alguma razão, Jun Wu achou que aquela não era uma simples pergunta. Talvez pelo modo como Huan Shui olhava em sua direção, de um jeito arguto e suavemente perspicaz.

— Houve um tempo que eu tinha com frequência... Eles tinham parado no período da turnê com a banda.

— Eu não entendo... É evidente para mim que você queria estar agora com o resto da banda. Veio para cá contra vontade?

— Não... — Jun Wu replicou depois de rir baixo. — Que ideia... Eu estou justamente onde eu quero. Por mais workaholic² que eu seja, admito que estava precisando de uma pausa.

Huan Shui ouviu a sentença, engolindo os pedacinhos miúdos de frutas com o sumo e apontou a colher de sobremesa para Jun Wu.

— “O sono da razão produz monstros”... Já ouviu essa frase?

— Não tenho certeza... O que isso quer dizer?

— É o nome de uma pintura, uma obra de Goya³... Quer dizer que “a imaginação abandonada pela razão produz monstros impossíveis”.

Jun Wu piscou os olhos reflexivo, tomando de seu copo de suco. A bem da verdade, ele não queria pensar o que fazia sua razão abandonar sua imaginação.

Tudo que queria fazer era seguir o dito por Hua Cheng.

Perder-se de si mesmo para se encontrar em alguém.

— Não me diga que Huan Shui é estudante de artes?

— Não sou... Mas, eu gosto de filosofia. Quando olhei para você dormindo daquele jeito abraçado ao violão, lembrei dessa pintura de Goya. Nela há um homem sentado na cadeira, mas dormindo sobre a mesa... Como se quisesse continuar com os seus esforços, mas o corpo exaurido o impedisse de continuar. Esse não é exatamente você, Jun Wu?

Huan Shui fazia questão de mater o foco em sua pessoa e Jun Wu tornou-se um pouco mais sério, colocando o prato com seu desjejum de lado:

— O que mais tem nessa pintura... Além desse homem?

Starlight ☆ | HOB [Modern Au]Where stories live. Discover now