Memorial Day

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"New York, 26 de maio de 2014.

Hey Pebbles.

Primeiro feriado desde a Páscoa, eu estou em Nova York e eu nunca pensei que fosse me sentir tão sozinho no meu próprio quarto. Paul foi para casa, Carrie foi visitar a família do pai dela em Washington, minha mãe está simplesmente enlouquecida com a comemoração do country club e eu? Eu estou aqui, desejando estar em qualquer outro lugar. De preferência, onde você esteja."


Droga de cidade. Droga de evento. Não ia ter nada, absolutamente nada de interessante nessa droga de Memorial Day. Eu já sabia que ia odiar. Eu já odiava minha mãe por me fazer passar por isso, odiei passar esse fim de semana inteiro com meu pai, odiaria ficar com o maxilar doendo por causa dos sorrisos falsos e odiava Gray Johnson. Ele não foi para São Francisco neste feriado e o fato de sentir a falta dele como louca, só me deixava pensar em uma coisa: Eu odiava a mim mesma por só conseguir pensar que essa droga de data comemorativa só poderia tornar-se melhor se ele estivesse comigo.


"Acho que eu só queria me sentir um pouco mais próximo de você. Talvez esquecer, só por alguns minutos, que nós não temos nada a ver um com outro e fingir que você vai receber essa carta e ficar feliz, nem que seja só um pouquinho. Pode ser tolice, mas a cena de você sorrindo ao ler meu nome no envelope me pareceu tão linda, que eu não consegui resistir. Simplesmente corri até o papel, tive uma busca incansável à uma caneta e aqui estou eu."


Eu perdi a conta de quantas vezes pensei em ligar ou mandar um email para aquele imbecil. Eu sempre me pegava passando pelo nome dele na agenda telefônica e queria me socar por sequer pensar na possibilidade. Eu sentia falta dele enquanto ele, provavelmente, passaria os dias andando de charrete no Central Park, com a idiota da namorada, comemorando os últimos dias da primavera ou a chegada do verão. E daí que é uma cena clichê? É a cara do Johnson. O pior de tudo isso é pensar que seria bom fazer todas essas coisas clichês com ele. Argh, que raiva. Acho que reclamei alto demais, visto que essa senhora entediada da recepção está me olhando sem entender. Se ela não me liberar logo, eu juro que vou começar a gritar com ela.


"Eu liguei na sexta, para falar com meu pai, Eu sabia que você não estaria, por isso liguei. Mesmo querendo, como um louco, ouvir a sua voz. Eu ficaria feliz até de ouvir você xingando. Eu sei, bem idiota. Meu pai disse que seu pai te chamou para um evento das forças armadas em Los Angeles e que você está muito brava porque sua mãe está te obrigando a ir. Aposto que deve estar sendo engraçado.Você, sentada lá, com seu pai, e a maior cara de tédio do mundo, rezando para tudo acabar logo. Ele vai te exibir para todos os amigos dele que te viram crescer, e você vai abrir seus melhores sorrisos amarelos. Claro que você estará linda em um vestido clássico e todos os idiotas fardados, que ficam enfurnados em quarteis cheios de outros homens, irão comer você com olhos. Isso me deixa furioso e eu poderia quebrar a cara de todos eles se eu estivesse aí, mesmo que isso provavelmente fosse me custar vários ossos quebrados e cadeia por desacato à autoridade e agressão. Valeria a pena se você estivesse lá, depois do cumprimento da pena (que poderia ser de um ano e meio à sete anos, mais ou menos.)"


Por que eu tinha um pai tão ruim?! Quer dizer, eu merecia, pelo menos, um tempo para descansar antes dessa droga de evento, mas não, claro que não. Eu me arrumei correndo, coloquei esse vestidovermelho-patriota-idiota e vim com o cabelo de qualquer jeito. Isso tudo, para ficar sentada aqui, com essa cara de paisagem, enquanto velhos fardados fazem seus discursos ainda mais idiotas. Claro que mais estúpido que isso, era meu pai, dizendo quem eles eram, o que fizeram e como eles eram importantes, como se eu me importasse. Quando essa droga ia acabar mesmo?! Eu só queria sair daqui, o mais rápido possível. Desse evento, dessa cidade. Dei uma olhada ao redor e um dos caras da marinha piscou para mim. Eca. Não que fosse feio, mas sério? Essa era a abordagem?

The Holiday Saga SpecialsWhere stories live. Discover now