Capítulo 2

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CLARA MONTEIRO


Segunda, passei o dia sem notícia de Michel e estou uma pilha de nervos de preocupação, ele nunca passou um dia sequer sem falar comigo, é muito incomum, aliás, isso nunca aconteceu. Então quando o dia passa e não tenho nenhuma ideia onde ele possa estar, me sinto a ponto de enlouquecer de preocupação. O telefone dele sempre vai para a caixa postal cada vez que eu ligo.

Mas a terça-feira vem e tudo na minha vida desmorona como nunca imaginei.O dia amanhece e trato de seguir a vida normal, ainda mais preocupada com Michel, ele sempre foi atencioso comigo e era fora do comum esse silêncio. Acordei mais tarde que o normal hoje, talvez porque passei sem dormir a noite ou era a sonolência que a gravidez causava, porisso o dia se arrasta com minhas tentativas de falar com Michel. A noite ligo quando ligo a tv distraidamente assisto o jornal e percebo que aconteceu um acidente com um avião comercial indo para Europa. Sento olhando no sofá e começo a assistir quando determinado momento é anunciando uma parcial de passageiros que estavam no voo.

Choque! E pavor é o que sinto quando o nome de Michel Monteiro consta na lista de passageiros desaparecidos e como provavelmente não há sobrevivente do voo...

Senti como se o mundo ruísse e estivesse caindo de uma altura de duzentos e cinquentas andares, caio no sofá completamente fora de mim. Eu não posso acreditar nisso, é mentira tudo isso, um engano terrível. Mas as imagens da televisão não paravam de me dizer que tudo é verdade. Michel estava na lista de passageiros mortos. Oh Deus! Eu quero morrer, estou me sentindo morrendo a cada minuto que passa, como se alguém estivesse abrindo meu peito e arrancando meu coração fora, como alguém viveria sem seu coração?. Levo a minha mão ao meu ventre enquanto um som dolorido deixa minha garganta quando eu desabo em um choro que soa como se eu estive recebendo golpes mortais através do meu corpo. Dor, uma dor tão grande apertando meu toráx e não consigo respirar. Estou morrendo de tanta dor no meu peito. Uma dor física se isso for possível. Uma sensação de agonia no meu coração.

Como isso tinha acontecido? Por quê?

Oh Deus, por quê?

Por favor, não pode ser verdade!

Não pode, por favor.

A lamentação na minha mente começa e parece me quebrar ao meio, percebo que não é na minha mente, e sim estou balbuciando as palavras doloridas baixinho como se temesse pronunciá-las em voz alta.

Soluços doloridos deixam meus lábios quando escorrego em uma posição fetal e me encolho de dor. Não sei quanto tempo eu choro com esse aperto no peito que me consome o fôlego, mas escuto vozes e uma mão me balançando e chamando por mim, porém estou longe em um mundo de completa exaustão.

Michel!

Amor, por favor, que seja você aqui. Diga que foi tudo um engano.

Por favor!

— Filha?... Fale comigo! — A voz da minha mãe me chama, mas eu não posso falar. — Ah meu amor, eu sinto tanto.

Dor que agora se concentra em meu baixo ventre me alerta, e o calor úmido de minhas roupas íntimas me faz abrir meus olhos. Olho para baixo e uma mancha vermelha me diz que hoje eu posso perder mais do que estou preparada para perder e além.

— Já chamei uma ambulância querida, aguente firme, por favor — diz mamãe. — Selina está a caminho daqui, ela deve chegar mais rápido que os paramédicos.

Não estou escutando mais nada. Desligo tudo dentro de mim. É como entrar em um abismo escuro onde nada me toca, mas eu não sinto como se tivesse protegida, estou agonizando violentamente.

Eu nunca poderei contar o que aconteceu nas semanas seguintes, eu estava além de mim. Escuto os médicos falando com mamãe e Selina sobre estado catatônico, ou alguma coisa parecida, mas eu estava sem pronunciar uma palavra por semanas e nem chorava mais. O choque quase me fez perder meu bebê e passei as duas semanas seguintes internada, tentado não perder a parte de Michel, que ele deixou para mim. Quando saio do hospital, depois de não correr risco de perder meu filho, eu vivo apenas para não perder ele também. Nunca houve um corpo, nunca fiz um funeral para meu marido, ele nunca voltou para casa e então só posso acreditar que ele estava mesmo em um voo para Europa e não sabia por que. Michel nunca me disse que iria para lá, talvez o cliente que ele estava dando consultoria o enviou para lá e por isso não conseguia falar com ele, mas tudo isso era apenas especulação.

Sempre fui uma pessoa alegre e feliz, mas esses estados de espíritos parecem inoportunos agora, eu não os sinto mais. Parece que meu mundo virou uma tonalidade de cinza, e nada mais. As cores na minha vida eram apenas meu bebê quando ele nasceu e comecei a voltar a viver novamente. E claro mamãe.

A Esposa Esquecida do CEOWhere stories live. Discover now