Prólogo

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A noite estava gelada, a chuva não oferece sua trégua, cada gota faz ricochete com o vidro do carro, Katie observa sua irmã abraçando sua boneca de pano fortemente em seus braços, enquanto seu pai canta uma velha canção

Sua mãe sorri, enquanto o homem conduz com cuidado no meio da tempestade, ele sabe que sua filha Katie odeia o som dos trovões, ele pode sentir isso em seu interior, embora ele já tenha explicado para a criança um milhão de vezes que o som não é mais do que fenômenos sonoros gerados pelo movimento de cargas elétricas na atmosfera. 

Seus olhos se dividem entre o espelho  e a estrada, brincando com suas duas filhas

Um trovão ilumina o céu, fazendo Katie estremecer de susto.

A pequena criança fecha os olhos, mas seu coração se acalma, quando sua mão é acariciada pelos dedos frágeis da bela jovem mãe, que deposita um terno beijo em sua pele.

Katie sente um aperto no peito, quando um corvo choca contra o vidro do carro, a escuridão parece abraçar aquele animal, como se soubesse que o fim está próximo.

Então de um momento para o outro, um carro em alta velocidade perde o controle, ele perde o rumo, acabando na mesma faixa da jovem família.

Seu pai tenta salvar sua família mas é tarde demais, o piso molhado junto com as outras adversidades, como o embate do outro carro, faz com que ele perca o controle do carro, que capota várias vezes no meio da estrada.

Katie ouve os gritos de sua irmã, o medo no olhar de sua mãe.

O rosto de seu pai fica coberto de sangue, assim como os olhos de sua mãe que nunca fecham, eles não se movem, rapidamente eles perdem o brilho, Katie grita pelo nome dos seus pais, sem obter qualquer resposta.

Ela não entende porque sua mãe não move os olhos, e claramente ela não entende porque seus pais estão cobertos de sangue.

Seu olhar procura por sua irmã, que acaba projetada do carro enquanto esse ainda capota.

Katie chora implorando para que seus pais ajudem sua irmã... A cabeça da criança bate violentamente na porta, a dor é excruciante.

Por um momento ela perde a consciência entre o sonho e a realidade.

Quando desperta, ela sente o cheiro de gasolina.

O golpe na sua cabeça junto com o som do líquido escorrendo pela estrada molhada, aquele cheiro intenso, faz com que ela sinta vontade de vomitar.

O carro que embateu com sua família, acabou chocando contra um poste de electricidade.

Faíscas se espalham pela estrada e rapidamente elas fazem seu encontro com a gasolina.

As chamas surgem, ganhando força demasiado rápido.

O carro começa a incendiar, enquanto a criança presa entre o metal esmagado, luta por se libertar, mas é inútil.

Ela escuta vozes, e percebe que existe algumas moradias ao redor.

As pessoas saíram assustadas pelo som que o embate causou

Katie bate com as mãos no vidro, gritando por ajuda, mas as pessoas sabem que é impossível resgatar a criança.

As chamas consomem à frente do carro, será uma questão de segundos para que essas alcancem a criança, e ninguém tem coragem para se machucar ou morrer no processo.

Katie aperta os olhos, esperando pela ajuda que não vem.

Lágrimas escorrem enquanto ela se rende a escuridão.

É o fim.

Por um momento seu pequeno corpo luta para pegar a mão de sua mãe, seus dedos se entrelaçam.

Os olhos imóveis de sua mãe caem sobre os seus, e uma lágrima escorre pela comissura dos seus olhos, Katie nunca viu um olhar vazio.

Porque sua mãe não se move?

Ela nunca pensou que ver seus pais desse jeito doesse tanto.

Quando as chamas estão perto de tocar sua pele, algo acontece.

Uma silhueta corre entre a pequena multidão no meio da chuva

A silhueta era pequena, e seu salvador era apenas uma criança, disso ela tinha toda certeza, ele usava uma capa negra, que praticamente cobria uma parte do corpo e rosto.

Foi impossível de ver o rosto de seu salvador

Ele quebrou o vidro onde Katie estava, e puxou Katie pelas mãos.

Enquanto era carregada por ele, ela se perguntou como era possível uma criança ter tamanha força.

Katie embora com a visão turva, e quase a beira de perder a  consciência, ainda assim, ela conseguiu ver o corpo de sua irmã quebrado e distorcido no meio da estrada.

O sangue escorrendo para o piso encharcado, se misturando assim com a água

Embora sem forças Katie começou a chorar e a gritar pelo nome de sua irmã.

Ela estava tão fraca, sua cabeça latejava, perdida entre o sonho e a realidade

Ela sentiu quando aqueles pequenos mas fortes braços a colocaram na ambulância que acabarà de chegar.

Katie suspirou uma última vez, e antes que seus olhos se fechassem, tudo o que ela pôde ver foi uma luz cegadora junto com uma voz juvenil, porém antiga, sedutora, profunda e bastante maliciosa

- A morte não vai salvar você b... 

Caídos: Emoções PerversasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora