Jewelry

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- Faz tempo que não nos vemos, Enzo. - Eu o acompanhava pelos corredores da empresa que levava seu sobrenome.

- Desde aquela vez que eu estava em São Francisco e você foi visitar seu pai. Acho que eu estava no segundo ano da faculdade. - Ele disse sem muita a empolgação, apenas como se constatasse um fato. Mas esse sempre foi Enzo Lower.

Nós nos conhecemos desde pequenos, quando costumávamos frequentar as mesmas escolas, antes que ele fosse morar na Itália. Os grandes herdeiros sempre estavam nos mesmos lugares, interagindo com outras pessoas tão mimadas ou oprimidas quanto eles. Enzo e eu fazíamos parte dos oprimidos. Não que os outros garotos praticassem bullying conosco, mas antes de eu perdoar meu pai e começar a frequentar São Francisco, eu só odiava aquela vida. Pessoas que se achavam melhores do que os outros só por terem dinheiro, a ganância descabida, bens materiais que falavam mais alto do que carinho.

No fundo, acho que Enzo sentia o mesmo que eu. Ele sempre foi mais calado, mais na dele, mas eu sabia só de olhá-lo, como era difícil sobreviver naquele meio. Ele queria uma vida diferente, ser alguém que não fosse o herdeiro da grande empresa de jóias Lower. Alguém que tivesse pais presentes ou que só se importassem com ele. A maioria na nossa sala desejava isso. Eu desejava isso. Minha mãe e Bárbara nunca foram exemplos maternais e minha amizade com Enzo nunca foi ameaçada porque mamãe amava o poder dos Lower e suas jóias também. Bárbara sabia que ter advogados como os da empresa do meu avô era bom para os negócios.

Eu e Enzo?

Nós só desfrutávamos da amizade. Ele não costumava se abrir muito, eu procurava ficar na minha. Funcionava pra nós. Enzo e eu evoluímos com o tempo. Conseguíamos conversar mais, contar um pouco com o outro. Ele explodia às vezes, sabendo que eu o ouviria calado, eu contava algumas das coisas que acontecia comigo em São Francisco desde que voltei a conviver com meu pai, Sarah e Nora. Era uma boa amizade. Nada muito grudento, mas sabíamos que podíamos contar um com o outro.

- Sempre com boa memória, Lower. - Ele soltou um riso enquanto entrávamos no elevador.

- E então? Ouvi muito sobre você nos últimos meses. Um dos advogados mais cobiçados de Nova York no momento. Parabéns. - Eu ri sem graça, ainda sem me acostumar com isso.

- Você sabe que a mídia adora aumentar. Só fiz meu trabalho.

- Claro, Gray. Vou fingir que não conheço você.

- O que você está querendo dizer?

- Nada não, nerd. - Ele zombou de mim, como na escola, enquanto saímos do elevador.

- Ah, fala sério, Lower. Nem começa com a gracinha. - Ele riu novamente seguindo o caminho pelo corredor lançando alguns cumprimentos aos funcionários. Fomos andando direto para o escritório, que era bem a cara dele: simples e com impacto. - Quem diria que você ia se tornar o presidente da Lower. Eu, com certeza, não. - Ele soltou um riso sem graça, sentando-se em sua cadeira e me indicando o lugar para que eu me sentasse.

- Não conseguimos evitar algumas coisas. - Ele disse, dando de ombros. - Quer um café? - Eu concordei e ele apertou um botão em seu telefone. - Você pode trazer dois cafés, por favor? Obrigada. - Ele disse à secretária do outro lado da linha, como um verdadeiro chefe. Era engraçado vê-lo daquele jeito, mas ao mesmo tempo, causava certa estranheza. Ele não parecia se encaixar muito ali. Talvez fosse só coisa da minha cabeça por ter conhecido um Enzo que não seguiria os mesmos passos da mãe. As pessoas mudam. - Então, o que você quer? Você só mencionou um anel, mas não me falou mais nada.

- Bom... Eu quero um anel de noivado. - Eu disse de uma vez, já me preparando para a surpresa dele.

- Você vai se casar? - Ele perguntou, estranhando.

The Holiday Saga SpecialsWhere stories live. Discover now