─ Mariana, se eu tiver que te chamar mais uma vez, eu vou arrombar essa porta e te arrastar pelos cabelos!
A voz da minha mãe soava abafada do outro lado da porta, eu já havia até me esquecido como era ter que lidar com o som estridente dela me acordando para poder ir à escola. Depois de dois meses de férias levantando tarde todos os dias, não sei como ela ainda esperava que eu tivesse forças para chegar na hora certa hoje.
─ Mariana! Não me deixe falar de novo com você, mocinha!
─ Já vou, mãe! ─ gritei de volta, arrastando a minha mão até o pequeno armário que ficava ao lado da minha cama para poder desligar o celular que gritava a cada cinco minutos, devido à quantidade de vezes que eu tinha colocado o alarme.
Esfreguei os olhos e me empurrei em meio ao cobertor, até que estivesse de pé e ele derrubado de qualquer jeito no chão. Parei em frente ao espelho que ficava pregado na parede, quase como um ritual para ver a minha cara inchada e marcada pelo travesseiro.
Droga, isso demoraria sair.
Para o meu consolo, o cabelo não precisava de tanta coisa, uma mão aqui e outra ali, e eu podia sair assim. Peguei meu uniforme, a toalha e o celular, olhei para o visor e vi cinco chamadas não atendidas de Melinda e uma mensagem da Isadora.
"Passando para te buscar em quinze minutos". A mensagem havia chegado há uns dez minutos, isso é sinal que eu estava muito, muito ferrada.
Parei em frente a porta do banheiro, encontrando-o trancado e o barulho do chuveiro ligado. Soquei a porta diversas vezes, até ouvir o barulho cessar.
─ O que foi? ─ a voz da minha irmã soou lá de dentro.
─ Eu preciso tomar banho, tô atrasada para aula ─ gritei de volta.
─ Pensasse isso antes de ficar enrolando na cama até agora ─ berrou e voltou a ligar o chuveiro, cantarolando desafinadamente alto em seguida.
─ Urgh! ─ resmunguei e cruzei os braços, a toalha pendurada no braço e o celular na mão para que eu olhasse de um em um segundo a hora.
Assim que terminou, minha irmã passou voando ao meu lado, sem nem mesmo olhar para mim. Essa era a nossa rotina diária, cada um apressado e tentando resolver a sua própria vida.
Enfiei-me para dentro do banheiro e tomei aquele banho de gato, só para não chegar fedida na escola, afinal, quem é que consegue tomar um banho decente antes das sete da manhã?
Assim que finalizei, escovei meus dentes, fui vestir minhas roupas e terminar de me arrumar, passei uma base e um pó no rosto para tirar a cara de peixe morto, um rímel de toque final e pronto, sacudi um pouco o cabelo e peguei meus materiais.
─ Sua amiga já buzinou umas três vezes aí fora. Não vai tomar seu café da manhã, não? ─ perguntou minha mãe quando eu passava na cozinha às pressas.
─ Não vai dar tempo.
─ Não faz bem sair sem comer nada. Quantas vezes já te disse isso, Mariana? ─ resmungou, enquanto arrumava a bolsa e eu catava uma banana de cima da mesa.
─ Quinhentas, mas obrigada por lembrar mesmo assim.
Joguei um beijo para o ar e saí correndo, a porta do carro parado em frente a minha calçada já me esperava aberta e eu podia ver Isadora teclar furiosamente o seu celular.
─ Bom dia, Cleyton. Bom dia, Isalinda! ─ Sorri, cumprimentando o motorista da minha amiga e ela.
Cleyton me respondeu com um aceno e inclinar de lábios, enquanto Isadora resmungava baixinho e jogava o celular dentro da mochila.
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Intocável
Teen FictionNo colégio Atlântica, Mariana conseguiu chegar a um status que poucos conseguem. Popular e em seu terceiro ano, ela e suas amigas adoram um desafio, no entanto, sempre tudo é muito tedioso quando as pessoas simplesmente cedem as suas vontades de mão...