06 | Noite beneficente - Parte I

22 5 1
                                    

Vivienne Barbieri

A noite beneficente se mostrava promissora.

O espaço de lazer do condomínio de Laura estava mais cheio do que podíamos esperar. Embora metade dos convidados importantes ainda não tivessem aparecido, ainda havia outras pessoas de influência que nos apoiavam, não importando a perseguição da mídia em relação à nossa família.

Havia alguns políticos em suas melhores vestes; jovens aristocratas populares nas redes sociais, outros empresários de importância e alguns jornalistas espalhados pelo salão ao redor de roletas, blackjack e, claro, pôker. O lugar se tornara quase como um belo cassino; por um momento, desejei que casas de apostas fossem permitidas no Brasil.

O fato era que ninguém levaria dinheiro para casa naquela noite. Todo o dinheiro depositado em fichas seria doado para instituições de caridade.

As entradas estavam sendo fortemente monitoradas, Laura se assegurara disso. Não queríamos uma outra entrada indesejada de um filho da puta qualquer. Eu mesma vira todos os seguranças da entrada e frisara que ninguém que não tivesse um convite deveria entrar, apenas com exceção daqueles que se mostravam importantes no nosso meio. Ele não estaria ali naquela noite, não importando o convite que Theodora tivera feito.

Já havia quase duas horas desde que abrimos, e desde então eu estava perambulando pelo salão ao cumprimentar os convidados e deixar bem claro como eu e minha família estávamos contentes por propiciar uma diversão que, no fim, resultaria em uma ajuda a tantas pessoas. Todos sorriam educadamente e concordavam comigo, como se também não estivessem ali apenas por aparências e para mostrar para os falsos amigos que podiam gastar mais do que eles ao apostar fichas sabendo que não teriam retorno financeiro algum.

Chovia lá fora, mas fora isso, a noite estava basicamente perfeita.

Após um bom tempo caminhando pelo primeiro andar do local, decidi subir para o segundo, que era o andar destinado a jogadores com fichas que continham mais de cinco mil reais, afinal, ninguém gostava de jogar com adversários inferiores a si.

Aquela noite era simplesmente feita de jogos de aparência.

O segurança levantou a fita de segurança quando me aproximei de uma das duas escadas que levavam ao andar sem precisar de auxílio algum, e quando em um par de segundos acabei de subir os degraus, percebi de imediato que os negócios iam ainda melhores ali em cima. Até o fim da noite, arrecadaríamos talvez muito mais do que o planejado.

Era uma pena que apenas Laura fosse ter acesso a tudo aquilo. Ela não me daria nada do que pegaria para si.

Cumprimentei mais algumas pessoas naquele andar e, em não mais que quinze minutos, localizei Theodora. Ela tinha sido escalada para ajudar na distribuição de fichas, mas estava parada em frente ao guarda-corpo que dava vista para o primeiro andar. Ela nitidamente não estava nada feliz em estar ali; odiava eventos como aquele.

Expirei um suspiro pesado pela boca e acabei me aproximando.

Nós não conversávamos muito desde a morte de papai, eu achava que cada uma estava enfrentando seu luto à sua maneira, mas na última semana, as coisas pioraram um pouco. Era como se ela estivesse me punindo por eu tê-la afastado do garoto, o que era ridículo, porque ela mal o conhecia. O fato era que eu achava que Theodora não tinha muitos amigos. Nossas infâncias tinham sido um pouco diferentes; enquanto eu nunca passara por casas de adoção, sempre fugindo do sistema, ela passara por muitos, então supunha que ela tivera suas próprias dificuldades, embora nossa condição de abandono fosse a mesma. Imaginava que ela se sentisse deslocada em sua escola, com pessoas que não tinham ideia do que era dormir com fome, com medo de estar ao redor de pessoas que não conheciam ou do desamparo. Pelo mesmo motivo, também se sentia deslocada naquele ambiente destinado à alta sociedade.

MagnatasWhere stories live. Discover now