Capítulo II - O Salvador

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Depois do massacre e do sofrimento que passei, jamais esperaria que a sorte viesse para mim dessa maneira. Agora eu tinha um novo lar, um lugar que talvez muitos almejavam estar, porém, poucos teriam a oportunidade. A partir do momento que o príncipe Miles me salvou, eu virei moradora oficial do castelo de Ílac.

Para uma menina que só podia comer pão e sopa de legumes, hoje eu estava no céu. Muitos dias eu conseguia comer carne, o próprio príncipe havia autorizado que eu tivesse essa regalia. Minha felicidade só não era plena porque eu sofria com a lembrança da morte dos meus pais. A cena que eu presenciei me atormentava durante as noites. Vez ou outra eu acordava com meus próprios gritos. Era terrível.

Creio que estava sofrendo algum tipo de pânico, só de ouvir falar na guerra, meu sangue gelava. Parecia que as cenas brotavam na minha mente e eu não conseguia impedir.

As olheiras começaram a ficar notórias e, mesmo com a abundância de comida, eu não conseguia ingerir nada. Estava me tornando pele e osso, e isso não passou despercebido pelo príncipe Miles.

― Helena, o que você tem? – perguntou-me assim que entrou no meu pequeno quarto, que ficava junto aos aposentos dos demais funcionários do castelo. A feição de Miles parecia preocupada, ele me olhava como se quisesse decifrar o que estava acontecendo comigo, ao mesmo tempo que eu percebia a aflição dos seus olhos por não poder fazer mais por mim.

― Eu estou bem, Alteza – respondi, tentando esboçar um sorriso.

― Não sei porquê ainda tenta mentir para mim, Helena. É só olhar para você para saber que está péssima. Vai me contar ou vou ter que descobrir com meus próprios métodos? – ele parecia sério, mas eu já o conhecia para entender que aquilo era preocupação.

― Eu não estou conseguindo dormir... - sussurrei, envergonhada, abaixei a cabeça e desviei o olhar.

― Seus pais? – perguntou, recordando-se das vezes que eu já havia comentado com ele sobre o assunto.

―Sim... - respondi, levantando a mão para enxugar uma lágrima que caía. ― A cena deles sendo mortos continua me perturbando e eu sempre acho que alguém virá terminar o serviço que ficou faltando, ou seja, me matar – confessei, aflita.

― Não fique assim, Helena. Eu jamais deixaria alguém tocar em você! Você está protegida comigo. - Deu-me um sorriso complacente e colocou a mão sobre a minha, passando-me conforto.

Em meio aos dias de escuridão, Miles era o único que me trazia luz. Era o meu príncipe, o meu salvador. Toda vez que ele vinha me visitar, era o alívio para a minha alma. Meu fascínio, meu bem-estar.

Educado e respeitador, eu sabia que com ele estaria segura, o problema era justamente a quantidade de tempo que ele não estava comigo. Afinal, quem eu era no meio de todos ali? Uma plebeia resgatada, que teve a afeição e misericórdia do príncipe. Eu deveria ser grata por ele continuar sendo atencioso comigo, mesmo não me devendo nada, ele já tinha me dado de volta a vida e um novo lar.

Eu queria poder recompensá-lo por tudo que fez por mim. Eu o protegeria assim como ele fazia comigo.

― Eu vou precisar sair agora. Você ficará bem? – Miles perguntou-me, sua feição estava um pouco triste por partir.

― Para onde vai? – indaguei-o, sentindo uma angústia encher o meu coração.

O príncipe suspirou profundamente, passou as mãos por seu cabelo e se levantou. Vi uma leve carranca surgir no seu rosto, mas não era por minha culpa, algo assolava o seu coração.

― Vou para mais uma batalha. Rory está furioso desde que o seu pai morreu pelas mãos do meu em batalha. Medroc não vem poupando ninguém. E o pior de tudo, as mortes vêm sendo cada vez mais sádicas. Ele quer provocar, o problema disso é que todos nós estamos perdendo. Eles não conseguem perceber que as baixas são para os dois lados? Uma guerra estúpida para mostrar quem é o mais forte. Tudo isso a troco de nada, apenas sangue e destruição.

HelenaWhere stories live. Discover now