3.1 Discussão

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Depois do caos do primeiro dia sem um barman, estávamos prontos para empregar todas as mudanças que eu tinha sugerido. Passamos a tarde inteira eu e as putas, treinando servir drinks e praticando o formato de "leilão".

- Não, Selena, ainda não é isso! Precisamos começar com uma música mais suave, as agitadas entram só na hora do microfone! — gritei por sob o som de uma guitarra e bateria para a negra. Ela desculpou-se com uma mão e voltou a mexer no notebook conectado à caixa de som, reorganizando a seleção.

- Então no Mojito vai gelo e na Margarita não? — minha atenção se voltou à Mercedes, que estava tendo algumas dificuldades com as bebidas.

- Isso, garota. Acho que agora você entendeu. — Limpei o suor da testa, cansado depois de carregar tantas garrafas e agitar tantos coquetéis para que elas aprendessem.

- ... Ela é gostosa, safada e topa orgia também! — ouvi a voz de Lola sair dos amplificadores, risonha enquanto Atibaia, a índia, posava na frente das luzes recém instaladas, mandando beijos para uma plateia invisível. Ignorei, ainda focado nas atividades do bar.

- Já sei, peguem o notebook do Papá e imprimam uma folha com todos os ingredientes da cada bebida. A gente manda plastificar e deixa aqui no balcão pelo menos por algum tempo enquanto vocês se acostumam. — Elas estavam todas me agradecendo, passando as mãos no meu braço, e eu logo concluí que sedução era seu estado constante de atuação.

Eu ainda recebia alguns olhares tortos, muito provavelmente porque ainda não tinha aprendido o código de conduta vigente ali, mas não era nada que me incomodasse além da conta. Eu sabia bem que mudar hábitos podia ser difícil, mas com o tempo elas se acostumariam com a minha presença e entrariam no meu ritmo de trabalho.

Vi elas se afastarem até o escritório, onde a impressora ficava, e fui até Lola, que ainda brincava com o microfone, agora falando indecências para distrair Selena da sua tarefa musical.

- Será que você pode parar e escutar minhas instruções como todas as outras? — Disse com a voz grossa, farto da sua desobediência. Ela não tinha ficado parada um segundo sequer durante o dia inteiro, e estava sempre fazendo qualquer outra coisa que não o que eu mandava.

Além de tudo, atrapalhava as outras garotas quando estavam concentradas em algo, e ninguém parecia se importar. Elas riam e brincavam com Lola como se ela fosse a queridinha do pedaço, sempre entrando na sua onda e atrasando seus deveres.

Sua sorte era que eu tinha estado ocupado demais para chamar sua atenção até agora, mas não passaria dali.

- Eu não sou todas as outras, amor.

Ela piscou e deixou o microfone no meu peito, rebolando para trás do bar e servindo-se mais uma dose de sua amada tequila. Aquela merda era cara e eu estava começando a perder a paciência.

- Já entendi, você faz o tipo rebelde sem causa. Eu não ligo, querida, desde que você pare de ficar no meu caminho. — Arranquei a garrafa importada da sua mão e coloquei em uma estante que ela não alcançaria sem ajuda.

- Você não vai querer comprar briga comigo, engravatado. — Riu em escárnio, e eu cerrei os olhos, nervoso com a provocação.

- Você vai pagar pra ver? Ah, espera, você não tem dinheiro. — disse, cínico, uma mão no coração como se sentisse muito. - Assim como ninguém aqui e é pra isso que eu fui contratado. Desce do salto e faz o que eu mando. — ordenei.

- Você não manda em mim. Só eu decido o que eu faço. — Ela tinha se colocado nas pontas dos pés para alcançar a minha altura, em uma tentativa de não parecer inferior.

- Vamos ver quanto tempo isso dura, prostituta. — Apertei sua bochecha como se achasse adorável seu esforço e me afastei para auxiliar Selena com a playlist.

Segundo dia de trabalho e já tinha uma inimizade. E bem com a pessoa que me convenceu a aceitar o emprego para começo de conversa. Aquilo seria interessante.


- Aquela menina é sempre impossível assim? — Perguntei a Papá, depois que todo mundo foi embora para tomar um banho e se trocar para a noite.

Murilo ressonava calmo no colo de Priscila quando voltamos ao escritório, ao terminarmos de conferir os últimos detalhes no salão. Eu tinha a tarefa chata agora de organizar a agenda com o nome dos clientes e formas de contato, para conseguir manter um controle de fidelidade por ali.

- Quem?

- A Lola.

- Ah! — seu sorriso era idêntico ao de todo mundo que falava com ela. Continha muito carinho e um tom de diversão, e eu já me sentia prestes a pegá-lo pelos ombros e chacoalhar para saber se tinha uma peça solta em sua cabeça. - Ela é difícil no começo, mas você só precisa conquistá-la!

- Há! Conquistar uma puta... Você está ficando senil, meu velho. — dei risada, não o assistindo me acompanhar, olhando para a porta.

- Bem, a puta vai fazer questão de ficar ainda mais impossível a partir de agora, engravatado. — ouvi sua voz reverberar como se estivesse francamente ofendida. O que? Era proibido usar a palavra com p por ali? Soava bastante hipócrita, se quer saber. - Obrigada por dar causa à minha rebeldia. — ela piscou para mim e se virou para Papá, ignorando minha presença irritada. — O fornecedor de bebidas tá aí. Você quer que eu o receba?

- Com ele você é educada? Bom saber que a implicância é comigo mesmo. — bufei, me levantando, não dando a chance dele respondê-la. Ela precisava entender que não interessava o relacionamento estranho que ligava eles dois, eu estava no comando. - Sai da frente, querida, eu faço isso.

Passei por ela indo até o portão de ferro, ouvindo a voz tranquila de Papá lhe pedir calma. Mas eu tinha certeza que nem um sonífero faria algum efeito naquela dali.

[Degustação] BordelWhere stories live. Discover now