Capítulo Quatro.

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- Como calculamos a aceleração linear entre os pontos A e B? - sou tirado dos meus pensamentos com a voz familiar da professora.

Estávamos a horas naquela sala pequena e abafada, aparentemente alguém achava que era um desperdício de energia ligar o ar-condicionado quando podíamos só abrir as janelas. Ned estava do meu lado, desde que eu tinha falado que ele podia ser meu nerd da cadeira ele não parava de fazer perguntas estranhas. Não importava onde eu estava, o Ned sempre seria o Ned.

- Flash? - a voz dela se fez presente de novo, Tompson tinha levantado a mão enquanto eu estava ocupado vendo notícias no notebook.

Aparentemente tinha um homem aranha nesse lugar também, e essa não era a parte mas chocante, as notícias diziam que tinham visto dois deles ao mesmo tempo em lugares diferentes. O que significava que eu não tinha sido o único a aparecer misteriosamente nesse lugar.

- O produto é seno do ângulo e gravidade dividida pela massa. - responde orgulhoso.

- Não. Peter? - responde ela, chamado minha atenção. Tiro meus olhos da tela e levanto o braço, sinalizando que estou ouvindo. - tá acompanhando?

- Tô, tô... - respondo rápido, fechando o notebook e olhando pra ela. - a massa zera. É só gravidade multiplicada pelo seno.

- Certo. Viu, Flash? - concorda ela, olhando pro garoto sentado em minha frente. - ser o mais rápido nem sempre é o melhor, se estiver errado.

- Eu te mato. - fala pra mim, se virando pra trás.

Será que tinha que ter um Flash aqui também?

[...]

- Hoje, vamos falar do físico dinamarquês Niels Bohr. - ouso a explicação entediante do professor.

Parecia que as horas não passavam, era aula após aula e eu ainda não tinha descoberto nada sobre como eu cheguei aqui. Ned até tentava me animar dizendo que assim que o sinal batesse me ajudaria a descobrir mais sobre esse lugar, mas não conseguia ignorar a ansiedade que corria pelo meu corpo. Não ajudava em nada saber que eu teria que ir pra torre Stark e passar um "tempo em família", com meu mentor zumbi.

Tentei me distrair fazendo mais fluido de teia, meu caderno estava completo de anotações e rabiscos espalhados, pelo menos aquele aula estava servindo pra alguma coisa. Eu não podia fazer no laboratório de Sr. Stark, porque seja lá onde eu estivesse ele não sabia que eu era um Super-herói, muito menos que tinha poderes. Eu não podia arriscar contar pra ele que eu não era o filho dele, não sabia como ele reagiria, muito menos o que faria se soubesse que seu filho de verdade estava por aí perdido e sozinho.

Ouso o sinal do intervalo anunciando a hora do almoço, levanto depressa e pego minha mochila, Ned vem logo atrás, parecia ansioso pra saber como era de onde eu vim, embora não fosse tão diferente assim.

- E então? - pergunta afobado.

já estávamos sentados no refeitório e as mesas estavam lotadas, mas ninguém parecia interessado em sentar com agente. Parece que até sendo filho de Tony Stark eu continuava sendo um fracassado, não que eu me importasse, Ned era o melhor amigo que eu podia ter e eu não trocaria sua amizade por popularidade e status.

- Então o que? - pergunto confuso, me virando pra ele.

- Como é de onde você veio? - pergunta entusiasmado. - o Ned do seu universo é legal? Tony Stark também é seu pai lá? Você tem irmãos? Quantos anos você tem? Eu tenho namorada? Você consegue...

- Ned! - interrompi confuso. - respira!

- Desculpa, mas isso é muito legal! - fala afobado. - eu ainda nem me acostumei a ir na sua casa e ver os vingadores, e agora eu descubro que meu melhor amigo é um Super-herói.

- Shiii, - aviso nervoso. Não quero que as pessoas saibam que eu sou o Homem-Aranha, mesmo que essa não seja minha casa de verdade ou minha escola de verdade. - fala baixo Ned, não quero que saibam que eu sou "você sabe quem."

- Tipo, Harry Potter? - pergunta me olhando torto.

- O que? Não! - nego divertido.

- Entendi. - responde sério.

- Olha, - chamo sua atenção, vendo ele olhar pra mim curioso. - aqui não é o melhor lugar pra falar sobre isso, mas eu prometo responder todas as suas perguntas quando agente for pra casa.

- Mas você sempre vai direto pra casa com a Morgan no final da aula. - explica apreensivo. -  O Happy fica esperando enquanto você vai buscar a sua irmã na sala dela, aí o segurança assustador do seu pai leva vocês pra casa e você e sua família passam a tarde juntos.

- Todos os dias? - pergunto chocado.

- Não, quartas e sextas são dias em família.

- Mas hoje é segunda, porque eles querem passar a tarde em família?

- Quando seus pais tem que viajar a negócios, como semana passada, eles aumentam os dias em família, aí vocês ficam segundas, quartas e sextas juntos.

- Entendi... - concordo perplexo.

Há dias atrás era só eu e a tia May, ela era muito ocupada com o trabalho, mesmo que sempre tentasse fazer alguma coisa comigo no tempo livre, e agora eu tinha uma família gigante e inúmeros tios super protetores. Eu não entendia porque isso estava acontecendo comigo, não fazia sentido.

- Peter? - ouso Ned me chamar. - você está se sentindo bem?

- Sim, sim... - respondo atrapalhado. - só preciso pensar um pouco.

- Peter, não quero atrapalhar, mas você tem que buscar a Morgan.

- O que?

- O campus dela fica do outro lado do nosso, você sempre busca ela pra almoçarem juntos.

- Ela não pode almoçar lá? - pergunto cansado.

- Até pode, mas vocês sempre almoçam juntos. - conta compreensível.

- Não sei se vou conseguir fazer isso Ned, isso tudo é muito novo e confuso e eu acho que não me encaixo aqui.

- Como assim, não se encaixa aqui?

- Com tudo, a família, os irmãos, a vida normal de adolescente no Queens...

- Isso não é verdade. - exclama aborrecido.

- É sim! - digo com a voz embargada, lutando contra as lágrimas que insistem em querer cair. - eu nem sequer consigo ser um irmão decente, estou aqui a um dia e já vou decepcionar a garotinha. Eu não sou o Peter que essas pessoas amam tanto... 

- Peter Benjamin Parker Stark! - briga decidido, segurando meus ombros pra que eu olhasse em seus olhos.  - eu não sei como é de onde você veio, muito menos tudo que você passou, mas eu não ligo se você é o Peter daqui ou o Peter de lá. Você é meu amigo, e eu não vou deixar de te amar menos do que eu amo o meu Peter. Não importa de onde você veio ou como chegou aqui, você é meu irmão, e eu tenho certeza que mesmo se sua família soubesse que você não é o Peter deles, eles ainda te acolheriam e amariam igualmente.

Fico chocado, o Ned de onde eu vim nunca gritou comigo desse jeito. - Mas...

- Você pode até não ser o Peter que a Morgan conhece e ama, mas ela ainda acha que é, então seja um bom irmão mais velho e vá buscar ela!

Ned tinha razão.

Eu podia até não ser o Peter que eles tanto amavam e se preocupavam, mas eles achavam que eu era, então eu não podia decepcionar eles, eu tinha que cuidar e proteger aquela família com a minha vida! Pelo menos até achar um jeito de voltar pra casa.

Estava decidido!

Eu não iria decepcionar Morgan, ela era minha irmãzinha afinal, ?

Como (não) ser um heróiWhere stories live. Discover now