Prólogo

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- Você vai amar Ilhabela, Cupcake. - falou um mega contente Bruno, me senti culpada por não conseguir me animar tanto quanto ele. - É uma cidade linda... - Eu simplesmente parei de ouvir, sei que é errado, mas é mais forte do que eu, tenho sorte por Bruno ser a pessoa mais compreensível que já conheci. - Ei, você está na Terra? - Dei um sorriso culpado.

- Desculpa - suspirei. - É que é dezembro...

- Por favor, não faça isso com você.

- É muito difícil não pensar na Lolla nessa época.

- Rebeka, você prometeu tentar não pensar... - Ele olhou para mim, desviando sua atenção por uma fração de segundo da estrada a nossa frente e foi suficiente para o mundo virar de ponta cabeça.

Atropelamos alguma coisa, provavelmente um lindo e fofo coelho, Bruno tentou manter o controle do carro, contudo tinha algo de errado e acabamos capotando, fui arremessada pela janela - esqueci mais uma vez a droga do sinto - e por alguns segundos me senti o Superman ao voar vários metros, mas infelizmente era apenas Rebeka e me esborrachei no chão, bati com a cabeça em algo pontudo ao mesmo tempo em que via o carro parado vários metros longe de mim. Bruno estava desacordado e ensaguentado preso ao cinto, não tive tempo para me desesperar pois desmaiei.

Todo o meu corpo doia, não havia uma única célula que não estivesse gritando que tinha algo de errado, precisei de apenas três segundos para me lembrar que sim, realmente havia algo de errado e provavelmente eram vários algos, como ossos quebrados e prováveis contusões.

Abri os olhos e não sabia dizer se tinha apagado por um minuto ou horas, tudo continuava exatamente igual, continuava na estrada de terra, terrivelmente dolorida e Bruno desacordado preso ao cinto do carro destruído.

Primeiro tentei mexer minhas mãos e pernas e mesmo doendo muito tive êxito na missão, porém, não conseguia me mexer o suficiente para chegar até Bruno, o que me dava certo desespero, mas me obriguei a ficar calma, desespero poderia custar muito, muito ocaro. Tentei me arrastar até o carro, no entanto não fui forte o suficiente, apenas gritei de dor e frustração. Uma dor tenebrosa se alastrava por todo meu lado esquerdo, começando nas costelas, e eu sabia instintivamente que tinha quebrado, no mínimo, uma delas e não conseguir respirar direito me assustava ainda mais, no entanto, não sentia gosto de sangue na boca e quis acreditar que não estava com o pulmão ou outro órgão perfurado.

Ouvi a sinfonia número dois de Beethoven e fiz um movimento brusco que, fez o mundo escurecer por alguns segundos, contudo, motivada pela prova que celulares Nokia são realmente resistentes, me concentrei em alcançar o telefone, no momento que a música parou estava há uma distância de pouco mais de um braço dele. Fiz um esforço sobre-humano para me aproximar, levando em consideração meu braço que não se movia um único centímetro sem que eu quase desmaiasse e minhas pernas que nunca pareceram tão incapazes quanto naquele momento finalmente o alcancei e me concentrei em tentar respirar e inspirar, me concentrando no fato de ter alcançado o celular significava socorro, porém, como disse, apenas tentei, porque respirar era quase impossível.

Só então percebi o quão ardido era respirar e toda a pressão que minha cabeça estava. E como tudo parecia desfocado e as vezes duplicado.
Eu estava morrendo, mas não desistiria enquanto não pedisse socorro para Bruno, já que claramente eu não conseguiria fazer nada por ele.

Era por isso que não me desesperava, Bruno precisava de mim, ou quem sabe fosse apenas senso de preservação.

Disquei o primeiro número de emergência que consiguia me lembrar.

- Emergência. Polícia Militar, bom dia.

- Me chamo Rebeka Santana e sofri um acidente de carro próximo ao quilometro 98 da Rodovia Tamoios. Meu namorado está preso as ferragens, precisamos de socorro imediato. - foi o que pensei ter dito, mas com toda aquela dificuldade para respirar a atendente provavelmente entendeu algo como "Me cho Rebeka Saana, aidete carrrro, Taios. Socorro."

- Senhora, repita devagar, por favor.

- Acidente. Carro. - Pausa para tentar respirar. - Quilômetro 98, SP 99. Socorro - disse o mais claramente que podia e provavelmente a atendente compreendeu pois ela falou algo como já estar acionando o resgate, contudo, ter sido clara teve um preço muito alto e mais uma vez desmaiei.

Sirenes estridentes e ensurdecedoras me acordaram.

Ouvi vozes apressadas.

Lentamente abri os olhos, primeiro vi um homem negro e outro branco me colocando dentro de uma ambulância, o negro disse algo que eu não entendi, o branco olhou para mim, e também falou algo que não compreendi e então ambos olharam na direção de gritos e barulhos estranhos tão incompreensíveis quanto a fala dos homens que estavam me socorrendo.

Eles me colocaram apressados na ambulância.

Entraram e antes que pudessem fechar a porta levantei minha cabeça e vi um bombeiro tentando abrir a porta do carro para retirar Bruno que continuava inconsciente, olhei para ele e comecei a falar, mas fui completamente ignorada quando um segundo bombeiro gritou algo absolutamente compreensível para o da furadeira:

- Vai explodir!

Um segundo depois o carro era uma grande bola de fogo laranja.

Instantes [CONCLUÍDA - Lolla&Rebeka]Donde viven las historias. Descúbrelo ahora