Helena

Capítulo VII - A rainha

Tive a doce ilusão que, após dar um fim em Luyni, tudo aconteceria rápido e instantâneo, conforme eu imaginava. Ledo engano.

Miles não poderia me assumir de uma hora para outra, os boatos correriam e eu seria vista como a amante que o rei resolveu desposar.

Tentei dizer a ele que não me importava com nada disso, mas deveria saber que ele não aceitaria. Devido a isso, demorou longos meses até que pudéssemos ser vistos publicamente juntos. Antes nos esgueirávamos pelos corredores do castelo, calando uma criada ou outra que nos via juntos.

Quando, segundo Miles, chegara a hora certa, começamos a fazer aparições públicas, porém sem contato íntimo. A proximidade gerou suspeitas e com elas, a adoração do povo. Uma rainha proveniente do berço pobre de Ílac havia se tornado mais louvável do que uma moça requintada das famílias nobres da sociedade. As pessoas me amavam e eu comecei a amá-las também. Por onde passava eu recebia o carinho dos cidadãos e era ovacionada, o que me fez perceber como eu gostava disso. Gostava do calor que os plebeus emanavam de suas vozes quando me viam pela carruagem, ou os olhos das crianças que brilhavam quando eu acenava para elas. As mulheres começaram a me imitar e os homens admiravam a minha beleza. Eu me tornei do povo de Ílac e eles se tornaram meus.

O meu coração sempre foi pequeno para amar, eu reservava-o para os meus pais, porém eles se foram. Depois disso depositei-o todo para Miles e achei que nada mais me faria lutar se não fosse por ele, entretanto, eu estava enganada. O povo tomava uma nova parte de mim e eu os amava. Talvez era isso que fazia com que Miles acordasse todos os dias e arriscasse a sua vida em batalhas, agora eu conseguia compreender. Portanto, uma coisa era certa, esse trono era destinado a ser meu muito mais do que eu havia pensado um dia.

*

O casamento foi lindo, eu sentia como se flutuasse em uma lenda imaginária. Era o meu maior sonho sendo concretizado. Todas as lutas, esperas e frustrações valeram a pena. Agora o Miles era somente meu.

Eu tive tudo o que uma pequena camponesa poderia imaginar em uma realidade alternativa. Não que eu fizesse questão disso, a única coisa que eu queria era mostrar ao mundo quem estava ao lado do rei. Entretanto, Miles fez questão que tudo estivesse perfeito até os mínimos detalhes. E a melhor parte de tudo? Ver o rosto impagável de Lynnete ao saber que quem teria que organizar tudo seria ela. Uma mera sugestão que eu havia feito ao meu amor, e ele não se opôs.

Depois que nos assumimos Miles não me poupou em nada, era como se ele quisesse compensar cada momento que vivemos separados. Ordenou que todos os criados deveriam me servir de agora em diante e que só ele estava acima de mim. Nunca almejei o poder, mas quando o tive em minhas mãos, senti uma sensação de magnitude incomparável. Era como se eu pudesse ter o domínio da minha própria vida, diferente das inseguranças que eu sentia na minha aldeia ou do medo da violação que me acarretou antes de Miles me salvar na guerra.

Não foi algo súbito, comecei a desfrutar disso aos poucos quando enganei algumas pessoas para chegar ao meu objetivo, ou quando senti o corpo de Luyni se desvanecer em minhas mãos. Entretanto, nada se comparava ao que senti quando a coroa foi posta em minha cabeça. Aquilo era real. Eu tinha o mundo aos meus pés e, para completar, o homem que eu queria ao meu lado.

Meus dias eram quase perfeitos, com exceção dos dias que Miles ia para a guerra. Nesses instantes uma angústia terrível me corroía, eu não conseguia dormir e os meus pesadelos voltavam. As imagens das pessoas morrendo ao meu redor assolavam a minha mente e eu passava o dia inteiro imaginando quantas famílias estariam sofrendo como eu sofri, ou pior, o que aconteceria comigo se algo acontecesse com Miles?

Esses eram os meus piores dias. Lynnete também aproveitava desses momentos para soltar as suas garras, porém as minhas eram sempre maiores, afinal, agora eu era a rainha e ela somente a mãe do irmão do meu marido.