Prólogo.

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Gatilho: estupro, violência física, violência psicológica.

Quatro anos atrás, São Paulo.

As ruas de São Paulo pela madrugada geralmente são congeladas, é certo que às vezes o tempo fica abafado e com isso temos um clima frio mas ao mesmo tempo calorento. Mas hoje era um daqueles dias frios, pela tarde havia caído uma chuva e além do tempo estar frio as ruas também estavam alagadas.

Não era madrugada, era exatamente oito e quinze da noite, é, eu sei que não devia estar indo num horário desses pra parada de ônibus mas acontece que contava com a companhia da minha tia, que por acaso acabou bebendo de mais. Mas me contentei somente com minha companhia, eu era acostumada a andar por ali, as pessoas me conheciam, apesar de ser uma área em que havia concentração de tráfico ninguém sequer olhava pra você quando passava. Era um bairro civilizado, havia boas pessoas ali. Mas acontece que hoje todo mundo resolveu se esconder em suas casas, as vizinhas fofoqueiras não estavam na porta, as crianças não brincavam na rua e os traficantes não estavam pelos cantos vendendo suas ''mercadorias''. Estava tudo muito vazio e escuro.

Eu não estava com medo, ainda era cedo, e além do mais só tinha meu passe de ônibus comigo, o que me roubariam? Pelos meus cálculos em menos de dois minutos estaria na parada de ônibus.

Meus passos eram apressados, minhas mãos estavam metidas no bolso do moletom cor de rosa, meus cabelos soltos e a pulseira que minha mãe havia me dado brilhava ao ser refletida pelas luzes dos postes da rua extensa. E como estava frio, eu não derramava uma gota de suor.

Havia sido o aniversário da minha tia Joana, eu gostava de vim para a casa dela, havia meus primos, meu tio que era uma graça e o cachorro, Bruce. Gostava de conversar sobre moda e roupas com minhas duas primas e de jogar com meu primo mais velho, João. E como era aniversário dela teve muita bebedeira, ela até quis me acompanhar mas recusei, o estado dela era péssimo. Meu primo poderia me trazer, ou até mesmo meu tio, mas eles estavam em uma situação pior: dormindo completamente embriagados.

Não havia problema em ir sozinha, eu conhecia o caminho e andava rápido... talvez não tão rápido.

Eu tinha dezessete anos, era virgem e havia beijado somente uma vez na vida. Sim, eu era a típica garota santa e conservadora, mas eu também não me focava muito nisso, eu me focava nos meus estudos e no meu futuro. Queria poder dá uma vida boa para mamãe que me criou sozinha, é, meu pai lhe deu um pé na bunda após meu nascimento.

Eu nunca fui de reclamar da vida, ao contrário, todos os dias, após acordar, eu agradecia ao meu Deus pela dádiva de viver. Eu tinha uma família quase perfeita e unida, tinha ótimos amigos, boas notas, o apoio e amor de mamãe e uma vaga reservada na USP. Mas todos os meus sonhos e conquistas foram arrancados de mim... assim como minha inocência.

Eu estava quase próximo do ponto de ônibus quando uma viatura da polícia militar me abordou, era um homem, ele estava sozinho.

─ Tá vindo de onde? ─ ele quis saber com certa ignorância.

─ Capão Redondo, senhor ─ digo firme com minhas palavras.

Não estava conseguindo o ver direito, mas sabia que estava sozinho. Eu meio que congelei, mas sabia que estava limpa, sabia que não havia nada comigo. Ele então abriu a porta da viatura e saiu pegando um revólver e metendo na cintura. Ele era enorme e musculoso, tinhas cabelos cor de areia e olhos escuros como a noite.

─ Posso ver sua bolsa? ─ ele ergueu sua mão, seu olhar era lascivo e me causava uma repulsa. Sem mais delongas entreguei minha bolsinha pequena, ele a revirou e em seguida me encarou com seus olhos que me davam medo. Por um instante senti um frio na barriga imenso. ─ Vira, vou te revistar.

Meritíssimo [DEGUSTAÇÃO]Where stories live. Discover now