2 - O Fantasma da Insanidade

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- Estava começando a contar sobre mim, meu amigo Luan? Eu que não existo? Então por que você nunca ousa olhar nos meus olhos? Tem medo de encarar o que não existe? - perguntou o ser, ocupando novamente o vazio do banco com um sorriso quase silencioso, carregado de sarcasmo.

"Não vou responder, ele não existe!" - Luan tentava racionalizar internamente. "Isso vai passar, como sempre acontece!"

- Não vai ter showzinho hoje? - provocou novamente.

Luan não piscava os olhos, mantendo-os fixos em um ponto neutro onde podia observar outros moradores da praça se abrigando do sereno forte da madrugada, debaixo do toldo de uma loja. Sua boca seca contrastava com as mãos suadas, que se moviam de forma instável, tão rápidas quanto seu coração acelerado. Ao seu lado, a figura sinistra permanecia imóvel no banco, falando ocasionalmente com uma voz rouca e aterrorizante ou mantendo um silêncio ainda mais sinistro.

- Isso é uma lágrima? - zombou Natanael.

Algumas pessoas têm medo do escuro, mas sabem procurar por uma vela para acender. Outras entregam-se ao desespero e gritam. Para Luan, era inadmissível pertencer ao segundo grupo, especialmente sendo alguém que sempre criticou aqueles que acreditavam em fantasias, sempre colocando a razão em primeiro lugar.

Era claro que a bebida era o convite para a chegada daquela presença indesejável. Bastavam alguns goles para ouvir sua respiração profunda e sentir o ar gélido ao redor. Mas a promessa de tomar apenas dois golinhos para se aquecer do frio nunca era cumprida. Assim, Luan tentava se convencer de que aquilo era apenas imaginação, mas gradualmente perdia toda a vaidade e o controle.

- Você não existe! Não existe! - repetia, com a voz embargada pelo choro e pela raiva em seu ritual quase diário, onde permitia que sua personalidade calculista e inteligente fosse totalmente desfigurada. A cada dia, essa personalidade se enfraquecia, dando lugar a um homem assombrado, perdido e sem rumo.

- Você não pode existir! Está apenas dentro da minha cabeça! - continuava dizendo para o invisível, com os olhos enlouquecidos, perdido em seus pensamentos. - Pobre Ísis! Não é minha culpa, é daquele maldito, foi ele quem a matou! Um looping mental sem fim, no qual Natanael claramente se deleitava, e que era além das forças do infortunado Luan controlar.

Natanael, com seu sorriso sarcástico usual, apreciou o auge da insanidade de sua vítima e começou a se afastar lentamente rumo à escuridão. Caminhou até desaparecer, deixando Luan atônito revivendo as cenas: primeiro a imagem da jovem Ísis lhe pedindo ajuda, depois a captura selvagem da jovem no dia de sua internação no hospital psiquiátrico, depois a viu sendo levada por Elohim no mar escuro da impiedosa noite; podia ver essa última cena com riqueza de detalhes, apesar de nem tê-la presenciado.

Bastaria o seu próprio looping mental para assombrar seus dias, mas a presença de Natanael acentuava tudo o que havia de mais obscuro dentro de si.

Esforçou-se, então, para chegar em sua cama de papelão na tentativa sem sucesso de dormir. A falta de sono era considerada sempre como um castigo, pois este era o único momento em que tinha seus tormentos anestesiados.

Pela manhã, apesar da cabeça pesada, Luan aceitou continuar a entrevista, sentindo-se humilhado como sempre, pois estava claro que fazia apenas para ganhar uns trocados e comida para si e para seu cão.

No início, Luan até planejou inventar uma história falsa, qualquer coisa para agradar a jovem apenas. Afinal, o que uma estudante de dezessete anos entenderia sobre psicologia humana? No entanto, Luan se identificou de certa forma com a mocinha simpática, pois ele mesmo havia se formado como auxiliar de farmácia aos dezenove anos e já estava trabalhando mesmo antes disso.

Casulo - Os ReencarnadosWhere stories live. Discover now