04 | Começo do jogo

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Vivienne Barbieri

— Sua entrada não é permitida neste repartimento, Grego — o homem que não me era tão desconhecido assim disse em um tom baixo, mas não menos ameaçador. Sua voz era rouca e firme, irredutível. A voz de um líder. — É você quem deveria ter sua mão dilacerada por ousar entrar na divisão dos Hatis em uma área que é minha.

O líder dos Hatis era o desgraçado destruidor de tudo que me restara, o homem que eu odiava mais até do que Grego.

Meus pulmões falharam outra vez.

Grego, que estava atrás da mesa outra vez, sorriu. O sorriso, entretanto, não era tão superior e intransigente. Ele era controlado, moderado e planejado. Estranhamente, eu podia ver uma fração de medo por trás da farsa. Era a primeira vez que eu notava algo do tipo nele.

— Você não ousaria, garoto. Não pode ferir de maneira tão covarde quem ainda mantém maior domínio sobre o que você quer e com quem ainda possui um negócio. Perderia todo o respeito dos demais com isso. Você ainda não perdeu todo o juízo.

Uma risada frívola chegou aos meus ouvidos. Arrepiou toda extensão de minha pele.

— Você se esquece com muita facilidade como eu cheguei até aqui sendo apenas um garoto.

E com isso, ele sussurrou o nome de seu cachorro. Odin.

Foi o bastante para que o animal fosse até Grego vagarosamente. O sorriso do homem vacilou, mas ele não cedeu um passo sequer. Tinha que manter a postura. Então, ao invés disso, apenas sacou sua própria arma conforme Odin se aproximava. O cachorro rosnou.

— Um pouco de loucura fez parte do processo. Algumas mortes e até certos membros arrancados também. Duvidar de mim nunca te levou a lugar nenhum.

Eu ainda não podia ver o rosto do garoto à minha frente, ele estava de costas para mim, mas não tive dúvidas de que sua expressão era tão ininteligível como pedra.

— Mande seu mascote afastar ou eu vou atirar.

O garoto suspirou como se estivesse entediado.

— Sabe, se eu fosse você, não faria isso, ou então um segundo animal morrerá neste escritório em seguida.

Arregalei os olhos diante da ameaça explícita. Grego ficou nitidamente furioso por aquilo, mas não apontou a arma para o desconhecido. Isso me pareceu um indício muito claro de que Grego não tinha todo o poder que possuía quando eu o deixei. Se até o Papa tivesse dito aquilo para ele, ele teria estourado seus miolos sem sequer hesitar.

Bem, as coisas realmente eram voláteis no submundo.

— Agora não me obrigue a recorrer a decisões das quais não vou me arrepender tanto assim e coloque a arma na mesa. Dizem que os cachorros puxam os donos, e, bem... eu não gosto de me sentir ameaçado — disse calmamente, e Grego se exaltou.

— Nem fodendo, porra. Acha que eu vou deixar um moleque de merda dizer o que vou fazer? Eu governava muito antes de você nascer.

— Antes — frisou.

— Manda seu cachorro se afastar — disse, ignorando-o e agitando um pouco a arma em direção a Odin, que latiu, beirando-o mais de perto.

— Então largue a arma.

— Eu não vou largar a porcaria da...

Abaixe a porra da arma agora — ele o cortou, enfim erguendo o tom de voz. — Eu não vou permitir que você continue me desrespeitando em meu território. Isso é meu. Tudo isso. Sabe que se eu matá-lo a invasão poderá ser uma justificativa decente.

MagnatasWhere stories live. Discover now