after a long time...

185 16 5
                                    

Valkyrie

Depois do enterro de Tony Stark, Carol se afastou completamente de tudo. Parecia que ela já não era mais a mesma, como se perder alguém não fosse a forma que ela queria vencer essa guerra. Ou talvez tivesse mais que ela não tenha me contado.
Nos ver de novo depois de cinco anos foi, bom, um tanto estranho. Ela não era mais a minha Carol. Ainda me tratava bem. Ainda me perguntou onde eu estaria caso ela precisasse de mim. Mas ainda sim, não era o mesmo. E depois de um tempo, acho que eu acabei endurecendo por dentro também. Vi tantas mortes, senti que não era capaz das coisas como já fui um dia. Assumi a posição como Rei de Asgard, mas o povo precisava dos Odinson. Eles precisavam daquele que jurou protegê-los. Com um tempo, aprendemos a nos acostumar. Mas nunca deixou de pairar sobre mim o fantasma de que Thor era quem deveria estar aqui.
De qualquer forma, depois de um tempo do enterro, eu recebi uma mensagem de alguém me convidando para um encontro secreto no sul dos EUA. Eu não fazia ideia de quem era, mas disseram que se a pessoa não queria se identificar, é porque talvez fosse importante. De qualquer forma eu levei alguns guardas asgardianos comigo, caso fosse uma emboscada.
Mas agora que cheguei ao exato ponto onde me pediram para estar, eu desejei nunca ter entrado na nave que me trouxe aqui.
Ela está lá, parada em frente a alguma coisa. Está com o mesmo terno que usou no enterro de Tony, e que os Deuses me perdoem por pensar nisso nesse momento, mas que a deixa incrivelmente sensual. O cabelo cresceu um pouco, e ela parece visivelmente esgotada.
Meu coração parece ter subido até minha garganta, e o som das batidas ecoam em meus ouvidos a ponto de tudo parecer abafado externamente. Aperto minhas mãos para tentar me acalmar, e caminho até ela, parando ao seu lado. Há um espaço de terra obviamente diferente do resto ao redor, principalmente pela grama estar muito mais baixa. Provavelmente, é um túmulo que foi fechado não há muito tempo.
Carol percebe minha presença, mas não fala nada. Sua respiração parece irregular, o que me diz que ou ela está nervosa também, ou esteve chorando. Observo a lateral de seu rosto enrijecido, o maxilar bem marcado e os olhos claros que já não brilham como antes.
-Danvers-consigo falar finalmente. Demora um tempo para ela proferir qualquer som depois disso.
-É bom te ver, Valkyrie. Você está bonita-ela dá um sorriso tímido-Você sempre está bonita.
Respiro pesadamente. Tem uma tensão muito estranha entre nós. É um sensação que eu desconhecia, pelo menos quando se trata de Carol.
-Por que me chamou aqui? E por que não disse que era você me chamando?
Depois do que parecem minutos intermináveis, Carol decide virar seu rosto para mim, e nossos olhares se encontrando parece tornar meu corpo inteiro em energia pura.
-Eu queria te ver. Fazia tanto tempo que a gente não se via, desde...
-Desde a batalha.
Ela parece confusa, mas assente rapidamente.
-Isso, desde a batalha.
Cruzo os braços, olhando para o horizonte, vendo um lago vasto e muitas árvores ao redor dele. É um bom lugar para se ter uma família, decidir não viver como uma heroína salvando o mundo.
-Que lugar é esse, afinal?
Carol suspira, como se estivesse se acalmando.
-É onde a Maria morava. Não queria colocar ela em um túmulo qualquer, em um cemitério qualquer. Ela sempre amou esse lugar. Ela me dizia que a Monica merecia um lugar assim para se viver. Então, quando a Maria sabia que ia morrer, ela me pediu isso. Que eu a enterrasse exatamente onde a filha dela sempre voltaria quando estivesse muito perdida. Para casa.
Inclino a cabeça, confusa.
-Maria era...
-Minha amiga. Morreu antes de todos voltarem do estalo.
-Quando você falou com ela?
Carol parece surpresa que eu tenha perguntado isso. A amiga dela claramente não morreu há mais de cinco anos. Então ela voltou. E eu não fazia a menor ideia.
-Você...-minha voz está embargada. Isso não é normal, eu nunca sou emotiva dessa forma-Você voltou? Quando?
Ela desvia o olhar do meu e se afasta, parecendo querer chorar também.
-Não faz muito tempo.
-Antes da batalha?
Carol não responde, mas eu entendo imediatamente.
-Você prometeu que ia voltar para mim. Por que você não veio falar comigo, Carol?-indago, andando até que eu esteja cara a cara com ela.
-Eu não consegui-ela murmura-Não sabia se eu ia te procurar e descobrir que você também tinha sumido.
-Podia ter perguntado. Para a Natasha, o Steve. Até para aquele guaxinim nervoso, você podia ter perguntado, eles sabiam onde eu estava-de repente minha voz se eleva e mal entendo porquê.
-Eu não podia sentir aquilo, okay!?-ela fala em voz alta também-Eu não podia, Valkyrie, eu não sabia como te procurar e ter que sentir o desespero de que você também tivesse morrido! E até alguns dias atrás, todo mundo pensava que não tinha salvação. Que todos tinham morrido, para sempre! E eu...
Carol começa a chorar, soluçando levemente.
-Eu não sou mais a mesma, Valkyrie. Eu queria ser a garota que disse que te amava, mas eu...
Ela coloca as mãos no rosto, e de repente tenho consciência de que meu rosto também está úmido. Estou chorando e nem percebi.
-Você não me ama mais, Carol?
Ela não responde. Não é exatamente uma resposta positiva, mas também não é um não.
-Eu não sei mais se eu sinto alguma coisa, Valkyrie.
Assinto, desviando o olhar.
-Okay-É tudo que eu consigo dizer, mas por dentro sinto-me despedaçada. Carol me fez querer amar de novo, mas nunca imaginei que eu sentiria tanta dor a amando. É avassalador pensar que a única coisa que quero é estar com ela, mas nunca vou ter isso. E pior, não porque não posso ter, mas porque estamos quebradas demais para sequer lembrar quem fomos.
Caminho para longe dela, desse lugar, de tudo isso. Só quero ir embora. Só quero chorar e sentir toda a dor, e esquecer de uma vez por todas. Esquecer de vez que eu amo Carol Danvers.
-Valkyrie, eu...
-Eu sou Rei de Asgard agora. Apesar de estarmos aqui na Terra, ainda somos um povo de um planeta que tem questões diplomáticas com outros povos intergalácticos. Se precisar de alguém relacionada a isso, eu estou em Nova Asgard. O Bruce sabe onde é, de qualquer forma.
Ando em direção aonde está minha nave, sem demonstrar fraqueza. Sem deixar aparente que meu coração está partido.
-Valkyrie-escuto-a de longe, mas não vou voltar. Não posso-Valkyrie, por favor!
De repente, a voz de Carol some ao vento quando estou partindo. Mas não deixo-a de escutá-la como se ainda estivesse aqui.

Carol and ValkyrieWhere stories live. Discover now