Capítulo 17 - Bicicleta

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Por alguns segundos analisando aquela cena de longe, senti vontade de não me aproximar e atrapalhar o momento da minha amiga. Nós não sabíamos do que se tratava a conversa, poderia ir de algo simples até algo sobre o relacionamento que haviam tido no passado.

Gabriel pareceu entender a minha hesitação em caminhar e parou ao meu lado, oferecendo-me o copo.

— Prometo que se beber calmamente e sem pressa não ficará embriagada. — Prometeu. — E se ficar eu cuido de você.

Assento e beberiquei o líquido amargo e ao mesmo tempo cítrico. A minha careta fez com que meu mais novo amigo desse risada de mim.

Não demorou para que Pedro se aproximasse com seu cabelo um tanto tampado por conta do boné que utilizava. Ele estava sorridente demais, mais do que o habitual.

— Ei mocinha, você demorou. — Falou alto.

— Oi. — Me encolhi ao lado de Gabriel, tentando sair da zona do mal hálito de seu amigo.

— Aquela sua amiga não vem? — Perguntou interessado, como se buscasse alguém com os olhos. — A Thais?

Dei de ombros, eu realmente não sabia se ela viria.

— Acho que esqueci de convidar. — Gabriel contou.

Revirei os olhos e o senti se aproximar.

— Não fique brava comigo. — Cochichou no meu ouvido. — Pelo menos lembrei de você.

De alguma forma o tom da sua voz no meu ouvido fez com que meus pelos se arrepiassem. Havia algo diferente na forma como estava agindo comigo.

E quem sabe, após aquele pequeno copo de bebida, que eu já não estava tão acostumada a ingerir álcool — nenhum pouco na verdade — eu o estivesse vendo de uma maneira diferente.

Desde o início dos quatro rapazes que eu havia conhecido, ele fora o único que chamou a minha atenção. Talvez pela pele morena, o cabelo raspado, a maneira de sorrir, o jeito esportista.

— Você chegou! — Berrou Angélica, fazendo com que eu saísse do transe em que me encontrava.

Ela passou os braços em volta do meu corpo em um abraço e deixou um beijo estalado em minha bochecha. Agradeci mentalmente o fato de ela ainda não ter entrado na piscina e estar seca.

— Estávamos esperando o grande beijo do casal, na verdade. — Gabriel falou ao meu lado, recebendo uma pequena cotovelada minha em sua costela. — Doeu.

Angélica passou os olhos por Henrique que esboçou um sorriso sem graça para ela.

Estava sentada em um pequeno sofá que havia em uma área perto da piscina. Gabriel estava sentado do meu lado esquerdo e Angélica do meu lado Direito. Henrique havia levantado para buscar mais bebidas. Pedro sentou-se em uma cadeira de madeira que ficava do outro lado da mesinha que estava em nossa frente.

Senti dedos tocarem a minha coxa de uma forma silenciosa. Olhei rapidamente para Gabriel que estava começando a se empolgar ao meu lado. Talvez o meu olhar tenha atraído o da minha amiga que focou os olhos na mão dele.

— O que é isso? — Cochichou em meu ouvido. — Por que ele está tocando você?

— Porque bebeu demais. — Respondi.

Talvez essa não era a forma que eu estava esperando das coisas acontecerem para mim. Em momento algum desejei estar em uma festa com um cara que havia bebido demais e que parecia estar me desejando de certa forma.

Meu cérebro não estava me liberando para relaxar, muito pelo contrário, cada toque seu em minha coxa me fazia sentir um pinguinho de raiva.

Vale ressaltar que meu pensamento estava longe. Olhei atentamente o celular na tentativa de que algo pudesse me salvar daquela situação. E havia uma luz ali. Uma luz identificando Júlio.

"Estive pensando... Sei que está super tarde, mas você aceitaria sair para fazer um lanche comigo? Estou precisando conversar."

Júlio

Sorri com sua mensagem e olhei em volta, encarei minha amiga que agora conversava com seu ex-namorado que havia sentado ao seu lado. Seria loucura minha deixá-la ali?

— Você se importaria se eu fosse embora? — Perguntei a ela como um sussurro, para que ninguém ali escutasse.

— Já? — Perguntou preocupada.

— Preciso ver um alguém. — Respondi.

Angélica uniu as duas sobrancelhas em sinal de estranheza. Talvez na sua cabeça se passasse algo como eu estar interessada em Gabriel, e eu até me encontrava pensando nisso há alguns dias.

"Apenas se você conseguisse me buscar em um endereço. Estou em uma festa e louca para sair daqui."

Beatriz

Meus pensamentos ficaram longe enquanto nenhuma mensagem chegava até mim. O que me incomodava era que provavelmente ele já havia lido e talvez houvesse desistido de sairmos para jantar.

Gabriel se aproximou aos poucos. O sentido não era a minha boca e sem minha orelha.

— O que acha de sairmos daqui? — Perguntou com a voz arrastada por conta da bebida.

— Eu já estou indo embora. — Respondi. — Deixamos para a próxima.

— Tem certeza que vai desperdiçar essa chance? — Perguntou mudando seu tom de voz como se tentasse me impressionar.

Era engraçado como as pessoas mudam quando bebem. Gabriel nunca havia me tratado daquela forma até então. Me sentia incomodada com a forma que utilizava as palavras, seu tom de voz e como me tocava.

— Infelizmente hoje irei desperdiçar essa chance. — Minha voz estava carregada de ironia.

"Se você aceitar uma carona na garupa da minha bicicleta, estarei aí o mais rápido possível."

Júlio

Não pude conter o sorriso ao ler sua mensagem.

"Com certeza tudo que mais quero agora é dar uma volta na garupa da sua bicicleta. Segue o endereço."

Beatriz

Contava os minutos para sair daquela festa. Minha amiga já estava bastante animada em uma conversa com Henrique e eu não precisaria me preocupar em deixá-la ali.

Despistei Gabriel falando que precisava ir ao banheiro e me deparei sentada na calçada. Ali fora tudo parecia mais calmo, da forma que eu mais gostava.

Não sei ao certo o motivo pelo qual apenas não disse um boa noite e avisei que estava indo para casa. Era como se a minha voz falhasse se eu dissesse que seria a minha hora de partir. Como se eu tivesse medo de sua reação. Eu não o conhecia direito, mal sabia até que ponto poderia chegar.

Quando O Seu Coração Chamar | TEMPORADA 01Donde viven las historias. Descúbrelo ahora