Intocável

10 . O R E S U L T A D O

Nos outros dias, todos os testes haviam terminado e conseguimos com custo selecionar os futuros membros da equipe para completar os doze componentes de cada. Na hora do intervalo, a Treinadora Ernesta iria fixar a lista no mural da escola e deixar liberada pelo site também. Só se falava disso na escola. Passei todas as aulas da manhã ouvindo cochichos de apostas sobre quem estaria no time.

O sinal do intervalo tocou, peguei meu material e enfiei-o todo na mochila para sair. Heitor já me esperava na porta e estendeu a mão para entrelaçar a minha na dele enquanto andávamos pelos corredores do colégio. Nessa época da seleção e dos jogos, ele ficava mais próximo do que o normal. Às vezes eu tinha minhas dúvidas do quanto ele queria manter o papel de superior no colégio ou apenas gostava de ter alguém que embarcasse nessa loucura com ele. De toda forma, eu dificilmente dizia não para Heitor e não é como se eu não gostasse de quando ele assumia o papel de namorado amoroso, desde que ele não quisesse dar uns amassos na frente de todo mundo.

Pouco a pouco, o restante do time foi se juntando a nós. Éramos imponentes. Macucos e Bromélias. Se um de nós era visado, não havia como não chamar atenção quando estávamos todos juntos. Até Melinda juntou-se ao grupo, ainda que ela odiasse isso e rolasse os olhos mil vezes. Foi a última a se unir e parou no canto mais distante.

Pisquei para ela ao longe, agradecida por fazer parte, de qualquer forma. E ela revirou os olhos como se não fosse nada, dando um pequeno sorriso para mim.

Estávamos todos agora de frente ao mural, era como um ritual sempre que havia anúncio dos novos integrantes. A treinadora começou com isso e, todos os anos, independente de quem estivesse na equipe, era repetido. Ela dizia que era uma forma de receber os novos jogadores, mas eu sei que na cabecinha de Heitor era só para se mostrar importante mesmo.

Independente de qualquer coisa, uma multidão se formava por ali. O papel no mural sempre saía antes do site. E mesmo que fossem poucos minutos de diferença, as pessoas estavam muito ansiosas para esperar e todos embarcavam no ritual do time, loucos para saberem quem seriam os próximos a entrar automaticamente no topo da cadeia de popularidade do colégio.

— Licença, licença — a treinadora chegou com uma pastinha na mão no meio daquela multidão de alunos.

Ela encostou perto de nós, ignorando os estudantes que pediam para que ela anunciasse logo.

— Acho que esse ano eles estão mais eufóricos do que nunca — ela murmurou e eu ri. — Quer fazer as honras? — A treinadora virou-se para Heitor e, pela primeira vez, o vi surpreso pela alteração da rotina.

Era sempre a Sra. Ernesta que fazia isso, ano após ano. Passar o bastão para ele assim significava muito. Pensei ter visto algo no olhar dele por um segundo, mas logo estava de volta ao seu habitual, um sorriso arrogante no rosto enquanto pegava os papéis da mão dela e era retribuído com uns tapinhas nas costas.

A treinadora encostou-se ao meu lado, ficando no meio do grupo enquanto observamos Heitor caminhar no meio da multidão, as pessoas abrindo caminho para ele passar. Eu não tinha visto Guilherme em lugar algum e, por mais que eu quisesse ir atrás dele, não poderia. Afinal, por que ele não estava aqui para ver o resultado?

Heitor pregou as listas no mural e, bastou ele dar um passo para trás, que o alvoroço tomou conta. Ele voltou para onde estávamos enquanto ouvíamos algumas reclamações e outros gritos eufóricos. Percebi Hugo se espremendo por meio dos alunos até conseguir chegar ao local também.

— Você não contou pra ele? — sussurrei para Heitor, apontando com a cabeça para seu irmão.

— Não. — Ele riu.

— Você é malvado, Heitor.

— Não dessa vez. — Ele me olhou com um olhar divertido que me fez duvidar. — É mais emocionante assim, vai por mim. Observe a expressão dele.