16 - A Escolha

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Luan, entre risos, provocou Ian: – Parece que suas mães andam contando muitas histórias fantásticas para você, não é?

Natã, em sua constante zombaria, acrescentou: – Eu sabia que você ia gostar dessa parte da conversa... já pensou que irônico seria você ter sequestrado a própria Ísis!?

Luan sentiu um imenso baque ao refletir sobre aquelas palavras, ainda mais após aquele sonho recente: "Se isso fosse verdade, eu, que no início queria me vingar do Elohim para fazer justiça para minha amiga, agora seria o seu próprio vilão!" – pensou, contorcendo seu rosto entre as mãos, confuso demais para emitir uma palavra.

Ian, arrependido da sua confissão, mexia nas suas cartinhas misteriosas desastradamente, lembrando o conselho de seus pais para não falar esse tipo de assunto com outras pessoas, pois elas não entenderiam.

– Ops, você está derrubando tudo, – disse Luan, pegando as cartas para o garoto, enquanto tentava esquecer daquilo tudo.

– Tô com saudades da minha família, me deixa ir com eles. – pediu Ian com olhar suplicante.

– Só mais um pouquinho, logo você estará em sua casa, – respondeu Luan, quando Natã explodiu em fúria dizendo:

– Você só pode ser insano! Agora que o menino sabe o seu nome, ele pode contar que você é o sequestrador, então, na melhor das hipóteses, você vai definhar nas entranhas da prisão!!

– Tudo isso é sua culpa! Foi você quem quis fazer isso! – gritou Luan para o invisível, chutando o ar como se pudesse atingir seu atormentador, e prosseguiu: – Você me transformou num monstro condenado!

Natã, só observava sorrindo, como sempre fazia quando Luan se descontrolava. Era um deleite que valia a pena ficar só assistindo.

Somente após alguns minutos de insanidade, Luan caiu em si e notou que o garoto, apavorado, havia se escondido dele, trancando-se no banheiro.

– Agora sou realmente um monstro insano e condenado, por sua culpa!! – insistiu Luan, exalando ódio e desprezo.

– Pare com esse drama! Basta largar o menino aqui preso que ninguém vai encontrar! Siga a sua vida em um lugar distante! – comentou Natã, ardiloso, com confiança em seu plano simples e perfeito. Prosseguiu:

– O nosso objetivo terá sido alcançado, pois o Elohim vai passar o resto da vida torturado sem notícias do filho!

Luan, atônito com tanta frieza e crueldade, andava de um lado para o outro em pânico, quando finalmente desabou no sofá, sem forças, dizendo:

– Eu não consigo mais viver assim, Natã! Me liberta ou me mata de uma vez, por favor! – Ao dizer essas palavras, a imagem de Ian pedindo por sua família veio imediatamente à mente de Luan, fazendo-o não pensar apenas em si e logo as lágrimas o inundaram.

– Pode ir, Luan. Vá seguir a sua vida, você já fez a sua parte! – respondeu Natã, satisfeito, para sua surpresa.

– Como assim? Posso ir, sem você me perseguindo? – perguntou Luan, confuso.

– Já tenho o que quero, pode ir! Você está livre! Parabéns pelo trabalho! – respondeu o fantasma indicando a porta.

Luan desconsolado, não conseguia aceitar a ideia de simplesmente abandonar Ian ali, indefeso e esperando a morte. Mesmo assim, levantou-se e pegou suas coisas, cheio de remorso. Olhou uma última vez para o garoto acuado pela fresta da porta do banheiro e para Natã, que sorria simpático sentado no sofá.

Luan abriu a porta do esconderijo e a fechou bem pelo lado de fora, garantindo que Ian não conseguiria abri-la. Após dar alguns passos e certificar-se de que ninguém o seguia, apressou o passo, sem paz, porém, sozinho após tanto tempo assombrado. Sabia que isso não duraria, pois tinha um plano e estava ciente de que pagaria as consequências.

Finalmente, chegou ao seu destino: o telefone público.

– Elohim? – perguntou após poucos toques de chamada.

– Por favor, me diz que meu filho está bem! – respondeu logo o pai em desespero.

– Sim, está. Anota aí o endereço para buscá-lo. – disse para a surpresa de Elohim.

Sem entender por que o sequestrador informava o endereço sem pedir dinheiro pelo resgate, ele apenas tomou nota imediatamente.

– Estou indo agora mesmo! – confirmou o pai de Ian com uma ponta de alívio.

– Nem precisa chamar a polícia, ele está sozinho lá. – afirmou Luan.

– Por que você está me ajudando? – Elohim questionou.

Um choro incontrolável invadiu Luan nesse momento, então, respondeu aos prantos: – Porque eu nunca quis fazer isso, o que eu fiz não tem perdão, eu sinto muito. – não suportando mais tanto remorso, concluiu dizendo: – Eu sou o Luan.

Evitando mais conversas, Luan desligou o telefone e voltou para perto do esconderijo, pois, sabia que não teria paz até ver o menino na proteção de sua família.

Há poucos metros do local, sentou-se na calçada, logo atrás de um carro, observando toda a movimentação sem ser visto.

Não demorou muito para duas viaturas da polícia e o carro do Elohim chegarem. Por mais que a polícia pedisse para os familiares se afastarem devido ao suposto perigo, eles não obedeceram e invadiram desesperadamente o esconderijo, ignorando os procedimentos policiais.

Logo, Jasmim apareceu do lado de fora, entrando no carro agarrada com o filho nos braços e Elohim ao lado. Era difícil suportar aquela cena tão comovente, principalmente, por saber que ele era o causador do sofrimento.

Mesmo assim, por um lado um alívio o preencheu, por outro, Luan sabia que tinha arrumado um enorme problema. E ainda sentado ali, viu Natã vindo ao seu encontro.

– Você realmente não sabe a besteira que fez! – disse Natã, contendo sua ira.


Casulo - Os ReencarnadosWhere stories live. Discover now