Capítulo VI - A Morte

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Poucos dias depois, Miles já estava melhor e foi coroado Rei de Ílac. Meu orgulho não cabia em meu peito, ele estava tão lindo com aqueles trajes reais, a coroa cintilante na cabeça e o cajado na mão. Sua expressão séria aparentava-lhe ser mais velho do que ele era, impondo respeito a todos os presentes ali. Miles nunca foi um príncipe ausente, muito pelo contrário, por isso, não foi estranho para o povo quando ele assumiu o lugar do pai.

Eu ainda tinha uma faísca de esperança que, agora que ele era o detentor supremo de todo o poder, pudesse então desfazer o laço com sua noiva e correr para os meus braços. Porém, eu estava enganada. Ele era íntegro demais com suas promessas e, além disso, os homens da família de Luyni, após a morte do rei Hebert, estavam o pressionando ainda mais para que casassem logo.

O desapontamento era visível em seus olhos, muitos podiam não perceber, mas a cada dia que o cerco se fechava, Miles estava mais triste. Um certo dia ele me explicou que ser rei era como ter um falso poder, pois nunca a pessoa que o detinha poderia fazer o que realmente queria. Um líder abria mão da sua vontade por acordos vantajosos, deveria tomar atitudes pelo povo e se sacrificar pela paz. Ou seja, ele poderia ser o rei, mas isso não queria dizer que satisfaria os seus desejos.

Eu notava como os olhos de Miles mudavam ao olhar para mim, por mais que ele tentasse se esforçar em aproximar de Luyni. Contudo, é como se ela tivesse uma doença contagiosa, cada vez que ela se aproximava, o corpo de Miles se endurecia e ele fugia. Eu os observava, pois em muitos dos seus encontros eu estava presente por ser a dama de companhia dela. Com certeza Miles deveria ter se arrependido por ter me escolhido para tal cargo.

Eu não aguentava viver essa situação e ele, provavelmente, estava tão devastado quanto eu. Tentei pensar em mil alternativas para que pudéssemos ficar juntos, contudo, nenhuma parecia infalível o suficiente para sairmos ilesos. Ele não poderia romper com ela e convencê-la a isso também seria impossível. Quando Miles voltou para a guerra, eu tinha certeza que seja o que for que precisasse fazer, deveria ser durante esse tempo que ele estava fora.

*

― Você disse que se eu usasse esse perfume o Miles iria adorar! Por que então ele parecia me repelir cada vez que eu chegava perto dele? - Luyni me questionou, emburrada.

Durante o tempo que decidir fingir-me para ela, "ajudei-a" em várias coisas. Ela era sonsa demais para perceber que tudo o que eu dizia apenas a tornava mais estúpida.

― O rei é um cavalheiro. Ele provavelmente sentiu-se tentado perto da sua pessoa e preferiu recuar antes que ele tomasse uma atitude impensada antes do casamento - contornei a situação.

― Eu não me importaria se ele fizesse tal coisa. Nós vamos nos casar mesmo! - a garota afirmou, causando-me uma ânsia de vômito só com esse pensamento.

Tudo a minha volta parecia girar, eu não podia conceber esse fato. E se Miles resolvesse um dia investir em Luyni? Eles iriam se casar, era sábio da parte dele que tentasse se aproximar dela de uma vez por todas. Ele não poderia repeli-la por muito tempo.

Olhei para a garota com rancor. Ela se admirava no espelho, tentando desembaraçar os fios ruivos com os dedos. Eu não poderia permitir que ela tivesse o meu homem. Apenas o pensamento dos dois juntos me causava revolta. O Miles era meu, ele foi o meu anjo, o meu resgatador, ele quem me livrava dos pesadelos, com ele eu me sentia segura. Eu sabia que ele jamais me mandaria para fora novamente.

― Eu sei de um lugar que o Miles gosta e, provavelmente, se você levá-lo até lá, ele não resistirá - ofereci, sem querer pensar muito no impulso que eu estava tendo.

HelenaOù les histoires vivent. Découvrez maintenant