6.2 Parabéns

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- Ei. – distraído contando o dinheiro que já tinha entrado pela noite, não vi Atibaia chegando e acabei me sobressaltando com sua presença. Ela riu como uma criança e eu não pude culpá-la, afinal um homem do meu tamanho se assustando por alguém de sua estatura deveria sim ser no mínimo engraçado.

- Oi, capetinha. – resmunguei, ao que ela parou à minha frente, apoiando os cotovelos no balcão. Terminei de abraçar mais um bolo de notas com o elástico e fechei a tampa da caixa registradora, dando-me por satisfeito por enquanto. O horário de pico da saída ainda não tinha começado, o que significava que ainda teria muito a contar, mas de adiantamento do trabalho já serviram aqueles minutos em reclusão.

- Eu vim te parabenizar. – Atibaia comentou quando parei ao seu lado. Franzi a testa imediatamente ao ouvi-la, confuso. Não esperava que fosse receber algum tipo de reconhecimento, menos ainda vindo de alguma delas. Quer dizer, modéstia parte eu tinha feito um bom trabalho, o bordel estava lotado e elas sem dúvidas teriam trabalho garantido pela noite, mas ainda assim...

Nada daquilo era realmente inovador. Eu me sentiria culpado se ficasse apenas calado, recebendo uma congratulação que eu não achava tão devida.

- Atibaia, só o que eu fiz foi pesquisar os nossos concorrentes. Não foi nada de ma –

- É exatamente disso que eu to falando! – ela me cortou. – Desse "nossos" na sua frase. Significa que você se vê como parte integrante agora, Matteo.

Estudei seus traços como se tivesse uma equação cheia de variáveis para responder. Aquilo ainda não me fazia nenhum sentido, ainda mais porque eu nem tinha notado o uso do pronome pessoal específico na frase.

- Então você não tá me dando parabéns pelo negócio do 50 Tons?

Acho que minha incredulidade refletiu no meu rosto, pois Atibaia revirou os olhos ainda sorridente, percebendo que precisaria se explicar.

– Não, Matteo, não pelo tema da noite. Você ter tido uma ideia salvadora não era nada inesperado, estava mais pra uma consequência da sua capacidade de gestão. Não se parabeniza o óbvio, quando alguém cumpre sua função e faz o que é esperado. Seria o mesmo que eu receber parabéns por ser boa de cama. – não sabia se eu agradecia ou se fazia alguma pergunta, porque agora sim eu estava ainda mais perdido.

- Bem?

- Meus parabéns são por você ter enfim começado a tirar a cabeça da bunda e pensar como um de nós. – ergui as sobrancelhas, chocado. Depois de ouvir Lola gritando comigo e das cutucadas constantes sobre não fazer parte daquele ambiente, ouvir algo como o que ela me dizia era... Revigorante, animador, até. Isso é, apesar das palavras satirizadas, mas um homem não pode ter tudo. – Você soube coordenar tudo com maestria, colocar cada um para fazer o seu melhor, escolher a música, coreografar o número no balcão... Tudo isso só foi possível, só resultou nessa noite incrível, porque você nos conhecia bem. Sabia explorar nossos pontos positivos, sabia entrar na cabeça dos clientes e saber o que eles queriam, sabia orquestrar o Rendevouz de modo a tirar o melhor dele. Só um pertencente, alguém de dentro, é capaz disso.

Meu sorriso abriu sem a minha permissão. Acho que meus músculos dos lábios sabiam antes mesmo do que eu o quanto aquela realização fazia sentido. Me deixar participar não era nem de longe tão vil quanto eu imaginava ao pisar ali da primeira vez. E, definitivamente, a presença de cada uma daquelas pessoas tornava isso possível, essa mudança sutil de pensamento.

- Será mesmo?

A ideia ainda soava louca e incrível para mim e eu precisei da confirmação.

- Você percebeu como sequer foi questionado sobre o especial dessa noite? – acenei meio aéreo, e ela continuou. - Isso é porque as pessoas percebem a sua mudança tanto quanto eu, e te respeitam por isso. Se continuar assim, daqui a pouco as meninas estão todas se matando para chamar a sua atenção, querendo ser suas queridinhas. Anota o que eu to te falando! – ela riu, passando os olhos pelas colegas no salão, saudosa. Havia um nível de carinho ali que era quase palpável e eu entendi que queria fazer parte daquele sentimento. Mesmo que de forma segura, um pé de cada vez, como quem entra em uma piscina gelada e testa a água antes.

Afinal, fosse Atibaia com as lições de moral que me faziam refletir, Lola e seu mistério que me fazia querer entende-la melhor, ou Papá e seus tropeços regados a amor que só me causavam questionamentos sobre aquele lugar não poder ser de todo mal... Se eu bloqueasse a área do meu cérebro que havia registrado que aquelas pessoas transavam com qualquer um para comprar pão, era bem capaz que eu estivesse chamando-as para happy hours, churrascos de domingo e um ocasional abraço sincero.

É, eu era um cara afetuoso. Até demais, se fosse levar em consideração o pé na bunda que levei da Anna...

- Enfim, o que eu queria dizer é que eu to orgulhosa de você, meu amigo. – Atibaia finalizou, quebrando minha ordem de pensamentos.

Amigo, ela disse.

Amigo?

Bem, não era força da expressão. Atibaia realmente era uma pessoa querida com a qual eu não me importaria em conversar por algumas horas. Especialmente se ela deixasse de lado os detalhes de seus casos com clientes, porque pensar naquele tipo de coisa ainda me dava arrepios de horror e era completamente involuntário.

Não era nem por eles, eu achava. Era por elas. Não queria imaginá-las naquele tipo de posição, vendendo seus corpos, deixando-se usar. Ainda não as entendia, mas agora era mais do que isso, era uma questão de agonia mesmo. Como se eu fosse enlouquecer e impedi-las de passar por aquilo mais uma vez ou mesmo chorar se não conseguisse meu intento.

Eu precisava parar de pensar naquilo.

- Obrigado, Atibaia. Fico feliz de ter conseguido.

- Opa, pera lá também, bonitinho! – ela sorriu, levantando as mãos ao virar para mim. - É um processo, ouviu bem? Você ainda precisa quebrar mais algumas barreiras para ser recebido de braços abertos por todos. Nesse momento nós somos como cachorros de rua farejando um outro com pedigree que perdeu a coleira. Até você entrar mesmo para a gangue, vai precisar se sujar.

Levantei uma sobrancelha, curioso.

- Sujar? E o que você tem em mente?

O sorriso da índia foi tão maléfico que por um instante eu senti minha espinha gelar. Eu sabia que ela tinha alguma arte em mente, e seria das grandes.

n/a: Gente, queria pedir desculpas pelo tamanho do capítulo (e pela falta da Lola nele). Sei que a espera de um mês é cruel e ainda mais quando ela é "premiada" com um capítulo menor do que o normal. Acontece que minhas férias acabaram, minha faculdade é integral e eu ainda trabalho. Meu tempo tá uma loucura e a minha prioridade é Fuck Buddies, minha outra história que atualiza quinzenalmente. Tá muito complicado de manter todas essas atualizações, mas eu prometo que estou fazendo o meu melhor! Espero que vocês possam entender meu lado :/
Capítulo que vem vai ter Lola sim, vai ter mais Atibaia sim (já vi que vocês gostam dela, mesmo tendo ciúmes hahaha) e eu to aqui torcendo pra vocês continuarem comigo.
Um beijo imenso no coração de cada um, e até mais! <3

[Degustação] BordelWhere stories live. Discover now