Capítulo Quarenta.

281 27 5
                                    

- Morgan? - chamo curioso, subindo as escadas lentamente enquanto seguro a alça da mochila em meus ombros. Eu, Ned e Betty nós despedimos de Michele que decidiu ficar até mais tarde com Gwen para fazer uma pesquisa e descobrir onde a garota mora, e Andrew e Tobey que tinham que voltar para casa antes que seus tios ficassem preocupados. Paramos em uma cafeteria que Betty tinha dito ser fantástica e pedimos sanduíches e um pedaço de torta, mas eu tive que me despedir dos dois no percurso porque Ned queria acompanhar a namorada até em casa.

O percurso de trem foi mais rápido do que o previsto então fiquei aliviado ao perceber que Morgan não ficaria muito tempo me esperando, Pepper estava em uma conferência no estado vizinho e Tony e Harley estão lutando contra alguns agentes no centro da cidade. Não preciso me preocupar tanto agora que eu e Andrew tiramos os civis do perigo, gostaria de ajudar mais, não gostava de pensar que todos ainda estavam lutando e eu estava caminhando distraidamente pela rua, mas não podia arriscar ser notado pelos Vingadores, já tinha me arriscado demais.

Sei que não deveria me preocupar tanto, afinal eles eram os maiores heróis do mundo, mas não podia evitar me preocupar quando tinha passado tanto tempo com eles, não me orgulhava em dizer que tinha me apegado a essa estranha convivência, me assustava pensar como seria quando eu fosse para casa. Mas eu não podia pensar assim, tinha que me acostumar com a ideia e seguir em frente, meu lugar não era aqui e a tia May estava me esperando do outro lado, não deixaria ela sozinha.

Da mesma forma que não podia deixar a Morgan sozinha nesse momento, ela era minha responsabilidade e teria que cuidar dela enquanto Pepper, Tony e Harley estivessem fora. Não era nenhum sacrifício na verdade, Morgan era uma garotinha adorável e inteligente, gostava de passar o tempo com a castanha, talvez pudéssemos assistir à uma maratona de Star Wars ou montar um tabuleiro de quinhentas e poucas cartas, talvez pudéssemos até cozinhar juntos, provavelmente um bolo de cenoura com cobertura de chocolate, seu favorito.

- Morgan? - chamo mais uma vez, subindo as escadas até seu quarto. - eu trouxe um pedaço de torta de limão, Betty comprou especialmente para você.

Bato na porta três vezes nos últimos cinco minutos, esperando uma resposta que nunca chega. Talvez ela estivesse dormindo, não sabia se tinha direito de atrapalhar ou me meter na sua vida privada, garotas podiam ficar bem zangadas, pelo menos foi o que eu li em um livro sobre paternidade. Em minha defesa, era o único livro disponível naquela sala de espera apertada, e eu estava entediado ok?

- Morgan? - tento mais uma vez, tentando receber algum tipo de resposta do tipo "cai fora!" Ou "vai em bora!" O que seria uma resposta bastante razoável. - se você estiver ouvindo, eu pensei que podíamos passar a tarde juntos, podemos maratonar Harry Potter de novo se você quiser, ou montar aquele tabuleiro de quinhentas peças que você queria.

Silêncio né...

- Bom, se estiver com fome você pode comer a torta, ou talvez você queira outra coisa...? Podemos fazer um bolo de cenoura com cobertura de chocolate, seu favorito! A não ser que você queira outra coisa, então podemos fazer enroladinho ou pedir uma pizza? - suspiro envergonhado, me afastando da porta lentamente. Talvez se ela ao menos dissesse sim ou não eu poderia parar de perder meu tempo e sacar que ela não quer minha companhia. - ou se você não estiver me ouvindo, então só estou aqui falando sozinho...

Tudo bem... Quer saber? Não importa, ela provavelmente só quer ficar sozinha, é normal que garotas da idade dela prezem por sua vida privada, embora tenho certeza de que se Tony estivesse aqui ele simplesmente abriria a porta e obrigaria ela a descer e interagir com a família. Será que eu deveria fazer o mesmo? Mais isso não seria invasão de privacidade? Será que eu sou um péssimo irmão e só estou sendo inconveniente? Ou será que eu estou sendo um péssimo irmão e ela pensa que não ligo pra ela porque não tomei uma atitude e entrei de uma vez?

Isso é tão complicado!

- Tudo bem, então eu estou entrando! - digo rapidamente, tentando não suar invasivo. - se você estiver nua ou em momento particular por favor me avise!

Momento particular? Que momento particular? Ela é uma criança Peter, crianças não tem momentos particulares!

- Lá vou eu! - grito de olhos fechados, abrindo a porta rapidamente enquanto espero xingamentos e ataques de choro. - e-eu posso abrir os olhos?  

E agora? Eu deveria simplesmente dizer "vamos descer e conversar como pessoas civilizadas!" Ou "Eu entendo que queira ficar sozinha, desculpe te interromper!"

- Quer saber! - abro os olhos de uma vez, terminando com minha própria anciedade. - Morgan?

Tudo bem, não tem ninguém...?

- Morgan? Tem alguém aí? - droga, o que foi que eu fiz? Ela vai ficar muito irritada se souber que eu entrei no quarto dela! Calma Peter, relaxa! Você é o adulto agora, ela está sobre sua responsabilidade e ela não ficaria irritada com você, você só está entrando em pânico atoa. - ué, cadê ela?

O quarto continuava exatamente igual a de manhã, indicando que ninguém havia mexido em nada desde que Morgan foi para a escola. A cama estava arrumada e a escrivaninha milimetricamente organizada, o tapete felpudo coberto de ursos de pelúcia e papéis coloridos, o roupeiro repleto de figurinhas fechado e o pijama atirado sobre uma poltrona lilás no canto do quarto.

- Sexta-feira, onde está a Morgan?

"Morgan não chegou em casa Mini-gênio." - informa a IA, me deixando confuso.

- Como assim não chegou em casa? Ela estava na escola, deveria ter vindo direto pra casa! - grito assustado, olhando para cima como se pudesse ver o rosto da inteligência artificial. - quero a localização dela agora mesmo!

"Receio não poder ajudar, sua atual localização está indisponível."

- Você não sabe onde ela tá?

"Infelizmente não, seu chip de rastreamento está fora de área." - explica formalmente, me deixando pálido. - "você está bem? Sua pressão arterial diminuiu consideravelmente."

- Liga para o Happy, agora! - peço rapidamente, me sentando na cama enquanto puxo meus cabelos de forma nervosa, tentando normalizar minha respiração.

Não era a hora de entrar em pânico!

- O que é isso? - pergunto surpreso, vendo um pequeno cartão delicado sobre os lençóis.

"Para Homem Aranha. Assinado: P."

Como (não) ser um heróiOnde as histórias ganham vida. Descobre agora