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Enquanto eu souber como amar,
Sei que permanecerei viva.
(I Will Survive - Gloria Gaynor)
Brittainy

Vimos o filme até o final, e estava tarde quando acabou. Comemos 80% da pizza, e aproveitamos nossa solidão para trocarmos alguns beijos de verdade. Quando ouvi o barulho do carro dele saindo, o do meu pai estacionou.

Timing perfeito, capitão. Ele entrou junto com a mamãe, ela estava com alguns cortes na cabeça suturados, e andando com dificuldade.

—O que aconteceu? — perguntei preocupada

—Se você estivesse com o celular ligado, saberia a tempo de ir fazer companhia à ela no hospital. — meu pai disse, irritado. — Sério Brittainy, eu te amo muito, mas do jeito que você está, não vai dar. Você nunca fica em casa, e quando fica... — interrompi a fala dele com a minha inevitável risada amarga. Tudo bem, ele tem todo o direito de ficar bravo pelo meu celular estar descarregado, mas dizer que eu nunca fico em casa?

—Eu nunca fico em casa? É sério isso? Eu passo o dia inteiro em casa, sozinha, deixada ao Deus dará, mas um único dia que eu resolvo ver um filme com o celular desligado me transforma na ovelha negra?

—Sua mãe sofreu um acidente, Brittainy, tenha respeito. — meu pai disse ríspido

—Você está bem, mãe? — perguntei preocupada. Ela parecia abatida.

—Sim, estou ótima. Podem continuar conversando, eu vou para o quarto. Por favor, não se machuquem. — pediu, e subiu as escadas.

Meu pai apontou pra ela.

—Ela é sua mãe, Brittainy...

—Eu errei tá bom? Errei e admito! Mas como eu ia saber que ela ia sofrer um acidente?

—Se você estivesse com o celular ligado, saberia que ela sofreu um. Ela ficou preocupada com você no hospital, e ela não podia se preocupar.

—Você está tentando jogar nas minhas costas uma culpa que não é minha.

—Custava atender o celular? — ele se exaltou.

—Eu já disse que ele estava desligado, porque eu estava vendo um filme, tá legal? Se eu soubesse, teria ido a pé pra lá, mas em um momento, um único momento que eu me desconecto do mundo para curtir um filme com alguém, uma fatalidade acontece. Eu não posso controlar tudo!

—Com alguém? Quem estava vendo um filme com você? — acusou

—Alguém que se importa comigo o dia todo, e não só quando precisa de mim! Eu sei que vocês me amam, mas amar e importar são verbos diferentes. Vocês me largam em casa sozinha, nunca me ajudam a fazer o dever de casa, nunca perguntam se estou bem a não ser quando eu chego do hospital depois de quase ter morrido do problema que for, nem mesmo se preocupam em ir à um jogo meu ou comparecer a uma reunião de pais na escola. Eu não lembro nem a última vez que vocês quiseram fazer uma atividade comigo, ou sequer perguntaram se eu estava feliz. Eu sinto muito se não sou a filha que vocês desejam. — dito isso, subi para o meu quarto e me joguei na cama, não conseguindo controlar as lágrimas.

Liguei o celular e o atirei na poltrona. Sons de mensagem pipocaram, mas só criei coragem para pegar o aparelho quando me acalmei um pouco.

"Ei irmãzinha, estou indo para Lincoln ficar com você um pouco. É seu último ano na escola e percebi que não te vi jogar mais que poucos jogos, mas vi que você criou um projeto legal, quero saber mais sobre ele. Chego perto das 22:00, espero que tenha sorvete em casa!" do Sebastian, foi a única que li.

Amor em Jardas - Série Endzone - Livro 1Where stories live. Discover now