2: Peter

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Aliança, 2001

Há dois dias recebi um telefonema que transformou minha vida.

Onze anos atrás quando conheci em um pub uma mulher de enormes olhos castanhos e sedosos cabelos cacheados nunca imaginei que ela fosse virar do avesso minha vida completamente planejada.

Com seu inglês cheio de sotaque e sua áurea de mistério, Valentina me ganhou no exato momento que sorriu para mim por trás da caneca de cerveja.

Naquela noite tentei de todas as formas atrair sua atenção, porém tudo o que consegui foram algumas risadas e uma bela insônia.

Diferente das mulheres que eu estava acostumado Valentina não se deslumbrava comigo e menos ainda com meu dinheiro e só percebi isso quando a convidei para irmos embora juntos e tudo o que ganhei foi mais uma gargalhada.

A vi entrar em um táxi sem nem mesmo lançar um último olhar na minha direção.

E foi assim que Valentina Santana, brasileira de gênio forte e alérgica a flores tornou-se a obsessão da minha vida.

Quanto mais eu a queria menos ela me queria e isso estava acabando comigo.

Tanto que Otto foi obrigado a interferi e Otto nunca interfere.

Otto e eu somos amigos desde meninos e eu sempre admirei sua capacidade de imparcialidade em tudo, tanto é que o imitei o máximo que pude, até perceber que infelizmente eu jamais conseguiria ser como ele.

Diferente do que todos pensam Otto é o original, eu sou o mímico.

E foi graças a essa interferência, 3 meses após nosso primeiro e casual encontro que, finalmente consegui fazer Valentina me olhar por mais de cinco minutos,  assim passei quase dois anos tentando provar que eu era alguém que valia a pena. Quando finalmente consegui, vivemos os melhores três anos da minha vida e, eu como o grande idiota que era, a deixei escapar por puro orgulho.

Ela me contou que estava grávida e em vez de eu ficar feliz como qualquer homem razoável, fiz um drama que me custou meu grande amor, a possibilidade de um golpe nunca me passou pela cabeça, mas acreditei que ela havia planejado engravidar, quando na realidade o anticoncepcional falhou, o que só descobri quase cinco anos depois quando finalmente percebi o grande babaca que fui e como eu havia feito mau para Valen e nossa filha.

Porém, Valentina não queria me ver nem pintado de ouro e Rebeka mal sabia quem eu era, esse foi o momento mais doloroso da minha vida.

Tentei corrigir meus erros, mas já era tarde demais e o máximo que consegui foi o perdão e um tratamento amigável de Valentina.

Valentina, ah Valentina.

Estávamos progredindo para um relacionamento saudável e bastante amigável quando ela anunciou que viria para o Brasil passar metade do verão, obviamente esbravejei um pouco, porém eu já deveria saber que Valentina não era o tipo que se deixa intimidar, não mesmo.

Gritar só aumentou o seu desejo de vir ao Brasil.

Se eu soubesse o que aconteceria teria implorado na minha mais mansa fala para que ela ficasse em Paris sã e salva, mas se conheço bem Valentina ela jamais teria me ouvido.

Diferente de mim que sempre ouço Otto, Valen não houve ninguém a não ser ela mesma, seu espirito jamais foi domado como o de todos nós.

- Monsieur Coetydn? - Pergunta uma mulher negra me tirando dos meus devaneios.

- Oui*. - Respondo sem desviar os olhos do vidro do quarto, onde observo seu reflexo me encarar cheio de pena.

- Me chamo Margo Oliveira e sou assistente social, representante do conselho tutelar. - Ela diz ainda em francês, mas percebo o seu esforço em falar a língua estrangeira.

Instantes [CONCLUÍDA - Lolla&Rebeka]Where stories live. Discover now