Posse

5.2K 456 25
                                    

Roselynn revirou-se na cama, chegou a colocar o travesseiro sobre a cabeça, mas o barulho não cessava. Morar à beira de uma linha de trem devia ser mais sossegado. Levantou-se de má vontade, apertando os olhos para confirmar o que já sabia: Era muito cedo. Seis horas da manhã era um horário indecente.

Será possível que no meu primeiro dia, já terei que lidar com um roubo? Os ladrões estão querendo levar o quê: as mesas e cadeiras? Por que os infelizes não conseguem ser silenciosos? - ela pensou, enquanto procurava as chaves do bar.

Estava com um pijama de seda que, de modo algum combinava com seu novo endereço. Não teve paciência para pentear o cabelo, arrumou-o num coque mal feito e, descalça, desceu as escadas que davam no fundo do bar. Procurou qualquer coisa, uma arma, um taco de basebol, mas não achou nada. Não sabia o porquê estava surpresa, a sua nova moradia era sucinta de móveis também. Teria que surpreender os bandidos com sua cara amassada de sono. Respirou fundo e abriu a porta. Andou até o salão principal e entrou nele com tudo. Três mulheres e dois homens assustaram-se com sua entrada intempestiva e ela não pôde fugir ao esguicho da mangueira. A água molhou parte das suas pernas e os pés ficaram encharcados.

- Vocês podem dizer como entraram aqui e o que estão fazendo? - Roselynn gritou, tentando se esquivar da água - Meu Deus, não sei se perceberam, mas são seis horas da manhã!

- Entramos com a chave, oras - um rapaz latino respondeu naturalmente, ele quem segurava a mangueira e nem pediu desculpas, apenas abaixou-a para não a molhar mais.

- Desculpe-nos, Rose - uma mulher rechonchuda de sorriso generoso olhou para ela- Segunda-feira é o dia de limpar o bar. Era assim que o seu pai fazia.

- Pode me chamar de Lynn, por favor? - ela pediu, sentindo frio.

- Esperávamos que já estivesse acordada - disse o outro homem, um pouco mais velho que o latino; era tão mal humorado quanto ela, e até bonito, por isso, olhou-o com certa simpatia, até ele abrir a boca - Afinal, como proprietária, tem que coordenar as atividades, todas elas.

Estou molhada, são seis horas da manhã e não vou discutir administração agora - ela pensou, se encolhendo.

- Perdoe o Santiago e o Brian, Rose... Lynn - a mulher se corrigiu - É uma pena que não se lembre de mim, mas a conheço desde criança - ela disse simpática - Sou a Meg, aquele é o Brian, o cozinheiro, estas são a Celeste e a Patty - as mulheres acenaram para ela - nós três atendemos aos pedidos nas mesas. O Santiago é o faz tudo.

- Sim, talvez porque eu seja o latino - ele disse provocando - Olhe só a quem coube ficar com a mangueira! Se tiver que carregar peso ou sujar as mãos, pode saber que eu estarei lá.

Roselynn tentou não sorrir, mas ele era engraçado. Não tinha como se esquecer de que a mangueira estava em suas mãos, afinal ele lhe dera um banho.

Os cinco ficaram olhando para ela, esperando que dissesse algo. Só queria voltar para cima, trocar de roupa, ir para debaixo das cobertas e acordar quando estivesse perto do meio dia.

- Bem, não sei como isso aqui funciona - foi sincera - Mal tinha contato com o meu pai nos últimos anos...

- Ele falava de você todos os dias - Meg a interrompeu, deixando-a sem graça.

- Nesses primeiros dias - ela retomou - Vou precisar da ajuda de vocês, porque nem sei o que farei no bar. Mas, conto com vocês, pelos próximos três meses.

- Como assim, por três meses? - Brian não entendeu, encarou-a com seu intenso olhar castanho - O que acontece depois desse período? Perdemos nossos empregos?

Roselynn ficou sem ação, poderia ter mantido a boca fechada e evitado explicações.

- Não sei ainda o que acontecerá, tudo bem, Brian? - ela tentou remediar - E ainda que eu venda este lugar, todos vocês terão uma parte no valor conseguido, acho que é justo.

- Madre de Dios! - Santiago exclamou, balançando a cabeça - Tenho certeza de que o Jack acabou de revirar no caixão - ele recebeu um olhar de repreensão de Meg e calou a boca. Roselynn observou o olhar preocupado das outras mulheres, não devia ter falado isso, mas agora já tinha dito.

- É apenas uma hipótese - ela retomou - Vamos manter o nível e o lugar em pleno funcionamento. E o que precisarem de mim, estarei a postos.

- Bonito discurso - Brian disse sério - Mas, por sua causa estamos atrasados. Daqui a pouco chega gente para tomar café. Portanto, sugiro que vá até lá em cima, troque de roupa, penteie os cabelos e volte com um bom sorriso no rosto, porque vamos precisar muito de você aqui embaixo.

- Posso saber por quê? - Roselynn arqueou uma das sobrancelhas. Será que ele falava com todo mundo daquele jeito?

- Boa parte da cidade virá homenagear o seu pai - Meg explicou - Foi assim, quando o velho Gilbert morreu. Todos os seus amigos foram à chapelaria e compraram qualquer coisa que fosse. Visitar o estabelecimento de alguém que partiu é uma forma de dizer que a pessoa faz falta e um modo de abraçar a família.

- Ok, que seja! - fez um gesto de desistência com as mãos, não precisava de abraços - Vou lá em cima vestir meu melhor sorriso e desço em seguida - disse olhando para Brian, depois se virou e saiu, deixando no chão suas pegadas molhadas à medida em que se afastava.

- Não vai durar uma semana - Brian cruzou os braços, quando ela sumiu - ela não suporta isso aqui, é óbvio que sua vontade é estar longe. Digo mais, vai vender, assim que puder, pois ela simplesmente não se importa.

- Ela é filha do Jack, Brian! - Meg disse esperançosa - Não pode ser tão diferente dele. Ela só precisa descobrir isso.


Rosas Para Você (Degustação) Where stories live. Discover now