2 . A A M E A Ç A

479 66 31
                                    

O restante das aulas da tarde passaram voando e, por ser segunda, só teríamos aula até três horas. No restante do horário, a nossa treinadora havia pedido para que Heitor e eu passássemos em sua sala, pois gostaria de conversar conosco. Mas como eu tinha ainda um intervalo de uma hora entre a aula e a reunião, resolvi ir para a quadra fazer uma corrida e gastar o tempo. Muitos de nós da equipe fazíamos isso, apesar de os meninos preferirem focar nas suas abdominais e flexões.

Caminhei até o ginásio e entrei no vestiário feminino, chegando lá enfiei minhas coisas no armário, troquei de roupa e saí amarrando o cabelo. Quando pisei o pé do lado de fora, Heitor me esperava com os braços cruzados e as costas escoradas na parede.

O "mais tarde" havia chegado cedo, eu deveria imaginar que ele não deixaria passar a confusão de hoje pela manhã tão rápido assim.

─ Diga... ─ Balancei a mão, indicando que ele poderia começar o beabá.

─ Que droga foi aquela hoje no almoço?

Na mesma posição que estava, ele permaneceu. Aquele era o seu jeito de, apesar de querer estar no controle, se manter despreocupado porque tudo saía do jeito que ele queria. Tipo... sempre. Então isso era novo.

Até porque, alguém que está acostumado a estar no poder nunca pensa que pode cair.

Heitor não precisava ter grandes músculos ou ser forte demais. Ele era alto, sim. Mas o que intimidava era a sua forma de olhar para as pessoas, era a sua confiança de estar no topo e ter o mundo aos seus pés. Não vou dizer que sua beleza não ajudava, mas isso não era tudo. Até porque pessoas bonitas existia por toda a parte, o nosso grupo era atraente por si só. Mas Heitor sempre foi o cara da frente, o que podia alternar entre o sorriso mais carismático e o mais gelado em questão de segundos. E ninguém queria receber a represália dele.

Bom... isso eram os outros. Eu poderia afirmar que conhecia Heitor um pouco mais do que todo mundo e, além disso, eu devia muito a ele. Então, apesar de não viver com medo como os demais, eu também não queria decepcioná-lo.

─ A Eduarda está mostrando as asas ─ respondi, escorando-me na grade que separava o corredor do vestiário da quadra.

─ Então corte-as.

─ É o que tentei fazer, mas não queria criar um caso na frente de todos do time em pleno primeiro dia da minha volta.

─ Por que isso dela agora? ─ Heitor descruzou os braços e colocou uma mão no bolso, um gesto despretensioso, mas que eu sabia que era um sinal que ele estava um pouco mais relaxado.

─ Não sei, talvez ela ache que tentando me atacar eu vou pegar mais leve com ela ou que me derrubando, ela possa conseguir uma vaga no time titular.

─ Besteira. ─ Heitor balançou a cabeça e fez um som com a língua. ─ Você é uma das melhores jogadoras do time e agora a nova capitã. Ela tá dando um tiro no pé. Faça-a entender isso.

Acenei com a cabeça e ficamos nos encaramos, apesar de a minha mente estar distante. Eu precisava dar um jeito na Eduarda antes que ela achasse que poderia ter algum poder sobre mim e eu faria isso ainda hoje. Há um ditado popular que diz que devemos cortar o mal pela raiz. Eu ainda acrescento: corte o mal pela raiz no instante que o descobrir. A erva daninha quanto mais tempo permanece, mais se espalha, chegando ao ponto de você não ter como mais eliminar somente ela, pois se mistura e sufoca todas as outras plantas boas.

Fiquei tão perdida nos meus pensamentos que só percebi Heitor diante de mim quando ele tocou a ruga que se formou entre meus olhos e alisou-a.

─ Relaxe. ─ Ele me puxou para os seus braços e abaixou-se, tocando a sua boca contra a minha em um beijo doce que ninguém esperaria dele, mas eu sim. ─ Você sabe o que fazer.

IntocávelΌπου ζουν οι ιστορίες. Ανακάλυψε τώρα