Que Saudade Da Minha Ex | cyj + csb

5. Quando Nos Desconhecemos

Quando nos conhecemos (2018)

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Eu costumo acreditar que no mundo não existem coincidências. No geral, apenas coisas que acontecem por acaso e podem transformar um dia inteiro ou arruinar outro. É certo dizer que sou alguém bastante cético em relação ao universo, carma, Lei de Murphy e essas paradas de signo. As pessoas dizem que as coisas acontecem por uma razão superior, um aprendizado futuro, mas ninguém explica que aprendizado eu ganho quando perco um horário importante, meu sorvete de chiclete tomba no chão ou eu piso em bosta de cachorro na rua. Por isso eu acho que destino é só uma desculpa esfarrapada pras pessoas se apoiarem na vida de merda que tem. 

No entanto, não descarto a probabilidade da existência de seres divinos… superiores. Eu sei que em algum lugar, na vasta galáxia, existe alguém que traça o seu caminho como uma linha de tapeçaria. Alguém que pode gostar muito de você, ou te jogar aos lobos a qualquer momento. 

É por isso que consigo me imaginar num paraíso aos olhos: um jardim maravilhoso cheio de frutas e flores tropicais que não se encontram em um lugar só no mundo. Eu estou sentado em uma cadeira flutuante adornada com arabescos dourados, sustentada por nuvens de pôr-do-sol, quentes e aconchegantes. Levanto o mindinho para saborear meu chá da tarde e escuto atentamente uma harpa mágica tocar alguma melodia clássica suave, algo como Mozart, Beethoven, Billie Eilish…

Ao meu lado, o criador de tudo sorri para mim e eu sorrio de volta pela simpatia que o velho parece transbordar. No entanto, quando ele liga a tevê e começa rir debochado do filme que coloca, sei que é a minha vida passando ali. Então, num instante me lembro tudo que passei nas últimas 24h e minha cara se contorce de desgosto. É por isso que no meu devaneio eu olho bem nos olhos de Morgan Freeman, e digo apontando-lhe o dedo feio:

— Vai tomar no cu!

Reflito quando bato a porta de Britney com força e logo depois me arrependo porque meu carro não tem nada a ver com isso. 

Se uma divindade existe, ela com certeza me odeia, porque só me odiando ela faria a pachorra de fazer Bahi se acidentar só pra aniquilar todas as minhas chances de reconciliação com ela.

Me sinto aquelas mocinhas de dorama que levam marmita na cara do par romântico, precisam lamber o sapato do cara para serem perdoadas, são feitas de empregadas, comem o pão que o diabo amassou… Mas no final eu sei que minha vida vai mudar e um CEO muito rico vai aparecer na minha escola de limusine me levar pra um banho de loja. 

Caralho, tô ficando obcecado demais pelas novelas da minha avó.

Coloco minha playlist de músicas do fundo do poço e penso com meus botões o que diabos ainda vou fazer hoje. Queria ir pra casa, mas tô muito gostoso pra desperdiçar o look, cair na farra é hipócrita da minha parte, e eu também não quero ficar sozinho pelo resto da noite.

Oh, como seguir em frente sem cair…¹

Lembro das garrafas de vodca no meu porta-malas e só consigo pensar: não adianta chorar pelo leite derramado, não é, Machado de Assis?

O meu caminho agora eu vou seguir...¹

Meu GPS para em um portão de ferro gigantesco e espero a passagem dele abrir assim que toco o interfone, quando o bichão abre lentamente, tenho certeza que fui parar em algum universo paralelo, porque não tem como existirem pessoas tão ricas assim no mundo, e olha que eu tenho experiencia, porque minha vó é cheia desse amigos com casas emperiquitadas, mas isso aqui… puta merda é como se a porra da família real britânica tivesse estacionado e colonizado um pequeno país ocidental.