CAPÍTULO 06

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      Não encontramos nenhuma lanchonete por perto, então eu os conduzo até a pequena pracinha que há não muito longe do meu apartamento. Ela não tem mais do que umas quinze árvores e uns cinco bancos de madeira, além de alguns brinquedos velhos. Tyler e Kaic disseram que poderiam nos levar até uma lanchonete nos seus respectivos carros, mas eu disse que estava sem fome — o que é verdade, mas o real motivo por eu negar foi por não querer estender esse momento mais do que o necessário.

     Assim que chegamos até o parque, eu sento em um balançador enferrujado que fica de frente para um dos bancos. Kaic faz um biquinho engraçado por eu não ter sentado no banco, mas também não comenta nada sobre isso. O banco mal acomoda os dois alfas, que sentam nas extremidades opostas, deixando uma pequena fresta entre eles.

     — V-vejo que já estão se dando bem. — Comento, agarrando as correntes do balançador e empurrando-o para trás com os meus pés, fazendo um ruído metálico ecoar pelo ar. O clima ainda está frio pra caramba, mas estou tentando ignorar isso, alternando o olhar entre os dois.

     — Nós meio que entramos em um acordo em relação a isso. — Tyler deu de ombros, lançando um rápido olhar para o outro. — Nós dois somos seus alfas, então não tem porquê ficarmos brigando toda hora, mesmo que eu queira matar ele de vez em quando e saiba que ele também não é muito fã de mim.

     — Ah. — Digo meio sem jeito, me balançando com meus força e desviando o olhar. A sacola com os remédios farfalha enquanto roça nas minhas pernas, que junto com o barulho do balançador, são os únicos sons que quebram os segundos de silêncio que toma conta da pracinha.

     — V-você... Acha a gente feio? — Kaic pergunta, me fazendo olhar para os dois e engolir em seco. O rosto dele é tão lindo que faria qualquer pessoa suspirar, assim como o de Tyler. Eles são completamente diferentes, com belezas únicas e absurdamente atraentes.

     — Não é isso. Eu realmente só... Não quero me relacionar com ninguém agora, entende?

    — Você já tem namorado?

    — Não! — Solto um grunhido e me concentro para não jogar os remédios na cara desses dois manés insistentes. — S-só não quero namorar com ninguém, sabe? E não é essa ligação que me fará mudar de ideia. — Retiro algumas mechas do meu cabelo que estão caindo sobre meu rosto, além de ajeitar meus óculos.

    — A gente não precisa namorar, Otto. Podemos ser apenas amigos se você quiser. Nós só queremos ficar perto de você. — Tyler levantou do banco e deu um passo para a frente, se abaixando diante de mim. Ele é tão grande que fica da mesma altura que eu, mesmo que o balançador não seja tão baixo. Kaic levanta e caminha até aqui também, ficando ao lado do outro alfa. Os feromônios fortes deles me atingem em cheio, embora não fosse como se estivessem liberando propositalmente para me deixar mais propício a submissão, e sim aquela pequena quantidade que normalmente flui de forma natural de cada um.

     — E-e se eu não quiser isso também? — Pergunto, embora me sinta um estúpido logo depois das palavras saírem da minha boca.

     — Você não quer nem ser nosso amigo? — Kaic pergunta, meio confuso. — Eu... Nós fizemos alguma coisa pra você?

     — Desculpa. Eu não queria dizer que não quero ser amigo de vocês. Só perguntei para ter certeza de que ainda tinha o poder de escolha e que vocês não iam bancar os alfas idiotas e autoritários que iam querer impor ordens em mim. 

     — Você sempre vai poder decidir, Baby. Sempre. — Tyler exclamou, erguendo a mão para tocar o meu rosto, mas parando no meio do caminho, provavelmente achando que vou me esquivar caso ele se aproxime ainda mais. Eu me sinto um pouco culpado ao perceber os olhares de incerteza nos seus rostos. Os olhos cinzentos de Tyler estão nebulosos, enquanto os de Kaic estão exatamente do mesmo jeito.

     — Por que não começamos de novo? Vamos nos conhecer do jeito certo dessa vez. Eu sou o Kaic Torres, mas pode chamar de Kai. Tenho 19 anos e não consigo parar de pensar nos seus olhos esverdeados, baby. Com todo respeito, claro. — Kaic diz, tentando quebrar o clima meio triste e estendendo a mão para mim.

     — O-otto Benson. — Aperto a sua mão, que é tão grande que faz a minha desaparecer por completo entre seus dedos escuros e longos. Minhas bochechas coram um pouquinho, principalmente quando ele abre um sorriso radiante.

    — Sou Tyler River, tenho 19 anos também. — Tyler estende a mão para mim, me fazendo perceber que a unha do seu mindinho e do dedo médio estão pintadas de preto, o deixando ainda mais parecido com um roqueiro. Eu deixo a sacola com os remédios deslizar pelo meu antebraço, antes de agarrar sua mão com a minha, apertando-a também.

     — Sei que vocês são. Todo mundo naquela escola sabe, na verdade. — Digo meio sem jeito, vendo-os darem de ombros e continuarem com suas mãos agarrando as minhas.

     — Então... Topa ser nosso amigo? — Kaic pergunta, deixando um "por enquanto" subtendido na frase.

     — okay. — Confirmo, sem saber ao certo onde isso vai dar, o que me deixa um pouco nervoso, mas também não posso simplesmente continuar tratando mal os dois, não é? Não sou esse tipo de pessoa, e definitivamente não vou me tornar agora.

     — Você tem se sentido um pouco mal nos últimos dias, não é? — O olhar de Tyler recai sobre a sacola de remédios, antes que ele volte a encarar meu rosto, mordendo levemente o lábio, que já está quase que completamente cicatrizado.

     — U-um pouco, por que?

     — Nós achamos que é porque estamos longe uns dos outros. Nós dois também estamos nos sentindo um pouco mal desde aquele dia, como se fosse uma náusea que não passa e não tem motivo aparente. — Kai explicou, me fazendo arregalar os olhos.

    — Ah. — Uma onda de culpa me atinge em cheio. Isso quer dizer que eles estavam sentindo a mesma coisa que senti, simplesmente por burrice minha? E pra falar a verdade, já estou me sentindo um pouco melhor, como se um remédio que não tomei estivesse fazendo efeito.

     — Também não queremos que você se sinta pressionado por causa disso, Baby. Podemos ficar nos encontrando algumas vezes quando começarmos a sentir coisas assim. — Ele continua, então confirmo levemente com a cabeça.

     — Você pode nos dar seu número? — Tyler disse, tirando o celular do bolso, ao mesmo tempo que Kai faz exatamente o mesmo. Eu exito por alguns segundos, então digo o meu número para eles, ditando uns números com calma e tentando manter a minha voz firme.

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DOIS ALFAS E EU (COMPLETO)Nơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ