Sabine

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Um grande mestre dos jogos deve ser capaz de enxergar sete jogadas no futuro...

Filha de uma família sem qualquer prestígio, ela tivera a sorte de se casar com Gavin Warwick antes que qualquer outra garota no norte o fizesse. Não que ele fosse particularmente bonito ou rico, no entanto, para alguém como ela, ele era o par perfeito. A menina cigana errante se tornaria uma senhora, e ela faria qualquer coisa para garantir sua condição no futuro. Ela iria lidar com os poderosos, com os pobres, com quem estivesse em seu caminho. E assim ela fez. Os dias se tornaram meses, os meses se tornaram anos, os anos se tornaram décadas. A pequena Sabine se tornou mãe de Jane Warwick e posteriormente na vida, senhora viúva de Ravenspurn. Em seus anos como senhora do castelo, sentando-se ao lado do marido, muitos vieram buscar sua ajuda. Pois ela possuía algo que nenhuma outro senhora possuía: olhos e ouvidos em todos os lugares.

– Como deve ser do vosso conhecimento, meu filho Robbin está em campanha no norte, buscando o apoio de todos aqueles que um dia já foram leais ao nome dos York. – Caitriona principiou.

– Uma nobre missão, sem dúvida. Mas eu me pergunto se isso não tem relação com o fato de que sua pobre filha ainda vive como prisioneira de nossa rainha. – Sabine sondou.

– Circe Lancaster pode até ser sua rainha, senhora. Mas certamente não é minha. – Robbin sibilou.

– Tenha cuidado com suas palavras, rapaz. Você pode estar entre aliados, mas nem todos compartilham a sua raiva cega. – a mãe de Jane alertou.

– Mãe, por favor! Tenho certeza que o senhor York não quis ser desrespeitoso. Sua animosidade para com a rainha é certamente compreensível. – Jane interveio.

– Eu pretendo libertar minha irmã das masmorras da megera Lancaster, senhora Warwick. Nem que seja preciso começar uma guerra. Os homens de Ravenspurn atenderão ao chamado do senhor do norte? – Robbin foi incisivo.

Sabine estudou o rosto dele por um momento. Ele era corajoso, forte e quebrantado. Tudo de uma vez. Ela já havia visto homens como ele antes. Todos haviam morrido terrivelmente nas mãos de seus inimigos. Homens que fomentavam  guerras deveriam estar prontos para pagar o preço por isso. E Sabine Warwick não estava convencida que Robbin York estava preparado para fazê-lo. Não sozinho. Contudo, com alguém capaz a seu lado, ele poderia se tornar o governante justo que as pessoas no Ponente tanto ansiavam. E Sabine não conseguia pensar em ninguém melhor para o posto de rainha do que sua filha Jane.

– Cada soldado, arqueiro, ferreiro, cavalariço em meu comando servirá sob a bandeira da rosa branca. – Jane anunciou sem hesitar.

Jane, a inteligente deveria ser a alcunha dela. Mesmo quando criança, ela se mostrara mais inventiva que as outras crianças. Ela adorava ler e reler os livros com a história de Ponente, tanto quanto amava tiro com arco e equitação. Sua única falha, conforme sua mãe percebera, era o seu grande coração. Jane era incapaz de dizer não a quem quer que fosse. No entanto, ela teria que começar a fazê-lo muito rápido se quisesse sobreviver ao jogo perigoso da nobreza do reino.

E tal jogo era jogado desde o início dos tempos e continuaria a ser até que não houvesse nenhum jogador restante. Caitriona York sabia mover suas peças e Sabine Warwick não era nenhuma tola. Mesmo que todos em Ponente apenas vissem a senhora de Ravenspurn e o senhor de Inverness formando alianças e ampliando exércitos, a verdadeira ação estaria acontecendo por debaixo dos panos. No grande teatro do reino, o público somente enxergava  as marionetes, não os fios que as moviam. Era isso que Randolph, irmão de Sabine, sempre lhe dizia.

Após a morte de seus pais em um incêndio, Randolph e Sabine foram abandonados à própria sorte. O menino se tornara parte da intrincada teia de aranha que era a espionagem em Ponente. Sua missão era levar e trazer mensagens, ver sem ser visto, ouvir sem ser ouvido. A menina, por sua vez, explorava seus talentos cantando e lendo as mãos dos crédulos. Fora assim que conhecera o jovem Gavin. Enquanto seu irmão buscava informações na casa dos Warwick, ela encantara o herdeiro de Ravenspurn. Não muito tempo depois, a união entre eles fora celebrada e Jane viera ao mundo.

Ela havia feito tudo em seu poder para assegurar à sua filha uma vida melhor do que a sua, como qualquer mãe faria.  Ela ainda se lembrava do horror nos olhos do velho senhor Warwick quando Gavin anunciou seu noivado com ela, uma garota cigana. O que ele esperava naquela época? Que os Lancaster fossem escolher Gavin e não o príncipe? Seu sogro deveria ter se curvado e agradecido aos deuses por ainda existir alguém disposta a se casar com seu filho. Porém, tudo se invertera com a chegada de Jane, a pequena senhora do castelo. A nora odiada passara a ser bem tratada, a criança que antes mesmo de nascer era chamada de bastarda, passara a ser o centro das atenções.

Mas Sabine era mais do que esperta. Ninguém em Ravenspurn conseguia enganá-la, ela podia ver através das dissimulações, a bondade do pai de seu marido era um enorme engodo. O velho ainda a odiaria até os seus últimos dias. Ele havia feito coisas que ela não podia perdoar, não importava o quanto tentasse. As manchas escuras em seu passado haviam sido causadas por aquele homem horrível. E apesar de seus melhores esforços para esconder isso, a notícia se espalhou. 

Jane mal havia completado dez verões quando Sabine descobrira que estava grávida novamente. O que deveria ser uma bênção para o nome dos Warwick se tornou uma maldição. O bebê nascido depois de horas de dor em um inverno frio foi tirado dela. A parteira e suas ajudantes haviam lhe dito que o menino nascera morto, seria melhor para a mãe não ver seu filho em tais circunstâncias. Entretanto, ela ouvira o choro do pequeno ao ser afastado dela, ela sabia que ele vivia. Em seu leito de morte, o velho senhor Warwick lhe confessara a verdade: a criança nascida de Sabine não havia morrido. Seu filho estava vivo e sob os cuidados dos York em Inverness.

 Um novo amanhecerOnde as histórias ganham vida. Descobre agora