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Roselynn suspirou aliviada. Olhou no relógio, nove horas da manhã e ainda na cama. Finalmente domingo, o único dia da semana em que o bar não abria. Em sua conta, o único dia em que os frequentadores assíduos ficavam em suas respectivas casas e em que o fogão era utilizado.

- O que vai fazer amanhã? - Patty lhe perguntara na noite anterior, um pouco antes de fechar, arrumando-se animada como se aquela cidade tivesse muitas opções.

- Vou ficar na cama até tarde - ela respondeu com naturalidade e percebeu a expressão surpresa da jovem mulher a sua frente.

- Estava me referindo a fazer algo para se divertir - Patty insistiu - Eu, por exemplo, vou a um picnic - a moça disse e não viu Roselynn revirar os olhos - Sei que Meg fica com a família, o Santiago vai viajar e Brian...

- Pode estar certa que se eu conseguir dormir um pouco, para mim será divertidíssimo - ela disse sincera, interrompendo-a, não queria mesmo saber o que o ogro faria em seu dia de folga.

- Onde você morava era assim que se divertia?- Patty perguntou interessada e Roselynn ergueu uma das sobrancelhas, por não estar esperando pela pergunta. Decididamente dormir não era uma definição de diversão em São Francisco, a menos que estivesse acompanhada e, se assim fosse, dormir não era o verbo correto. Ainda assim, não era o seu caso, Roselynn percebeu que antes não dava nenhum valor a uma noite bem dormida.

- Não, exatamente - ela disse, antes de dar o assunto por encerrado - Tenha um ótimo picnic!

Lembrando-se da conversa, espreguiçou-se na cama, planejando deixar-se ficar por mais tempo ali, quando a campainha soou pela primeira vez. Teria a ignorado se não soasse mais duas vezes, logo em seguida e de modo insistente. Disse um palavrão, antes de se levantar. Até que se pusesse apresentável para ir até a porta, a campainha tocou mais três vezes.

Quando abriu a porta, com a sua melhor carranca, deparou-se com dois homens, um mais novo e outro mais velho, uniformizados com um roupa verde musgo, puída de tanto que fora usada. Eles não eram bonitos, ao contrário, tinham os rostos bem normais, porém tinham o corpo de estivadores, com braços malhados de quem estava acostumado a carregar peso. Olharam-na com surpresa, talvez analisando sua figura do mesmo jeito, olhando suas mãos delicadas e seu jeito que não combinava com o bar. O mais velho, olhou na prancheta, conferiu o endereço:

- Pensei que o Jack nos atenderia - limpou a mão na calça, antes de estendê-la em sua direção - Sou o Niko e aquele é o Rod. Estamos aqui para entregar as bebidas - ele apontou o caminhão.

- Não são de Coldspring? - Roselynn perguntou sem graça, após cumprimentá-lo e acenar para o outro. O homem fez que não com a cabeça - Meu pai morreu há pouco mais de uma semana - ela disse séria - Lynn McKinney.

- Meus pêsames - Niko disse fazendo uma leve reverência com a cabeça - Suponho que o bar tenha fechado, então... Afinal, sem o Jack aqui...

- Ainda não - ela o interrompeu - Estou administrando, por enquanto - fez questão de frisar.

Niko deu um leve olhar para o parceiro, como se tomasse coragem para dizer o que precisava.

- Se é assim, bem... Acho que é com a senhora que devemos falar... Sobre o pedido - ele bateu o dedo na prancheta - Você sabe não é? Jack decidia tudo...

Roselynn não sabia, mas não ia dizer isso. Também não se importou em corrigir seu status para senhorita. Não imaginava que seu pai detivesse tantas responsabilidades. Além do mais, não podia haver nenhuma dificuldade em receber algumas bebidas.

- Claro, posso resolver isso com vocês - Roselynn disse séria.

- Seu pai fez um pedido da última vez que estivemos aqui - Niko trocou um olhar com Rod que confirmou - Bem, mas considerando os últimos acontecimentos pensei que poderia fazer algo por você.

- Algo por mim? - ela não entendeu - Descreva esse algo... - pediu desconfiada.

- Um desconto - ele sorriu timidamente - É o mínimo que podemos fazer diante dessas circunstâncias. Acho que devemos isso ao seu pai... Grande homem!

Roselynn pensou bem. Ainda ressoava em seu ouvido a frase de que ela não podia reclamar do prejuízo, já que não tivera atitude diante da briga. Então, mais para provar que podia fazer algo certo e que trouxesse lucro para o bar, resolveu aceitar o desconto. Passou a manhã toda vendo os homens descarregarem bebida suficiente para embebedar um exército. E, antes do almoço, após pagar o valor com desconto, viu o pesado caminhão sumir de sua vista.

Fechou a porta do bar e percebeu que não mudara nada desde quando era criança, ele ainda continuava cinza, um lugar escuro. Não entendia porque seu pai optara pelas cortinas que impossibilitava que o ambiente fosse visto pelo lado de fora. Suspirou, jamais ia entender, simplesmente porque o velho Jack não estava ali para lhe explicar. Mas, vazio o bar sempre a transportava para seu passado. Caminhou pelo salão principal e parou encostada ao balcão. Queria que o domingo não acabasse tão cedo, porque a simples ideia daquele lugar cheio de gente já era capaz de deixá-la cansada. O presente não era assim nenhuma maravilha.

Virou-se para subir, mas antes de dar o primeiro passo congelou, sem acreditar naquela brincadeira sem graça. Exatamente no mesmo lugar dos outros dias estava uma rosa. Só que dessa vez ela era roxa.

Rosas Para Você (Degustação) Where stories live. Discover now