Capítulo 18 - Nova turma

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Acredito que nós temos total direito de escolher o que queremos em nossas vidas e quem queremos que permaneça nela. Infelizmente, nem sempre cabe a nós essa decisão. Muitas vezes a vida se encarrega de afastar aqueles que de certa forma não devem ficar. Entendo que também somos responsáveis pelas vezes que deixamos as pessoas irem embora, apesar de querermos-as em nossas vidas.

Sentada na calçada, enquanto aguardava a chegada de Júlio a única coisa que se passava em minha cabeça era que apesar do tempo ser pouco e de nos conhecermos há poucos dias, havia algo nele que me fazia ter certeza que é uma das pessoas que desejo que permaneça em minha vida.

Olhando para o lado, precisamente para o fim da rua, analisei distante alguém em cima de uma bicicleta pedalando freneticamente. Talvez houvesse se passado uns trinta minutos desde que eu houvera conversado com Júlio por mensagem. E lá estava ele, com a língua fora da boca, pedalando em pé na tentativa de que chegasse mais rápido.

Sorri ao ver seu cansaço e sua pressa em chegar.

— Você é louco em vir até aqui de bicicleta. — Falei rindo ao depositar um beijo estalado em sua bochecha.

— Estou com muita vontade de comer um lanche. — Contou, intercalando as palavras com sua respiração na tentativa de recuperar o fôlego.

— Ah, você quer muito comer um lanche? — Perguntei irônica. — E precisava vir até aqui?

Ele sorriu envergonhado e desviou o olhar do meu. Encarou suas mãos que seguravam a bicicleta e subiu em cima da mesma.

— Está pronta para o nosso passeio em meu veículo? — Perguntou de forma engraçada, como se tivesse utilizado uma forma diferente para pronunciar a frase.

Respirei fundo e apenas balancei a cabeça positivamente. Me posicionei na garupa da bicicleta e passei os braços em volta da sua barriga.

Um fato sobre mim era que eu era péssima andando de bicicleta, então, agradeci mentalmente por não ser eu a ciclista naquele momento. Júlio tentou da melhor forma equilibrar a bicicleta e assim seguimos nosso caminho para o lanche.

Por sorte morávamos em uma região em que as ruas eram bastantes iluminadas. Haviam postes ligados dos dois lados, iluminando toda a nossa passagem na ciclovia. Aos poucos, enquanto ele pedalava a incansável estrada, gotinhas geladas de chuva passavam a cair.

— Chegaremos em poucos minutos. — Gritou, mesmo sabendo que estávamos sozinhos na rua e não fazia barulho algum em volta.

— Eu gosto de chuva. — Gritei de volta, apenas para correspondê-lo da mesma forma.

Quando a chuva passou a engrossar, me vi feliz ao perceber que Júlio diminuía o ritmo da pedalada e passara a encostar a bicicleta em uma lanchonete. Corremos para dentro onde fomos recepcionados com vários olhos atentos a nossa chegada.

Haviam alguns meninos no fim da lanchonete. Todos os cinco encontravam-se com grandes copos de refrigerante e lanches monstruosos a sua frente, sem contar nas duas porções de batatas que haviam ali. Assim que notaram nossa presença, levantaram os braços e sinalizaram para que fôssemos até lá.

Seus rostos pareciam familiar, provavelmente os meninos que estavam no parque no dia em que andavam de skate.

— E aí cara, trouxe a namorada para comer um lanche conosco? — Um menino moreno, o mais alto de todos eles perguntou.

Todos me analisavam dos pés a cabeça. Não havia muito em suas feições, não era possível dizer se estavam gostando do que estavam vendo, pareciam indiferentes.

— Essa é a Brenda, e é apenas uma amiga que veio fazer um lanche comigo. — Apresentou-me. — Esse é o Miguel, o Leonardo, o Michael, Adriano e Alex.

Miguel era o moreno alto que havia se pronunciado bastante, seu cabelo era bastante atraente uma vez que havia aderido o black power. Leonardo era ruivo cheio de sardas pelo rosto inteiro, com uma pele clara que as deixava ainda mais amostra. Michael era o menor, quem sabe fosse do meu tamanho, cabelo preto penteado para trás como se ainda utilizasse um penteado antigo. Adriano parecia-me ser o mais traiçoeiro de todos os cinco, havia algo em seu olhar, a forma como o sorriso estava esboçado de lado, como se tentasse ler a minha alma e achava engraçado meu constrangimento. Seu cabelo era escuro como o de Michael, mas estava bagunçado propositalmente. E por fim havia Alex, o mais quieto de todos, olhou por alguns segundos para mim e voltou sua atenção para o seu lanche.

Estava me sentindo um pouco intimidada e provavelmente teria que me adaptar a aquilo, já que Júlio puxou uma cadeira para que eu me sentasse lá mesmo e assim fez ao meu lado.

— Ahhh, olhando para seu cabelo. — Adriano iniciou falando como se tentasse lembrar de algo. — Você é a algodão doce.

Todos riram na mesa com a sua lembrança e encararam Júlio ao meu lado.

— Quer dizer que você fala de mim para os seus amigos? — Perguntei sorridente.

— Algumas coisas é inevitável não comentar. — Respondeu sorrindo.

Não estava lá com muita fome para pedir um lanche igual os deles, então me contentei com um simples e petisquei algumas batatas que estavam no centro da mesa.

— Sabe o que eu acabei de perceber? — Alex falou de repente.

— O que? — Leonardo voltou sua atenção toda, deixando o lanche parado no meio do caminho onde ia de encontro a sua boca.

— É a primeira vez em anos que temos uma menina entre nós lanchando aqui. — Comentou impressionado com seu raciocínio.

Havia um sentimento de satisfação em meu coração. Era como se estar ali fazendo parte daquele grupo seja por alguns minutos aquecesse meu coração. Como se o fato de falarem de mim, e se surpreenderem por eu estar ali, fosse algo positivo naquela noite.

— Acho que posso me acostumar com isso. — Miguel concluiu dando de ombros.

Se os meninos fossem daquela maneira que estavam agindo, eu com certeza conseguiria me acostumar com noites como aquela, quem sabe até, pudesse trazer as meninas para participarem de nossos possíveis futuros encontros.

Ah, eu já estava fazendo planos.

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⏰ Last updated: Jul 31, 2022 ⏰

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Quando O Seu Coração Chamar | TEMPORADA 01Where stories live. Discover now