Capítulo 16 - Renato

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Renato

Minha cabeça latejava e nem era porque eu havia bebido muito ou fumado, eu sabia que aquilo era pelas incontáveis horas que eu havia ficado sem comer.

Fora o perfume de Kátia que fazia meu estômago dar voltas e voltas dentro de mim.

Sem se importar com ela que descansava em meu peito, me levantei e sentei na cama procurando onde eu havia jogado a minha camiseta.

-Amorzinho? -Ela me olhou com cara de sono. -Onde você vai?

-Pra casa. -Vesti a camiseta preta.

-São cinco horas da manhã, vamos dormir! -Ela olhou brava.

-Eu vou pra casa. -Coloquei uma das meias.

-Mas a gente nem foi pro segundo round... -Ela falou com a voz melosa, passando as mãos pelo meu corpo.

Sua voz era irritante e seu perfume me enjoava ainda mais. Sem pensar duas vezes a empurrei:

-EU JÁ DISSE QUE EU VOU PRA CASA!

Ela me olhou com cara de choro, mas eu continuei impassível, peguei minha jaqueta e me levantei.

-O que tá acontecendo? -Xander se levantou do sofá ao lado com os olhos vermelhos e o cheiro de maconha.

-O Renato tá ficando doido! Quer ir embora!

-Uia, por quê?

-Porque eu quero! -Respondi caminhando até a porta. -Eu não devo satisfação para nenhum de vocês dois.

Sai e o ar gelado do amanhecer me envolveu. Eu estava longe de casa, na verdade a gente estava em um cômodo abandonado e comecei a caminhar o mais rápido possível.

Assim que cheguei no ponto de ônibus, peguei o primeiro que vi, afinal eu morava na cidade e todos os ônibus iam para o centro. Era domingo, então o ônibus estava quase vazio, apenas algumas pessoas sentadas com seus fones de ouvidos indo trabalhar.

Me sentei no último banco e encostei a cabeça na janela, mesmo sendo um rapaz totalmente diferente dos demais, que tinha amigos, uma namorada e dinheiro, eu me sentia estranhamente infeliz.

Era uma tristeza que não tinha motivo nenhum aparentemente e isso me deixava com raiva. Por que eu não conseguia ser feliz? Eu poderia fazer o que eu quisesse!

Comecei a chorar ali sozinho. As lágrimas eram quentes e faziam minha cabeça doer ainda mais.

Droga.

O sol já aparecia entre os prédios da cidade e dei o sinal para descer, sequei as lágrimas e abri a porta de casa.

Joguei as chaves em cima da bancada e escutei algumas vozes vindas da cozinha, era a voz da minha mãe e...

-Pai? -Olhei para o homem que estava de costas para mim, sentado na frente da minha mãe. -O que esse cara tá fazendo aqui, mãe? -Gritei alterado.

-Meu filho, se acalme. -Minha mãe se levantou. -Seu pai veio apenas conversar.

-Conversar? Agora? Acho que está meio atrasado, né? Depois de três meses que você fez a minha mãe sofrer! Poderia ter pensado isso antes!

-Filho... -Meu pai se levantou e tentou se aproximar de mim, mas eu recuei agressivamente.

-Você perdeu o direito de me chamar de filho quando nos deixou. -Falei venenosamente. Dava para ver que cada palavra minha o machucava, mas era isso que eu queria, eu queria que ele sentisse um pouco da dor que eu estava carregando por todos aqueles meses.

-Por favor, vamos conversar...

-Saia da minha casa! -Gritei.

-Renato...

-Agora!

Ele continuou no mesmo lugar e senti o sangue subi a cabeça, era capaz de fazer alguma besteira ali que eu me arrependeria depois. O silêncio entre nós dois parecia gritar e o clima era pesado de mais.

-Rogério, é melhor você ir embora. -Minha mãe se levantou e veio até nós colocando a mão sobre o ombro daquele homem.

-Mas... -Ele tentou argumentar.

-É senhor Rogério, melhor você ir embora. -Repeti na maior pose de que aquilo não me atingia.

Mas me atingia e como!

Meu pai pegou as chaves e a carteira e começou a andar em direção a porta acompanhado pela minha mãe. Uma parte de mim queria correr e pedir que ele ficasse, mas a outra era maior, e foi essa que me fez subir as escadas e ir para o meu quarto.

Fechei a porta e fui até o banheiro pegando alguns comprimidos, mas nem aquilo me fez dormir.

Eu só queria fechar os olhos e fazer tudo aquilo parar.

Eu não queria morrer, mas não queria continuar naquele caminho que eu estava. Era como se eu andasse em círculos e no escuro, sem enxergar um palmo a minha frente.

Se eu não conseguia sequer enxergar o caminho pelo qual eu estava percorrendo, quem dirá uma maneira de sair dele.

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