3: Lidia

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Aliança, 2001

Pensar em Valentina me entristece, mas pensar em Rebeka crecendo aos cuidados de professores desconhecidos, distante de todos que conhece e ama transforma minha tristeza em raiva.

Eu não consigo entender como Peter acha que isso pode ser bom para ela, é nítido que Rebeka precisa de muito amor e de um psicólogo infantil, essa ideia absurda do internato em Amsterdã é o mesmo que assinar a sentença de morte da menina.

E o pior, aquele babaca acha que está certo, eu simplesmente não consigo entender o que Valen viu nesse homem, ele pode até ser bonito, mas é um babaca de porte máximo, nos provou isso quando Valen engravidou e transformou a vida dela em um inferno.

Lidia, se estressar desse jeito não é saudável.

Subconsciente fique caladinho, eu tenho todo o direito de estar estresssada.

- Mamãe você está resmungando sozinha, de novo. - Aponta Lia que continua esperando a omelete que eu prometi quinze minutos atrás.

- Certo, certo, mocinha. - Finalmente misturo todos os ingredientes aos ovos. - Vou tentar não fazer mais isso. - Sorrio para ela. - Cadê o Luke? - Um estrondo de algo se quebrando no segundo andar responde minha pergunta. - Luke Daniel Meirelles! - Largo a tigela e saio correndo na direção de Luke, eu tento ao máximo ter paciência com ele, porém é muito difícil, as vezes parece que Luke é bagunceiro de propósito apenas para testar meus limites.

Estou nas escadas quando me lembro que deixei Lia na cozinha, corro para lá novamente.

- Lia, nada de tentar fritar a omelete, okay? - Ela se vira para mim e volta a sentar-se na banqueta.

- Mas com fome, mãe.

- Eu sei e só vou trazer o Luke aqui pra baixo antes que ele destrua a casa e faço a omelete. Não mexa no fogão, nem no microondas, menos ainda no fogão a lenha.

- bom, bom. - Ela encosta a testa na mesa e resmunga algo que prefiro ignorar no momento.
Luke está recolhendo cacos de gesso colorido espalhados pelo chão do quarto. Suspiro.

- O que você quebrou, Luke? - Essa é a segunda vez só hoje que ele quebra algo.

- A estátua do Darth Vader. - Ele murmura ainda recolhendo os cacos e exatamente como esperado corta um dos dedos.

- Deixa isso que eu recolho. - Digo caminhando até ele. - Com cuidado sai daí e vamos lavar esse corte. - Olho ao redor e não me surpreendo por ver seu quarto a mesma desordem de sempre. Me esforço para não suspirar novamente.

- Desculpa, mãe, foi sem querer. Será que a gente pode colar os cacos pro pai não ficar triste? - Ele finalmente me olha e meu coração mole se parte ao ver seus olhos vermelhos e seu esforço para não chorar.

- Depois eu vejo se é possível colar os cacos, Luke. - Ele esboça um sorriso amarelo e então arregala os olhos e sei o que aconteceu.

- Aiaiai. Cortei meu pé. - Finalmente suspiro e o pego no colo, o que não é uma tarefa fácil já que ele puxou Valdo e é muito grande para seus oito anos e meu um metro e cinquenta e sete.

- Luke, eu já disse um milhão de vezes, preste atenção, preste um pouco mais de atenção. - Ele se encolhe em meu colo.

- É difícil prestar atenção, mãe. - Ele murmura contra meu ombro. - Eu tento, mas é difícil. - Finalmente chego ao banheiro e o sento na vaso sanitário.

- Eu sei querido, mas você é muito desligado, olha só o resultado. - Falo procurando o merthiolate e os band-aids. - Como foi que você quebrou a estátua, mesmo?

Instantes [CONCLUÍDA - Lolla&Rebeka]Where stories live. Discover now